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    Renda de ex-secretário de Cabral cresceu em eleição

    ITALO NOGUEIRA
    DO RIO

    23/11/2016 02h00

    Gisele Pimenta/FramePhoto/Folhapress
    Wilson Carlos Cordeiro, ex-secretário de governo do Rio, preso na Operação Calicute, deixa o IML de Curitiba após exame de corpo de delito
    Wilson Carlos Cordeiro, ex-secretário de governo do Rio, preso na Operação Calicute

    O ex-secretário de Governo do Rio Wilson Carlos, apontado pelo Ministério Público Federal como operador da propina paga ao grupo comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), apresentou aumentos expressivos em sua renda nos anos de campanha eleitoral.

    Nos anos de 2010 e 2014, o ex-secretário mais do que dobrou sua renda real em relação aos anos imediatamente anteriores. O ganho se deve a repasses do comitê de campanha do PMDB e de empresas contratadas pela sigla.

    A suspeita de investigadores é de que Carlos tenha lavado parte do dinheiro da propina por meio das campanhas de Cabral à reeleição e do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).

    De acordo com o MPF, o operador era responsável por comunicar a exigência de propina aos executivos de empreiteiras, bem como controlar o pagamento e solucionar eventuais problemas.

    Em 2010, Carlos recebeu R$ 300 mil do comitê de campanha para a reeleição de Cabral, que durou quatro meses –uma remuneração mensal de cerca de R$ 75 mil.

    Ex-secretário de Cabral teve teve 'picos de ganho' em ano eleitoral

    O valor obtido junto ao PMDB supera a renda real de todos os anos anteriores, quando ocupou o cargo de secretário. Ele era o coordenador da campanha.

    Em 2014, Wilson Carlos recebeu R$ 466 mil da produtora Cara de Cão, ano em que era responsável pelo programa de TV de Pezão. Naquela ocasião, sua participação foi discreta. Em depoimento à Polícia Federal, afirmou que atuou na "área logística" da campanha do PMDB.

    A suspeita de lavagem de dinheiro é reforçada pelo fato de que em 2006, quando também coordenou a primeira campanha de Cabral ao governo estadual, Carlos não recebeu qualquer recurso.

    Naquele período, sua renda vinha do Senado Federal, onde era nomeado no gabinete do peemedebista.

    De acordo com a procuradoria, o esquema de propina de Cabral começou em 2007.

    GASTOS

    O ex-secretário foi o que mais chamou a atenção de investigadores no volume de gastos incompatíveis com a renda. Ele e a mulher, Mônica Araújo, gastaram média de R$ 228 mil por ano desde 2007 no cartão de crédito, por vezes superior à renda dos dois.

    Há indícios de despesas pagas em dinheiro vivo, como a blindagem de um veículo e poltrona de massagem.

    O casal frequentava uma das casas no luxuoso condomínio Portobello, em Mangaratiba, onde Cabral também passava os fins de semana. Em depoimento, disse que não era dono da casa, mas a alugava por R$ 4.000 mensais de 2009 a março de 2015.

    "Não obstante, não foi localizado na busca e apreensão documento comprobatório do mencionado contrato de aluguel. Além disso, o valor pago a título de aluguel seria incompatível com o padrão luxuoso do imóvel, avaliado em cerca de R$ 6 milhões, e para quem, segundo declarado pelo próprio investigado, estaria desempregado desde abril de 2014, com a sua saída do governo do Estado", disse o juiz Sérgio Moro, em decisão que converteu a prisão de Carlos de temporária para preventiva.

    Em seu depoimento, Wilson Carlos negou ter tratado de propinas com Cabral ou executivos de empreiteiras. O ex-secretário declarou estar desempregado desde 2014 "à procura de recolocação no mercado de trabalho".

    O juiz Marcelo Bretas renovou por mais cinco dias a prisão temporária do empresário Paulo Fernando Magalhães Pinto, apontado pelo MPF como o "testa de ferro" de Cabral.

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