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    Na crise, inflação corrói doação de evangélicos a igrejas

    ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
    DE SÃO PAULO

    25/12/2016 02h00

    Os evangélicos são apoiadores financeiros mais frequentes da igreja que os católicos e doam valores maiores, mas esse esforçou sofreu impacto maior da crise brasileira, uma das mais profundas da história.

    O valor médio doado pelos evangélicos é quase o triplo do dos católicos, mas essa contribuição cresceu abaixo da inflação entre 2013 e 2016, período em que os efeitos da recessão se manifestaram.

    Os repasses que mais cresceram foram os feitos pelos espíritas: o ganho real, descontada a inflação, foi de 26% nos últimos três anos.

    No período de crise também aumentou a porcentagem de evangélicos que estão na base da pirâmide salarial. Mais da metade deles ganha até dois salários mínimos (R$ 1.760), proporção que cresce para 58% entre os pentecostais.

    CRISE AFETA CONTRIBUIÇÃO PARA A IGREJA - Com quanto aproximadamente você contribui mensalmente com sua igreja? (Resposta estimulada e única, em %)

    HOMENS X MULHERES

    De forma geral, entre todas as religiões, a porcentagem dos que costumam contribuir com a igreja se manteve constante: 8 em cada 10 fiéis.

    As mulheres são mais assíduas na ajuda, mas os homens dão valores maiores (R$ 59, em média, por mês, contra R$ 50 das mulheres).

    Os que vão mais de uma vez por semana à igreja (em todas as religiões) são pilares mais fortes de sustentação financeira: 65% deles contribuem sempre.

    Como o vínculo dos evangélicos com a religião é maior, isso acaba também se refletindo nos cofres das igrejas.

    EVOLUÇÃO DA RENDA DOS EVANGÉLICOS - Em salários mínimos. Respostas estimuladas e únicas, em %

    LONGE DO DÍZIMO

    Mas o mesmo fenômeno de enfraquecimento do vínculo institucional que fez com que crescesse a porcentagem dos que dizem não ter uma religião acaba afetando as contribuições.

    Embora muitas igrejas recomendem que seus membros paguem o dízimo (ou 10% de suas receitas), apenas 7% dos brasileiros religiosos chegam a esse índice, de acordo com as faixas declaradas de renda e de contribuição na pesquisa feita pelo Datafolha.

    A grande maioria doa por mês de 1% a 2% dos seus rendimentos.

    MAIS COMPETIÇÃO

    Outro fator que agrava a crise é a maior competição entre as instituições. Na pesquisa feita pelo Datafolha, os brasileiros citaram mais de 140 religiões diferentes.

    No mundo, estima-se que em 2017 haja perto de 47 mil denominações, segundo o Centro Global para o Estudo da Cristandade (CSGC, na sigla em inglês).

    No total, as igrejas cristãs devem arrecadar no próximo ano cerca de US$ 360 bilhões (o equivalente a R$ 1,2 trilhão) segundo o CSGC, o que equivale a 0,68% da renda estimada de seus fiéis.

    Uma parcela maior, de US$ 430 bilhões, deve ser destinada para causas cristãs sob responsabilidade de instituições laicas.

    O centro calcula ainda quanto dinheiro é furtado do que é doado pelos cristãos, com base em estimativas norte-americanas –que consideram ao menos 8% de desvio.

    No próximo ano, segundo o CSGC, o chamado "crime eclesiástico cristão" deve custar perto de US$ 60 bilhões (ou quase R$ 200 bilhões).

    Católicos e evangélicos: usos e costumes

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