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    Andrade diz que Morumbi entrou em negociação de cartel da Copa

    CAMILA MATTOSO
    JULIO WIZIACK
    DE BRASÍLIA

    05/12/2016 17h10 - Atualizado às 17h38

    A Andrade Gutierrez informou ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) que o estádio do Morumbi entrou na negociação do cartel de licitações formado entre empreiteiras para a construção de arenas da Copa do Mundo de 2014.

    Para conseguir assinar o acordo de leniência com o órgão, a empresa também entregou nomes de concorrentes, apresentando informações de um suposto conluio no mercado nacional de obras.

    Em documentos tornados público nesta segunda-feira (5) pelo Cade, a Andrade disse que a Camargo Corrêa integrou o grupo que estava elaborando a divisão dos projetos e manifestou interesse apenas em fazer a reforma do Morumbi.

    Na época, o estádio do São Paulo ainda era cotado para receber a abertura do Mundial.

    "A Camargo Corrêa manifestou interesse no acordo anticompetitivo preliminar quanto ao Estádio Morumbi, em São Paulo/SP. No entanto, não implementou a conduta porque o projeto escolhido foi a Arena Corinthians", diz trecho do relatório do Cade sobre o histórico de conduta do cartel. O estádio do Corinthians foi construído pela Odebrecht.

    As seis empresas que participaram do esquema, segundo a delação, foram: Andrade, Odebrecht, OAS, Carioca, Construtora Queiroz Galvão e Camargo.

    A Camargo, porém, saiu logo que a Arena Corinthians foi escolhida para ser a sede da abertura, em junho de 2010, e, por isso, o cartel não atuou no estádio tricolor.

    Segundo o Cade, as construtoras combinaram a divisão dos projetos, preços, condições e vantagens entre os concorrentes.

    A negociação começou em outubro de 2007, quando o Brasil foi escolhido sede da Copa, e durou até 2010, quando todos os estádios foram definidos, de acordo com os documentos divulgados.

    O Cade diz que a Andrade não tem "conhecimento de que a contratação para a construção da Arena Corinthians tenha sido afetada por condutas anticompetitivas".

    Como revelou a Folha, em delação premiada a Odebrecht diz que o estádio do Corinthians foi uma espécie de "presente" a pedido do ex-presidente Lula. A construção contou com ajuda da Caixa Econômica Federal e do BNDES, além da prefeitura de São Paulo.

    As arenas construídas pelo cartel foram, segundo a Andrade, pelo menos: Castelão (Fortaleza), Dunas (Natal), Maracanã, Pernambuco e Fonte Nova (Salvador).

    Juvenal Juvêncio, ex-presidente do São Paulo, era quem estava à frente de todas as negociações com a Fifa para receber a Copa.

    O cartola morreu dezembro do ano passado.

    O Ministério Público também participou da celebração do acordo da Andrade no Cade e as investigações foram desdobramento da Operação Lava Jato que apura irregularidade nas obras do Mundial no Brasil.

    Procurado, o São Paulo não se manifestou até a publicação da reportagem.

    LULA SOBRE MORUMBI

    Logo que a Fifa anunciou, em 2010, que o estádio do Morumbi não poderia sediar a Copa do Mundo, o então presidente Lula se manifestou sobre o assunto.

    "Eu acho estranho [que o Morumbi não sirva para a Copa]. Talvez seja uma exigência arquitetônica ou de engenharia que eu não conheça. Mas de qualquer forma, o governador de São Paulo e o prefeito de São Paulo vão ter que se manifestar a respeito", disse Lula.

    Naquele dia, no entanto, ainda não estava definido que o estádio corintiano receberia a abertura do Mundial.

    Na época, Juvêncio sugeriu que o corte do Morumbi teve caráter político. Seu relacionamento com Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, piorou após ter se oposto a Kleber Leite, apadrinhado do presidente da CBF, na eleição do Clube dos 13.

    "A decisão tomada pela Fifa/COL surpreendeu porque, inusitadamente, foi anunciada no momento em que as atenções da comunidade esportiva estão voltadas para a Copa de 2010, como se numa tentativa de se esconder o ato sob a sombra dos holofotes focados no maior evento esportivo do planeta", disse.

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