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    Primeira visita de Temer ao Nordeste tem queixa de prefeitos

    KLEBER NUNES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SURUBIM (PE)

    09/12/2016 14h23 - Atualizado às 18h05

    Beto Barata/PR
    Presidente Michel Temer (ao centro) durante visita à barragem de Jucazinho, em Surubim (PE)
    Presidente Michel Temer (ao centro) durante visita à barragem de Jucazinho, em Surubim (PE)

    A primeira visita de Michel Temer (PMDB) como presidente a uma cidade do Nordeste foi marcada por queixas e frustração. Prefeitos e vereadores de cidades vizinhas a Surubim (PE) foram barrados e não puderam acompanhar o anúncio do investimento de R$ 53 milhões para o agreste pernambucano.

    O vice-prefeito de Santa Maria do Cambucá (PE), Mário Filho (PMDB), cancelou um compromisso pessoal e remarcou reuniões profissionais para acompanhar o presidente Temer. Mesmo sem convite formal, o político tentou participar do evento.

    "Achei que como autoridade de um município poderia assistir à solenidade que interessa a todos os moradores da minha cidade. Queria saber sobre o investimento e para onde ele vai, mas só saberei por terceiros", disse.

    Depois de receber o convite por telefone do Ministério das Cidades, Hilário Paulo (PSD), prefeito eleito de Brejo da Madre de Deus, cancelou a reunião para tratar da transição de governo e viajou 120 quilômetros até a Barragem de Jucazinho. Ele, no entanto, não passou da barreira formada por policiais militares e soldados do Exército.

    "Fui convidado ontem à noite, mas não colocaram o meu nome na lista. Já participei de eventos com Lula e Dilma onde a identificação ao cerimonial era o suficiente para entrar", afirmou.

    Meia hora antes do início do evento, era grande a concentração de políticos e assessores na porta da barragem. Em nenhum dos dois acessos disponíveis havia, segundo militares que faziam a segurança, rádios comunicadores para tentar a liberação. Sinal de celular também era inexistente.

    Houve reclamação também por parte de moradores. A comerciante Maria Helena Miranda, 32, disse "ficar triste" por nem ela nem sua família, que há mais de 20 anos mantêm um bar na entrada da represa, não serem autorizados a assistir à cerimônia.

    "Dizem que ele [Michel Temer] veio anunciar que ia consertar a barragem que pode estourar se encher de novo. Seria o mínimo ele fala para nós que moramos aqui o que ele vai fazer."

    Por meio de nota, a Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto, negou que tenha havido impedimento aos prefeitos. "Mesmo os que chegaram atrasados ao evento foram liberados pela segurança e pelo cerimonial da presidência", resumiu o texto.

    PACOTE

    Ao lado do ministro da Integração Nacional, Hélder Barbalho, Temer assinou duas ordens de serviços para obras hídricas na região. Uma delas é para recuperar e modernizar a barragem, com investimento de R$ 12 milhões na primeira fase, que deve durar de 60 a 120 dias.

    Incluída no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a obra em Jucazinho será executada em duas etapas. A primeira, composta por ações emergenciais como recuperação e reforço das estruturas, deve ser concluída até junho de 2017.

    O Ministério da Integração Nacional prometeu preparar o edital da segunda etapa, que inclui ações de modernização do reservatório. O investimento nas duas fases será de R$ 53 milhões.

    Operado pela Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento), o açude é alimentado pelo rio Capibaribe e seus afluentes. Quando está em plena operação, tem capacidade de armazenamento de 327 milhões de metros cúbicos de água e atende 12 municípios do agreste pernambucano.

    Mas, depois de cinco anos de estiagem, o reservatório entrou em colapso. Estima-se que mais de 850 mil pessoas serão contempladas com a modernização e melhorias na barragem.

    Após a assinatura das ordens de serviço, o presidente Temer e o ministro Barbalho vistoriaram a estação de bombeamento e o reservatório de Salgueiro, em Floresta (PE), no eixo leste do Projeto de Integração do Rio São Francisco.

    Nesta tarde, Temer ainda visitaria Fortaleza.

    SECA

    Morando a menos de um quilômetro da barragem de Jucazinho, o pedreiro, Jorge Brito, 42, compra água do poço do vizinho. Para garantir o banho da família de quatro pessoas, por dez dias, ele precisa desembolsar R$ 60.

    "Quando tenho esse dinheiro compro 2.000 litros de água. Quando não tem a gente se vira pedindo a um e a outro", afirmou.

    A dona de casa Carmelita da Silva, 61, também recorre ao improviso. "Onde ainda aparece água só dá para aproveitar na hora, porque no outro dia ela fica vermelha e não presta nem para banheiro", disse.

    Os dois moradores da região da barragem dizem ter o mesmo pedido ao presidente. "Se pudesse falar com ele pediria que nos garantisse água."

    VAQUEJADA

    Não houve protestos durante a visita de Temer. Nas ruas de Surubim, não havia faixas ou cartazes nem a favor do presidente nem contra.

    Durante o anúncio da liberação de recursos para a região, o vice-presidente da Abvaq (Associação Brasileira de Vaquejada), Paulo Moura, ergueu uma faixa agradecendo ao presidente pela sanção da lei 13.364/2016 que considera a vaquejada patrimônio cultural do Brasil.

    Em outubro, o STF (Supremo Tribunal Federal) havia julgado inconstitucional uma lei cearense que regulamentava a atividade. A decisão gerou protestos no Nordeste e em Brasília.

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