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    'Lula é nosso candidato para 2018, não temos um plano B', diz Rui Falcão

    FÁBIO ZANINI
    EDITOR DE "PODER"

    04/12/2016 02h00

    Marlene Bergamo - 10.mar.2016/Folhapress
    Rui Falcão, presidente do PT, dá entrevista em São Paulo
    Rui Falcão, presidente do PT, dá entrevista em São Paulo

    O presidente nacional do PT, Rui Falcão, 73, diz que o partido não tem plano B para uma candidatura presidencial em 2018 que não seja a de Luiz Inácio Lula da Silva.

    "Quem pensa em plano B descarta o plano A", diz Falcão, que rejeita apoio a outro nome de esquerda, como Ciro Gomes (PDT).

    Falcão, que deixará o cargo em abril de 2017, defende Lula para o comando do PT.

    Em 2016, o PT viveu um dos piores momentos desde sua fundação, em 1980. Sofreu um impeachment que o apeou da Presidência, perdeu 61% das prefeituras que governava, viu dirigentes serem presos e o próprio Lula virar réu na Lava Jato.

    Falcão reconhece alguns erros, mas atribui a sucessão de infortúnios a um "processo de perseguição" ao partido –no qual o juiz Sergio Moro teria papel proeminente.

    *

    Folha - 2016 foi o pior ano da história do PT?
    Rui Falcão - Nós fomos vítimas de um processo de perseguição. Tivemos a prisão ou condução coercitiva de dois ex-ministros [Antônio Palocci e Guido Mantega, a prisão de um ex-tesoureiro [Paulo Ferreira ] e a transformação do Lula em réu. Tudo isso, além das dificuldades que as prefeituras no país tiveram, contribuiu para uma derrota eleitoral muito grande.

    E os erros? Às vezes, parece que nos balanços a autocrítica fica em segundo plano.
    Temos sido atacados mais pelas nossas virtudes que pelos nossos erros. Temos um legado de transformações do país, de ascensão de 40 milhões de pessoas. O Brasil saiu do mapa da fome, passou a ser respeitado internacionalmente.

    O principal erro é nós termos esquecido que toda vez que há um grande avanço das forças populares, as classes dominantes querem deter isso. A democracia radicalizada é disfuncional para o capitalismo. Outro erro é que, para chegar ao governo, tivemos de recorrer ao financiamento empresarial, que era a regra do jogo.

    Quem errou no partido?
    São pessoas que estão sendo julgadas. Não vou fazer juízo de valor, porque isso pode prejudicar o direito de defesa.

    Palocci, por exemplo?
    Palocci está sendo acusado e não há nenhum condenação em relação a ele.

    José Dirceu?
    Até que seja julgado em última instância, é inocente.

    E há o peso do desastre econômico, não?
    Há uma ideia de que o país quebrou por conta do gasto que o nosso governo promoveu. O que cresceu efetivamente nos governos Lula e Dilma e particularmente em 2015? Os benefícios sociais. Aumento de salário mínimo, benefício para os idosos, Previdência rural. Enquanto esse tipo de despesa crescia, a arrecadação caía, por causa dos efeitos da crise mundial.

    E ao mesmo tempo o excesso de desonerações, que eram feitas para evitar o aumento do desemprego e para fazer a retomada do crescimento.

    Essa política provocou a maior recessão da história.
    [Irônico] Recessão que ia ser contida com a deposição dela [Dilma] e que só tem aumentado, ameaçando levar o país hoje a uma depressão.

    Sim, mas as sementes todas são do governo petista.
    Mas para que era feita a deposição dela? Para repor a economia nos trilhos. Ao contrário, a economia está indo cada vez pior.

    Se Dilma tivesse sido mantida a situação seria hoje melhor?
    Pelo menos você não teria essa instabilidade política brutal que resulta de um governo ilegítimo e usurpador. Nenhuma política econômica é bem sucedida se não tem legitimidade das urnas.

    O PT vai perder filiados?
    O PT, mesmo com todas as perdas em sua imagem, continua a ser o partido de preferência nacional. As pesquisas falam em 13% e os demais estão na faixa de 6%, 7%.

