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    Lava Jato

    Delator era próximo de herdeiro e mirava altos parlamentares

    VALDO CRUZ
    RANIER BRAGON
    DE BRASÍLIA

    18/12/2016 02h00

    Divulgação - 21.nov.2012/PSDB
    Bruno Araújo (esq.) entrega medalha a Cláudio Melo Filho (centro) no Congresso em 2012
    Bruno Araújo (esq.) entrega medalha a Cláudio Melo Filho (centro) no Congresso em 2012

    Pivô da nova crise do governo Michel Temer, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho falava com a autoridade de quem era homem de total confiança de Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo e hoje preso.

    Foi o executivo que relatou em seu acordo de delação premiada na Lava Jato repasse de R$ 10 milhões a pedido de Temer para campanha do PMDB em 2014. Parte do dinheiro teria sido entregue em dinheiro vivo no escritório de José Yunes, assessor que deixou o governo na quarta (14). Temer nega irregularidades.

    Nas palavras de quem era próximo do lobista da empreiteira em Brasília, Cláudio Filho mirava sempre os "big shots", os figurões do mundo da política no Congresso, e não perdia tempo com a turma do "baixo clero".

    Ele herdou o cargo do pai, Cláudio Melo, em 2004, depois que uma grave doença afastou aquele que era o braço direito do todo poderoso Emílio Odebrecht.

    As gerações aproximavam pai e filho dos comandantes da empreiteira baiana. Cláudio Filho, 49, é apenas um ano mais velho que Marcelo e começou como estagiário no grupo, em 1989.

    O lobista tratava dos interesses da empreiteira dentro do Congresso e costumava negociar doações legais e ilegais para políticos. Não era, porém, o portador de dinheiro a ser entregue.

    Em conversa com a Folha, um político se lembra de ter negociado doações de campanha com Cláudio Filho nos corredores do próprio Congresso Nacional. Na época, o lobista ofereceu cerca de R$ 350 mil ao parlamentar. Mas avisou que teria de ser por meio de caixa dois.

    O deputado disse que o momento não era propício para receber dinheiro frio e avisou que preferia ganhar uma doação legal. Foi avisado então de que o valor teria de ser menor, de R$ 150 mil, para não gerar cobranças de outros políticos que não faziam parte do grupo de total confiança da empreiteira.

    Havia outro motivo. Para não gerar especulações sobre suas doações, a empresa optava por fazer grandes repasses via caixa dois. Fugiria também de pressões de grupos de outros países nos quais a empresa tinha negócios, que podiam fazer comparações com o Brasil.

    Até assumir o cargo nas Relações Institucionais, Cláudio Filho não tinha muita familiaridade com as negociações políticas. No entanto, por meio de seu pai, sempre teve contatos com o mundo do Congresso Nacional.

    Na Bahia, onde nasceu, o executivo é vizinho de muro de Geddel Vieira Lima, ex-secretário de Governo de Temer, num condomínio de luxo. Foi Geddel quem apresentou o presidente ao lobista da Odebrecht em agosto de 2005.

    Um congressista desafeto do ex-ministro afirmou ter brincado uma vez com o executivo da Odebrecht: "Você é o único que eu conheço que gosta do Geddel".

    Em Brasília, Cláudio Filho mora em uma casa de alto padrão no Lado Sul, região mais valorizada da capital federal. É amante de tênis e sua família, proprietária do restaurante de culinária oriental Soho, famoso na cidade.

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