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    Assembleia retarda ação contra citados por merenda

    REYNALDO TUROLLO JR.
    DE SÃO PAULO

    15/12/2016 02h00

    Gustavo Epifanio - 27.jan.2016/Folhapress
    Jéter Rodrigues, que trabalhou no gabinete do Fernando Capez na Assembleia Legislativa de São Paulo
    Jéter Pereira, que trabalhou no gabinete de Fernando Capez (PSDB) e foi indiciado pela CPI da Merenda

    Únicos indiciados pela CPI da Merenda, realizada na Assembleia Legislativa de São Paulo, por supostamente terem recebido dinheiro de um esquema de desvios, dois servidores da Casa respondem a um processo interno que tramita a passos lentos.

    Tal processo pode levá-los, como punição máxima no âmbito administrativo, ao desligamento do serviço público e à perda de todos os benefícios. A apuração ficou cinco meses parada, apesar da gravidade e da repercussão do caso.

    Além disso, no mesmo dia em que um dos servidores suspeitos depôs à sindicância e confessou ter recebido um cheque da cooperativa suspeita de fraudar a merenda, a direção da Assembleia concedeu sua aposentadoria.

    Em 4 de outubro, a comissão sindicante (criada para apurar a conduta dos servidores) foi encerrada e foi aberta uma comissão processante, que ainda não deu seu veredicto.

    A comissão sindicante foi constituída em 17 de fevereiro para investigar Jéter Pereira e José Merivaldo dos Santos, servidores da Assembleia citados na Operação Alba Branca, que apurou desvios na merenda.

    Os dois são ex-assessores do gabinete de Fernando Capez (PSDB), presidente da Assembleia.

    Pereira e Merivaldo foram indiciados no relatório final da CPI da Merenda, aprovado na terça-feira (13), sob suspeita de terem recebido dinheiro de contratos entre a Coaf (Cooperativa Orgância Agrícola Familiar) e a Secretaria de Educação do governo Geraldo Alckmin (PSDB).

    Os contratos eram para fornecimento de R$ 11,4 milhões em suco de laranja.

    O relatório da CPI será entregue ao Ministério Público, que tem atribuição para eventualmente denunciar à Justiça os indiciados.

    A partir da data em que foi criada, a comissão sindicante só fez sua primeira reunião quase três meses depois, em 6 de maio.

    Segundo a direção da Assembleia, o tempo foi o normal nesses casos.

    Entre maio e 13 de junho, foram tomados os depoimentos dos suspeitos. Em 17 de maio, Pereira depôs e admitiu que ganhou um cheque de R$ 50 mil da Coaf para ajudá-la em serviços burocráticos, pelos quais ganharia no total R$ 200 mil. Disse ainda que entregou o cheque ao outro suspeito, Merivaldo.

    No dia seguinte ao depoimento, foi publicada no "Diário Oficial" a aposentadoria de Pereira. Questionada sobre a coincidência entre as datas, a direção da Assembleia disse que o processo de aposentadoria tramitou no prazo normal, por 41 dias.

    De 13 de junho, quando Merivaldo depôs, até 30 de agosto, a comissão sindicante ficou parada dois meses e meio, sem novos depoimentos ou acréscimos de documentos.

    Nesse período, a CPI fez suas primeiras sessões e decidiu ouvir os membros da Coaf, deixando os suspeitos do serviço público para o final.

    Só a partir de setembro, os depoimentos tomados na CPI, incluindo os dos dois servidores, foram juntados à documentação da sindicância.

    Por fim, em 4 de outubro, a comissão sindicante apontou irregularidades e propôs criar a comissão processante.

    Para a oposição, a direção da Assembleia demonstrou falta de interesse de punir os suspeitos por um dos maiores escândalos da Casa.

    "Ele [Capez] utilizou os instrumentos da Casa, como presidente, para blindar um assessor que poderia denunciá-lo", diz João Paulo Rillo (PT).

    Questionada sobre a demora do processo contra os suspeitos, a direção da Assembleia afirmou que "a comissão [sindicante] está infensa a qualquer interferência externa, uma vez que é formada por funcionários efetivos".

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