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Poder
Monday, 25-Nov-2024 19:30:13 -03Na crise, inflação corrói doação de evangélicos a igrejas
ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
DE SÃO PAULO25/12/2016 02h00
Os evangélicos são apoiadores financeiros mais frequentes da igreja que os católicos e doam valores maiores, mas esse esforçou sofreu impacto maior da crise brasileira, uma das mais profundas da história.
O valor médio doado pelos evangélicos é quase o triplo do dos católicos, mas essa contribuição cresceu abaixo da inflação entre 2013 e 2016, período em que os efeitos da recessão se manifestaram.
Os repasses que mais cresceram foram os feitos pelos espíritas: o ganho real, descontada a inflação, foi de 26% nos últimos três anos.
No período de crise também aumentou a porcentagem de evangélicos que estão na base da pirâmide salarial. Mais da metade deles ganha até dois salários mínimos (R$ 1.760), proporção que cresce para 58% entre os pentecostais.
HOMENS X MULHERES
De forma geral, entre todas as religiões, a porcentagem dos que costumam contribuir com a igreja se manteve constante: 8 em cada 10 fiéis.
As mulheres são mais assíduas na ajuda, mas os homens dão valores maiores (R$ 59, em média, por mês, contra R$ 50 das mulheres).
Os que vão mais de uma vez por semana à igreja (em todas as religiões) são pilares mais fortes de sustentação financeira: 65% deles contribuem sempre.
Como o vínculo dos evangélicos com a religião é maior, isso acaba também se refletindo nos cofres das igrejas.
EVOLUÇÃO DA RENDA DOS EVANGÉLICOS - Em salários mínimos. Respostas estimuladas e únicas, em %
LONGE DO DÍZIMO
Mas o mesmo fenômeno de enfraquecimento do vínculo institucional que fez com que crescesse a porcentagem dos que dizem não ter uma religião acaba afetando as contribuições.
Embora muitas igrejas recomendem que seus membros paguem o dízimo (ou 10% de suas receitas), apenas 7% dos brasileiros religiosos chegam a esse índice, de acordo com as faixas declaradas de renda e de contribuição na pesquisa feita pelo Datafolha.
A grande maioria doa por mês de 1% a 2% dos seus rendimentos.
MAIS COMPETIÇÃO
Outro fator que agrava a crise é a maior competição entre as instituições. Na pesquisa feita pelo Datafolha, os brasileiros citaram mais de 140 religiões diferentes.
No mundo, estima-se que em 2017 haja perto de 47 mil denominações, segundo o Centro Global para o Estudo da Cristandade (CSGC, na sigla em inglês).
No total, as igrejas cristãs devem arrecadar no próximo ano cerca de US$ 360 bilhões (o equivalente a R$ 1,2 trilhão) segundo o CSGC, o que equivale a 0,68% da renda estimada de seus fiéis.
Uma parcela maior, de US$ 430 bilhões, deve ser destinada para causas cristãs sob responsabilidade de instituições laicas.
O centro calcula ainda quanto dinheiro é furtado do que é doado pelos cristãos, com base em estimativas norte-americanas –que consideram ao menos 8% de desvio.
No próximo ano, segundo o CSGC, o chamado "crime eclesiástico cristão" deve custar perto de US$ 60 bilhões (ou quase R$ 200 bilhões).
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