    Claro que chegamos a ter 32% no auge da popularidade do Lula. E ele ainda é o candidato mais competitivo em 2018. Eu não tenho visto nas conversas com deputados e senadores nenhuma manifestação de debandada. Acho que o processo de debate que se faz, as propostas de retificação, de revisão de política, o próprio fato de o Lula poder vir a presidir o PT...

    O sr. é a favor?
    Sou a favor, tenho defendido isso. Espero que a gente o convença dessa necessidade.

    Ele é réu. Para um partido que está querendo virar a página, não é um pouco contraditório?
    Réu não é condenado.

    Pelo histórico do juiz Sergio Moro, a chance de ele ser condenado é muito grande...
    Isso é outra afirmação que mostra a inversão da justiça.

    Moro tem condenado quase todo mundo.
    Ninguém pode ser condenado sem prova.

    O sr. defende Lula candidato a presidente em 2018?
    É uma exigência nacional, não só do PT, mas daqueles que veem nele um líder.

    Existe a possibilidade concreta de ele estar inelegível.
    Essa presunção de culpa é um dos motivos de tentarem deter a candidatura dele.

    Qual é o plano B?
    Não tem. Só trabalhamos com plano A. Quem pensa em plano B descarta o plano A.

    Apoiar o Ciro Gomes seria uma possibilidade?
    Defendo que nosso candidato em 2018 seja Luiz Inácio Lula da Silva. Não significa que a gente não tenha diálogo com outros partidos.

    O PT não vai deixar de ter candidato a presidente, então?
    Na minha opinião, não.

    O governo Temer chega ao fim?
    Eu acho que ele deveria renunciar imediatamente.

    Ele não vai fazer isso.
    Se ele tivesse um mínimo de preocupação em como vai passar para a história além de usurpador, golpista e traidor, deveria renunciar.

    Fizeram uma aposta de alto risco, que foi depor um governo eleito e promover um ajuste de acordo com seus interesses. Esse processo está se frustrando. Muitos analistas políticos têm especulado quem seria o sucessor. Teve o artigo do [Xico] Graziano propondo Fernando Henrique.

    O que o sr. achou?
    Depois que eles deram o golpe dessa maneira, tudo é possível.

    O PT é contra a Lava Jato?
    O PT é contra a Lava Jato ser utilizada como instrumento de proscrição de um partido e uma liderança. Não é contra o combate à corrupção.

    A Lava Jato não pode se realizar à margem da lei. Vários descaminhos têm sido cometidos: a condução coercitiva do Lula, a gravação ilegal e divulgação [de conversa com Dilma], as prisões preventivas desnecessárias e excessivas. Isso condenamos.

    O Moro deveria se afastar da Lava Jato?
    Deveria se considerar suspeito em relação ao Lula, porque tem antecipado intenções de condenar sem prova.

    Isso é abuso de autoridade?
    Com certeza.

    Por isso que o PT defende a lei de abuso de autoridade?
    Não. O PT foi contra algumas das medidas de combate à corrupção, como restrição a habeas corpus, acatar provas obtidas ilegalmente como válidas ou estimular o crescimento dos alcaguetes no país.

    Estou de acordo que você não pode punir um juiz ou promotor por ter uma decisão reformada por instância superior. Agora, sou a favor que todos os cidadãos tenham responsabilidade no cumprimento de seus mandatos. E isso exige punição quando essa responsabilidade é posta de lado.

    Mas esse é o momento?
    Quem propiciou o momento foram os que promoveram as medidas. Quando você tem fatos repetidos de abuso de autoridade, você precisa atualizar a legislação.

    O PT se orgulha de dizer que no seu governo a PF ganhou poder, que não teve engavetador-geral da República. Foram 13 anos louvando essa condição. Agora que o PT saiu do poder quer cortar as asas dessas instituições?
    Esses instrumentos estão sendo usados de forma política justamente para condenar aqueles que os criaram. Tem uma seletividade na ação. Ninguém está propondo tirar autonomia do Ministério Público, cercear o Judiciário. Queremos conter abusos.

    Fica parecendo que vocês só perceberam que tinha abuso quando chegou no Lula.
    Efetivamente esses abusos se dirigiram de forma mais contundente contra nós. Justiça e Ministério Público não podem ter ação parcial.

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