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    Lava Jato

    Delator acusa Kassab de receber R$ 14 milhões em caixa dois, diz jornal

    DE SÃO PAULO

    13/12/2016 15h25

    Alan Marques/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, BRASIL, 10.11.2016. O ministro de Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, participa da reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, na sala de reuniões do Palácio do Planalto. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER
    O ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, em reunião no Palácio do Planalto

    O ministro da Ciência, Tecnologia e Comunicações, Gilberto Kassab (PSD), é acusado de receber R$ 14 milhões da Odebrecht em caixa dois nos anos de 2013 e 2014.

    A informação, segundo reportagem do jornal "O Globo", consta do acordo de delação premiada do ex-presidente da Odebrecht Transport Paulo Cesena. O jornal teve acesso a parte da delação de Cesena que compreende fatos entre 2007 e 2014.

    Segundo o jornal, em 2014 o então presidente da Construtora Noberto Odebrecht, Benedicto Júnior, teria informado a Cesena que a Odebrecht Transport, braço do grupo na área de transporte, iria participar do rateio interno da companhia para custear campanhas políticas.

    O Globo transcreve o trecho do depoimento de Cesena. "Sobre Gilberto Kassab, Benedicto Junior me informou que fez, em 2013 e 2014, pagamentos no valor de aproximadamente R$ 14 milhões, sob o argumento de que seria para apoiá-lo nas eleições ao Senado em 2014 e nas campanhas do PSD".

    As contribuições se justificavam, segundo o delator, pela importância política de Kassab no estado de São Paulo, responsável por boa parte do faturamento da empreiteira.

    Nas planilhas em que a Odebrecht contabilizava repasses a políticos, o nome de Kassab aparece ligado à palavra "Projeto". Em nota à imprensa, Kassab disse que desconhece qualquer doação da empreiteira em caixa dois.

    "Devemos ser cautelosos com afirmações feitas por colaboradores. Não podemos tomar como verdade meras declarações sequer homologadas pela justiça. Não tenho conhecimento de nenhuma doação feita às minhas campanhas, de companheiros do PSD ou de aliados, que não tenham sido feitas na forma da lei, assim como as doações partidárias", diz a nota.

    CARTA CAPITAL

    Cesena também contou aos procuradores da Lava Jato, segundo O Globo, que a Construtora Norberto Odebrecht fez dois empréstimos para a Editora Confiança, que publica a revista "Carta Capital". O valor do empréstimo foi de R$ 3,5 milhões e aconteceu entre 2007 e 2009, a pedido do então ministro da Fazenda, Guido Mantega.

    A operação, segundo o jornal, foi feita pelo Setor de Operações Estruturadas, que foi classificado pelos investigadores como departamento de propinas da empreiteira.

    A editora já quitou, segundo O Globo, cerca de 85% do empréstimo por meio de eventos que tiveram o patrocínio da Odebrecht.

    A ordem para o empréstimo à editora teria partido de Marcelo Odebrecht, em 2007, presidente do grupo e hoje preso em Curitiba. O Globo reproduz trecho da delação de Cesena.

    "Marcelo Odebrecht me chamou para uma reunião em sua sala, no escritório em São Paulo, e me informou que a companhia faria um aporte de recursos para apoiar financeiramente a revista 'Carta Capital', a qual passava por dificuldades financeiras. Marcelo me narrou que esse apoio era um pedido de Guido Mantega, então ministro da Fazenda".

    O jornal diz que o delator entendeu que o aporte atendia a algum interesse do PT. E reproduz outro trecho do depoimento. "Entendi que esse aporte financeiro tinha por finalidade atender a uma solicitação do governo federal/Partido dos Trabalhadores, pois essa revista era editada por pessoas ligadas ao partido", afirmou.

    Para acertar os detalhes do empréstimo, Cesena reuniu-se com o jornalista Mino Carta, diretor de redação da Carta Capital, a diretora administrativa da editora, Manuela Carta, e o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, consultor editorial da publicação.

    Manuela Carta disse ao O Globo que o delator se expressou mal e que não houve empréstimo, mas um acordo de publicidade que previa um adiantamento de verbas. Tudo, segundo ela, já foi quitado com páginas de publicidade e o patrocínio da Odebrecht a eventos.

    Belluzzo disse ao jornal que procurou Marcelo Odebrecht e que foi firmado um acordo financeiro. "Estávamos numa situação difícil e fizemos um mútuo que carregamos no nosso balanço por muito tempo, porque a revista estava precisando de financiamento. Está tudo no balanço da empresa, não tem nada escondido", disse o economista.

    Manuela e Beluzzo negam a participação de Mantega na operação.

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