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    Lava Jato

    Zelada é denunciado sob suspeita de desvio em contrato da P-50

    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    22/11/2016 10h58

    Mauro Pimentel - 2.jul.2015/Folhapress
    O ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada, quando foi preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato
    O ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada, quando foi preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato

    O Ministério Público Federal no Rio denunciou o ex-diretor da área internacional da Petrobras Jorge Luis Zelada sob acusação de lavagem de dinheiro e corrupção passiva por supostamente ter recebido dinheiro por fora em uma negociação entre a estatal e o estaleiro Jurong, de Cingapura.

    De acordo com a Procuradoria, Zelada recebeu US$ 3,3 milhões por ter ajudado a Jurong a conseguir um aditivo no contrato de conversão de um navio na plataforma P-50, em 2006.

    Zelada está preso desde julho de 2015 pela Lava Jato. Em fevereiro deste ano, o juiz Sergio Moro o condenou a 12 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, referente a desvios em contrato para a construção de navio sonda da SBM.

    A Procuradoria encontrou indícios de que Zelada atuou em mais um caso. De acordo com a denúncia, Zelada recebeu dinheiro para passar informações privilegiadas à Jurong.

    Isso teria ocorrido por meio de dois representantes comerciais contratados pelo representante da Jurong no Brasil.

    Júlio Faermann e Luis Eduardo da Silva, dupla suspeita de envolvimento no esquema da SBM, pegou, segundo a investigação, informações privilegiadas com Zelada e repassado ao representante da Jurong no Brasil.

    Ana Carolina Fernandes - 21.abr.2006/Folhapress
    Navio-plataforma P-50 da Petrobras, na Bacia de Campos
    Navio-plataforma P-50 da Petrobras, na Bacia de Campos

    Mais adiante, depois de receber pelo serviço de consultoria, a dupla repassou parte dos ganhos ao diretor da Petrobras. Faerman e Silva, atualmente colaboradores da Lava Jato, também foram denunciados por corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

    HISTÓRICO

    Em 2006, a Petrobras e a Jurong divergiam sobre um aditivo em contrato da conversão de um navio na plataforma P-50.

    A Petrobras cobrava do estaleiro multa pelo atraso na entrega e pedia uma reformulação do contrato, com redução de valores.

    A Jurong, por meio de seu representante comercial no Brasil, tentava fechar um aditivo, pedindo extensão do prazo, mudanças no contrato e alegando perdas em função da variação cambial e de greves no estaleiro.

    Divergência entre as partes é algo comum no setor do petróleo. A Petrobras pressionava para que o aditivo fosse menor, enquanto a Jurong pedia valor maior.

    O representante recebeu ajuda de outros dois agentes, no caso Julio Faerman e Luiz Eduardo da Silva. Eles forneceram informações que foram suficientes para que as partes fechassem um aditivo de US$ 67,5 milhões.

    De acordo com o Ministério Público, foi Zelada quem forneceu as informações privilegiadas à dupla, que as repassou à Jurong. Os dados foram determinantes para que o aditivo fosse ganho pela empresa de Cingapura.

    Os procuradores descobriram também evidências de que a dupla, depois de receber pelo serviço de consultoria (aparentemente legal) prestado à Jurong, repassou parte dos ganhos à Zelada em uma conta na Suíça.

    A Folha apurou que as investigações apontaram que nem a Jurong nem seu representante comercial no Brasil sabiam que a dupla e Zelada se comunicavam secretamente. O estaleiro e seu representante não foram denunciados.

    A conta utilizada estaria no nome de uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas. Os investigadores descobriram a movimentação porque foi a mesma conta usada por Zelada em outras transações já investigadas.

    O caso foi descoberto por conta da colaboração premiada de Faerman e Silva, atualmente em liberdade, no âmbito da Lava Jato. As informações foram compartilhadas com a Procuradoria no Rio.

    A denúncia agora segue para a Justiça Federal. O crime de corrupção passiva prevê pena de prisão de 2 a 12 anos. Já a lavagem de dinheiro pode render pena de 3 a 10 anos.

    A Folha ainda não conseguiu contato com a defesa de Zelada.

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