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    Não quero ser jogado em 'lamaçal' de delação, diz ex-assessor de Temer

    DE BRASÍLIA

    14/12/2016 13h52 - Atualizado às 13h52

    Na carta em que pediu demissão do cargo de assessor especial do governo Michel Temer, o advogado José Yunes afirma que a decisão teve como objetivo preservar sua dignidade. Segundo ele, seu nome foi jogado "no lamaçal de uma abjeta delação" premiada.

    "Não posso ver meu nome enxovalhado por irresponsáveis denúncias de figurantes com quem nunca tive qualquer contato direto ou por terceiros", disse.

    O nome de Yunes aparece no acordo de delação de Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht. Segundo Melo, parte de R$ 10 milhões repassados ao PMDB para a campanha de 2014 foi entregue no escritório de Yunes em São Paulo.

    No texto, ele lembra de sua longa amizade com o presidente que, segundo ele, os une desde "os heróicos tempos nas Arcadas do Largo de São Francisco", onde os dois estudaram na capital paulista.

    Segundo ele, o conteúdo da delação premiada é baseado em "fantasiosa alegação" de que ele teria recebido parcela de recursos financeiros de doação destinada ao PMDB.

    "Repilo com a força de minha indignação essa ignominiosa versão", disse.

    Leia a íntegra da carta:

    *

    Caro Presidente,

    Movido pelo alto interesse em dedicar meu tempo à causa da Nação, depois de ter vivido fértil passagem pela vida político-partidária, nas jornadas cívicas das décadas de 70/80, aceitei convite de Vossa Excelência para assessorá-lo no Planalto, oportunidade em que passei a conviver com experientes e altos quadros do seu Governo.

    Seria uma honra ajudar o amigo de 50 anos a colocar o país nos trilhos, após a hecatombe que arrasou a economia, proporcionando a maior recessão de toda a nossa história, jogando milhões de pessoas nas ondas perversas do desemprego, minando a confiança de brasileiras e brasileiros de todas as classes em governantes e instituições.

    Nos últimos dias, Senhor Presidente, vi meu nome jogado no lamaçal de uma abjeta delação, feita por uma pessoa que não conheço, com quem nunca travei o mínimo relacionamento e cuja existência passei a tomar conhecimento, nos meios de comunicação, baseada em fantasiosa alegação, pela qual teria eu recebido parcela de recursos financeiros em espécie de uma doação destinada ao PMDB.

    Repilo com a força de minha indignação essa ignominiosa versão.

    Como advogado e pai de família, que zela pelo dever de agir como cidadão sob os valores da honra e do zelo pela expressão da verdade, em respeito à minha família, aos amigos e aos concidadãos, não posso ver meu nome enxovalhado por irresponsáveis denúncias de figurantes com quem nunca tive qualquer contato direto ou por terceiros.

    Para preservar minha dignidade e manter acesa a chama cívica que me faz acreditar nos imensos potenciais de meu país, declino, Senhor Presidente, do honroso cargo de assessor da Presidência, sem, porém, abdicar da admiração e da amizade que nos une desde os heróicos tempos nas Arcadas do Largo de São Francisco.

    Tenha em mim o leal amigo que o acompanha há décadas e que o admira por suas incomparáveis qualidades, entre as quais, o equilíbrio, a capacidade de harmonizar os contrários, a sapiência, o respeito pelo outro, a determinação de fazer as grandes reformas que o país exige e a vontade férrea de pacificar a Nação.

    São Paulo, 14 de dezembro de 2016.

    José Yunes, advogado

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