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    Doria apelou à cúpula da Oi para obter telefone em sua casa de praia

    FLÁVIO FERREIRA
    DE SÃO PAULO
    JULIO WIZIACK
    DE BRASÍLIA

    08/12/2016 02h00

    Rodrigo Soldon/Flickr
    Praia no distrito de Trancoso, em Porto Seguro (BA), município onde João Doria possui casa
    Praia no distrito de Trancoso, em Porto Seguro (BA), município onde João Doria possui casa

    Bem relacionado com a elite empresarial, o prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), recorreu em 2012 a um atalho para agilizar a instalação da rede de telefonia da empresa Oi no condomínio de luxo na praia de Trancoso, na Bahia, no qual ele e personalidades como o jogador Ronaldo Fenômeno tinham casa.

    Em julho de 2012, Doria enviou e-mail a James Meaney, à época diretor de Operações da Oi, para pedir o serviço. Meaney já havia sido entrevistado por Doria, à época empresário, em seu talk show na TV, o "Show Business".

    Um pedido à rede de telefonia da operadora Telemar/Oi já tinha sido feito pelo condomínio dois meses antes, às vésperas de sua inauguração, mas não havia previsão para a realização do trabalho.

    No e-mail ao executivo, Doria expôs sua insatisfação: "Neste feriado [de 9 de julho] estamos com quase todas as casas ocupadas e sem condições de ficar sem telefone", disse o hoje prefeito.

    Doria deixou claro na mensagem que a falta de conexão causava transtornos a outras pessoas famosas.

    "Nosso condomínio acaba de ser inaugurado em Trancoso e dele fazem parte o Ivan Zurita [então presidente da Nestlé], Nizan Guanaes [publicitário], Amilcare Dalevo [dono da Rede TV!], o Ronaldão [Fenômeno], Roberto Carlos [cantor], Dody Sirena [empresário do cantor] e eu, entre outros empresários e personalidades que estão completamente sem telefone no condomínio", afrimou.

    Na saudação final, o e-mail traz uma pitada de cobrança. "Agradeço muitíssimo sua atenção e espero rever você em breve. Inclusive para agradecer", encerrou.

    O pedido de Doria trafegou como um raio na Oi. Em menos de 20 minutos, o e-mail foi parar na caixa de mensagens de um funcionário da diretoria de Implantação para a Bahia, com uma ordem do diretor da empresa José Claudio Gonçalves: "Entender e resolver imediatamente".

    Daí em diante, demorou apenas 15 dias para que o condomínio passasse a ter os serviços de telefone fixo e internet, com a instalação de uma central telefônica.

    Primeiro, com velocidade de 1Mbps. Mas, em dez dias, a companhia faria um investimento adicional nos equipamentos em Trancoso e Porto Seguro para que a velocidade no condomínio passasse para 10 Mbps.

    Engenheiros de telecomunicações consultados pela Folha afirmam que em geral esse tipo de serviço demora de três a seis meses.

    ANTENA PARA LULA

    O episódio ficaria restrito aos arquivos internos da empresa de telecomunicações, não fosse uma investigação da Lava Jato trazê-lo à tona, no começo deste ano.

    Em fevereiro de 2016, a força-tarefa de procuradores da operação iniciou uma investigação criminal sobre o fato de a Oi ter instalado uma antena de celular perto do sítio frequentado pela família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Atibaia (SP).

    Essa apuração foi aberta no mesmo dia em que a Folha informou que um amigo de Lula e funcionário da Oi, o ex-sindicalista José Zunga Alves de Lima, fez gestões internas na empresa para que o equipamento fosse montado como um "presente" para o ex-presidente.

    Os procuradores pediram à Oi explicações sobre os pedidos de instalação de equipamentos feitos à companhia. A Oi enviou "a título exemplificativo" outros três pedidos que havia recebido.

    O objetivo era tentar mostrar que o caso do sítio não era único e que havia outros parecidos. Entre eles, estava a solicitação de Doria de 2012.

    O pedido para Atibaia havia partido de Kalil Bittar, sócio de um dos filhos de Lula.

    OUTRO LADO

    João Doria diz que o pedido feito à Oi para ligação da rede de telefonia no condomínio em Trancoso teve caráter privado e beneficiou condôminos e trabalhadores.

    A assessoria de Doria aponta que "a solicitação se deu em caráter inteiramente privado ao dirigente de uma empresa também privada, com o qual mantinha relações. À época, Doria era empresário e não tinha cargo público".

    A instalação beneficiou 46 casas do condomínio, e "dezenas de funcionários e prestadores de serviço, que antes não tinham acesso à telefonia", completa.

    A Oi disse que as demandas de serviços são enviadas por vários canais, entre eles pedidos aos funcionários, que devem encaminhá-los para exame.

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