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    Análise

    Permanência de Geddel no governo torna-se inexplicável

    LEANDRO COLON
    DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

    23/11/2016 07h50

    Ueslei Marcelino - 22.nov.2016/Reuters
    O titular da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, aliado do presidente Michel Temer
    O titular da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, aliado do presidente Michel Temer

    Tornou-se inexplicável a resistência do presidente Michel Temer em demitir o ministro Geddel Vieira Lima da Secretaria de Governo após as novas revelações sobre o processo do empreendimento imobiliário La Vue Ladeira da Barra, em área tombada de Salvador.

    Reportagem da Folha nesta quarta (23) revela que um sobrinho de Geddel –filho de seu irmão e deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA)– e um primo do ministro receberam procuração para representar os interesses do projeto no processo que tramita no Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

    Sabia-se até agora que Geddel havia adquirido um apartamento no complexo. Na condição de ministro de Estado, procurou Marcelo Calero, então ministro da Cultura, para reclamar da postura do Iphan, que embargou a construção.

    Segundo contou Calero à Folha, Geddel o pressionou e ameaçou inclusive levar o caso a Michel Temer.

    Geddel admitiu a conversa. Na cabeça do ministro (e de seus aliados), ele tem "legitimidade" para tratar de um assunto pessoal com o ministro da Cultura –um privilégio que nenhum outro cidadão teria em um caso semelhante.

    Descobre-se pela reportagem de João Pedro Pitombo e Matheus Magenta que parentes do ministro representam o prédio e outros também compraram imóvel no local. É a família Vieira Lima envolvida até o pescoço em um tema privado tratado nos gabinetes da Esplanada.

    Em tempos de Lava Jato, em que a credibilidade dos políticos está em ruínas e a crença na punição deles cresce na sociedade, o episódio de Salvador não pode ser considerado um mero deslize. É grave.

    Não estamos diante de "espuma", como declarou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o deputado que articula uma gambiarra jurídica para se reeleger em fevereiro.

    E não houve "interpretação indevida", conforme afirmou Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado e alvo de 12 inquéritos da Lava Jato, para defender Geddel.

    Em uma nota, líderes partidários elogiaram a postura dele na condução dos temas do governo no Congresso. E as denúncias envolvendo o ministro? "É uma questão paroquial", declarou o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM).

    Que os parlamentares se desconectaram da realidade do país não há dúvidas. Ainda há tempo para o presidente Michel Temer, no posto há pouco mais de seis meses, tentar demonstrar que não seguiu o mesmo caminho.

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