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    Braskem pagou propina de US$ 4,3 mi a político e executivo da Petrobras

    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    31/12/2016 02h00

    Julio Bittencourt/Divulgação
    Unidade de Paulínea (a 117 km de São Paulo), citada em documento da Justiça americana
    Unidade de Paulínea (a 117 km de São Paulo), citada em documento da Justiça americana

    Um documento produzido pela SEC, órgão do governo americano que regula o mercado de ações dos EUA, afirma que a petroquímica brasileira Braskem pagou propina de US$ 4,3 milhões (ou R$ 14 milhões, ao câmbio desta sexta-feira, 30) para "um congressista brasileiro" e um funcionário da Petrobras que ocupava cargo de chefia.

    O objetivo era garantir uma parceria comercial da empresa, braço petroquímico do grupo Odebrecht, com a Petrobras para a construção de uma unidade de produção de polipropileno em Paulínia, no interior de São Paulo.

    De acordo com a SEC, esse pagamento foi decidido depois de 2006, quando executivos da Braskem manifestaram receio de que a Petrobras pudesse não dar seguimento ao acordo.

    Os desembolsos, segundo a SEC, acabaram "descaracterizados" pela Braskem em seus registros contábeis como "pagamentos de comissões" e "consolidados nas declarações financeiras como custos ou despesas de negócios legítimos".

    A unidade de Paulínia foi inaugurada em 2008 ao custo de R$ 700 milhões. A Braskem anunciou que "originalmente" teria 60% de participação no novo empreendimento, a Petroquímica Paulínia, enquanto a Petrobras ficaria com 40%.

    No entanto, segundo a empresa, um acordo assinado em novembro de 2007 "consolidou a parceria estratégica entre as companhias", permitindo que a Braskem passasse a ter 100% do controle do capital da unidade de Paulínia, enquanto a Petrobras viesse a deter 25% do capital da Braskem.

    A Petrobras também se comprometeu a investir US$ 450 milhões em duas unidades de propeno para suprir a matéria-prima necessária para o projeto de Paulínia.

    O documento da SEC, assinado pelo chefe assistente David S. Johnson, foi entregue à Justiça de Washington no último dia 21 em uma ação civil movida pelo órgão contra a petroquímica. A empresa tem ações listadas na Bolsa de Nova York e, por isso, se submete à fiscalização.

    As informações têm como origem o acordo de leniência fechado naquele mesmo dia pela Odebrecht com Brasil, EUA e Suíça, no qual os empreiteiros reconheceram ter cometido diversos crimes e irregularidades.

    O pagamento de Paulínia foi citado no documento produzido pelo Departamento de Justiça americano que veio a público no dia 21, mas sem a identificação do projeto e do nome da cidade paulistana.

    OUTROS CASOS

    A SEC concluiu que a Braskem violou três artigos da lei que regula o mercado de ações dos EUA, como ter "falhado no ato de fazer e manter livros, registros e contas que, com razoável detalhe, precisão e correção refletissem suas transações e bens".

    De acordo com a SEC, de 2006 a 2014 a Braskem "pagou propinas" totais de US$ 250 milhões a "partidos políticos e funcionários do governo do Brasil", incluindo "senadores e representantes do Congresso brasileiro e ao menos dois importantes partidos políticos".

    Em petição no processo, os advogados da Braskem confirmaram que a empresa "irá admitir que de 2006 a 2014 pagou propinas a autoridades do governo brasileiro a fim de obter e manter negócios" e que pagará à SEC, até 30 de janeiro de 2018, um total de US$ 325 milhões correspondentes "aos lucros alcançados como resultado das condutas" que foram denunciadas no processo.

    Além de Paulínia, o órgão americano citou os pagamentos de US$ 20 milhões em 2009 por um acordo com a Petrobras para fornecimento de nafta, US$ 1,74 milhão em outubro de 2013 para "consultores" pela aprovação de uma lei que garantiria vantagens em impostos e mais US$ 29 milhões a partir de 2006 para um partido "usar sua influência" a fim de assegurar impostos mais baixos.

    OUTRO LADO

    A Braskem, procurada pela Folha, afirmou, em nota, que pagará R$ 3,1 bilhões em multa e em indenização em seu acordo global de leniência com autoridades.

    "A Braskem reconhece sua responsabilidade pelos atos dos seus ex-integrantes e lamenta quaisquer condutas passadas. A companhia seguirá cooperando com as autoridades e aprimorando o seu programa de conformidade", diz o comunicado.

    A Odebrecht vem reafirmando disposição de colaborar com as autoridades.

    A Petrobras, procurada na quinta (29), não havia se manifestado até a conclusão desta edição.

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    POLIPROPINA

    Documento dos EUA aponta pagamento da Braskem a agentes públicos brasileiros

    O DOCUMENTO
    > Produzido pela SEC, o equivalente à CVM brasileira, revela que a Braskem, do grupo Odebrecht, admitiu ter pago US$ 4,3 milhões em propina para garantir uma parceria com a Petrobras para construir planta de polipropileno em Paulínia (SP)
    > O documento da SEC foi entregue à Justiça dos EUA no último dia 21 como parte do acordo de leniência firmado entre o grupo Odebrecht e as autoridades americanas

    A MOTIVAÇÃO
    A parceria começou a ser discutida em 2005, mas executivos da Braskem viram risco de a petroleira recuar. Por isso, decidiu-se pelo pagamento. A planta foi inaugurada em 2008

    OS BENEFICIÁRIOS
    A propina, segundo a Braskem, foi paga a um funcionário em cargo de chefia da Petrobras e a um "congressista brasileiro". Os nomes não foram revelados no documento

    Os casos citados pela SEC, em US$ milhões

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