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    Precisa acabar com a hipocrisia, diz secretário gaúcho ao relativizar caixa 2

    PAULA SPERB
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PORTO ALEGRE (RS)

    14/12/2016 18h47

    Prestes a votar o pacote para extinção de 11 órgãos, redução de secretarias e privatizações como forma de aplacar a crise financeira do Rio Grande do Sul, o secretário da Fazenda, Giovani Feltes (PMDB), relativizou a prática do chamado "caixa dois", recursos para campanhas eleitorais que não são declarados.

    Feltes, braço direito do governador José Ivo Sartori (PMDB) e deputado federal licenciado, fez as declarações em palestra para empresários na noite da última segunda-feira (12), em Carlos Barbosa, município da serra gaúcha.

    "Vou depor contra mim: quem é que tem dinheiro de caixa dois e não contabiliza nunca?", disse o secretário à plateia, citando "jogo do bicho" e "igrejas" como possíveis fontes de arrecadação eleitoral.

    "Jogo do bicho pode eleger vocês. Igrejas, de qualquer credo. Trafi...'in off': em Novo Hamburgo elegeram um traficante na Câmara de Vereadores e também conheço outras cidades que elegeram", completou Feltes.

    As declarações foram divulgadas pelo jornal semanal "Contexto", de Carlos Barbosa.

    A Folha teve acesso à gravação em áudio da palestra. A assessoria do deputado confirmou que as afirmações são de Feltes, mas que "foram colocações fora do contexto e infelizes".

    Giovani Feltes é deputado federal pelo PMDB e está licenciado para o cargo de secretário de Sartori.

    Na eleição de 2014, Feltes arrecadou R$ 802.513,40 para sua campanha.

    Do total, mais da metade foi doado por ele próprio, um montante de R$ 410.351,4, em depósitos em espécie ou cheques, em diferentes quantias.

    Sua assessoria diz que o valor faz parte do patrimônio que acumulou como empresário ao longo dos anos.

    Feltes enfrenta, ao lado de Sartori, uma grave crise financeira no Estado, com déficit estimado de mais de R$ 2 bilhões para 2016, e também uma crise política: o governador é alvo de um pedido de impeachment.

    Além disso, a imagem do governo está desgastada diante dos servidores do Executivo, que recebem seus salários parcelados há praticamente um ano consecutivo –funcionários do Legislativo e Judiciário recebem normalmente.

    'HIPOCRISIA'

    Durante a palestra, Feltes ainda chamou de "hipocrisia" a proibição de doação de empresas privadas.

    "Me dá uma mão para a campanha? 'Sim. Aqui tenho R$ 5.000, R$ 10 mil, R$ 50, sei lá quanto. Mas não bota meu nome aí na tua prestação de contas'. Quem diria que não? Tinha que acabar um pouco com essa hipocrisia", disse o secretário.

    "Anjo não se elege nem vereador em Carlos Barbosa [cidade onde estava fazendo a palestra]. A gente tem que tirar e afastar essa hipocrisia", disse o deputado licenciado, citando que "desde os 18 anos não perdeu uma eleição."

    Através de sua assessoria, o secretário disse que é a favor do financiamento público de campanha. Nas eleições municipais deste ano, entrou em vigor a lei que proíbe o financiamento privado de campanha.

    A assessoria alega que Feltes se manifestou de maneira informal e que as declarações foram tiradas de contexto em uma palestra que tinha como objetivo expor a situação financeira do Estado.

    Além disso, a assessoria afirma que o deputado licenciado pediu "off" [redução de "off record"] sobre as afirmações, ou seja, pediu que a imprensa presente não publicasse as declarações. O evento, entretanto, era aberto, com aproximadamente cem empresários e diversos veículos de imprensa locais.

    Em nota, a assessoria do secretário disse que a fala do secretário "tratou dos problemas estruturais do Estado". "Como tratou-se de uma explanação longa, o secretário lamenta que frases esparsas e sem vinculação com o tema principal acabaram ganhando repercussão após publicadas por um jornal local, mesmo com o alerta preliminar de que se tratavam de manifestações em caráter reservado".

    Ainda segundo a nota, "são expressões que o secretário se utilizou de maneira genérica, sem vinculação a um fato objetivo e específico". O secretário, encerra o texto, "reconhece que foram colocações fora do contexto e infelizes".

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