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    CNI e Sistema S fizeram pagamentos a agência alvo da Acrônimo

    FELIPE BÄCHTOLD
    WÁLTER NUNES
    DE SÃO PAULO

    01/01/2017 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 31-12-2016, 12h00: Fachada do edifício sede da CNI em Brasília, no Setor Bancário Norte. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
    Sede da CNI, entidade que fez pagamentos a agência de publicidade suspeita de receber de caixa dois

    Epicentro da Operação Acrônimo e suspeita de obter dinheiro de caixa dois em eleições, a agência de comunicação Pepper Interativa recebeu uma série de pagamentos de entidades do Sistema S, como Sesi e Senai, e da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que supervisiona essas instituições.

    A agência de comunicação foi financiada ainda por empresas de publicidade contratadas pelo governo federal, na época dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff.

    Os dados estão em uma quebra de sigilo fiscal da agência, que traz informações até o fim de 2013. Nesses documentos, o PT e suas campanhas eleitorais aparecem como a maior fonte de pagamentos da empresa, com um total de R$ 15 milhões.

    A Confederação Nacional da Indústria pagou à agência R$ 326 mil entre os anos de 2008 e 2010.

    Delator da Acrônimo, o empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, conhecido como Bené, acusou o atual presidente da confederação, Robson Andrade, de pagar R$ 1 milhão em caixa 2 para a campanha do petista Fernando Pimentel, hoje governador de Minas, em 2014. O dinheiro iria para empresas credoras da campanha.

    Robson Andrade assumiu a confederação em 2010. Em 2009, quando presidia a Federação das Indústrias do Estado de Minas, ele contratou por R$ 1 milhão a P21, empresa de Pimentel, para uma consultoria econômica.

    A dona da Pepper, Danielle Fonteles, também relatou em depoimento recebimentos via caixa dois de variadas fontes, mas em 2010, quando Pimentel concorreu ao Senado.

    Naquela época, o Sesi e o Sebrae já despontavam como importantes fontes da agência. Somando aos pagamentos do Senai e Instituto Euvaldo Lodi (que atua estimulando inovação de empresas), o total pago de 2008 a 2013 chega a R$ 1,9 milhão, em valores não corrigidos.

    Quando Pimentel virou ministro do Desenvolvimento, em 2011, indicou Heloisa Meneses, ex-presidente do Instituto Euvaldo Lodi, a uma secretaria vinculada à pasta.

    As entidades do Sistema S são de direito privado, mas bancadas na maior parte com contribuições compulsórias recolhidas pelas empresas. O objetivo dessas instituições é estimular treinamento, assistência e consultoria.

    Os órgãos costumam ter indicações políticas –o presidente do conselho do Sesi naquela época era Jair Meneguelli, ex-presidente da CUT, que foi substituído em 2015 por Gilberto Carvalho, ex-ministro de Dilma e ex-chefe de gabinete de Lula.

    Neste ano, ao assumir, Temer nomeou para o cargo João Henrique de Almeida Sousa, ex-deputado federal filiado ao PMDB do Piauí.

    O Tribunal de Contas da União criticou em auditoria, em 2016, a falta de transparência nessas entidades. Questionou, por exemplo, a não divulgação na internet de detalhamento de despesas, demonstrações contábeis e de plano de cargos e salários.

    Em 2015, o volume de recursos públicos nesses serviços foi de R$ 17,2 bilhões.

    OUTROS CONTRATOS

    Além da Acrônimo, deflagrada em 2015, a Pepper ganhou notoriedade nas investigações sobre as campanhas de Dilma. Em 2010, a empreiteira Andrade Gutierrez pagou R$ 6,6 milhões à agência. Delatores da empresa afirmam que os repasses se tratavam de caixa dois para a campanha de Dilma.

    A quebra de sigilo mostra uma ascensão veloz da Pepper na década passada. De pequena agência até 2007, passou, em 2008, a amealhar contratos públicos, como da Caixa. Chegou a receber pagamentos de cinco ministérios, além de órgãos como o BNDES e a Apex (Agência de Promoção da Exportação).

    Entre os financiadores da Pepper, estão outras agências de publicidade, que tinham contratos com o governo federal –as principais são a Nova S/B, com R$ 786 mil pagos, e a Lew Lara, com R$ 1,1 milhão.

    Em outubro, a Acrônimo fez buscas em três construtoras que pagaram, juntas, R$ 840 mil, à Pepper em 2010. Outro alvo foi o sindicato das empresas de transporte de Belo Horizonte, que pagou R$ 600 mil.

    Editoria de Arte/Folhapress

    OUTRO LADO

    A Confederação Nacional da Indústria disse que, nos últimos cinco anos, outras duas agências de publicidade venceram as licitações para prestar serviço à entidade e ao Sesi, Senai e Instituto Euvaldo Lodi. Sustenta que os pagamentos citados pela reportagem "fogem ao ciclo de responsabilidade da atual administração".

    Diz ainda que o conselho nacional do Sesi, que pagou R$ 479 mil à Pepper em 2013, funciona de modo autônomo em relação às outras instituições e que não poderia se manifestar em nome dele. A Folha não conseguiu localizar Jair Meneguelli, que presidiu o conselho até 2015, para comentar o assunto.

    O Sebrae diz que trabalha apenas com empresas licitadas e que a Pepper prestou serviços por meio de outras agências de publicidade, que tinham sido contratadas pelo menor preço.

    Ainda no governo Dilma, os ministérios e a Apex disseram que não celebraram contratos diretos com a Pepper e que os repasses foram feitos devido a terceirizações realizadas por agências de publicidade prestadoras de serviço, que haviam sido contratadas por licitação.

    Cleber Lopes, advogado de Danielle Fonteles, dona da Pepper, diz que a agência prestou serviços para várias entidades e que os contratos com a CNI e o Sistema S não são alvo da investigação da Operação Acrônimo.

    A Lew Lara diz que pagou à Pepper por serviços prestados para clientes privados da agência, na área de monitoramento digital de redes sociais, em trabalhos sem relação com a gestão pública.

    A Nova S/B diz que a Pepper é uma das 63 empresas que já prestaram serviços digitais para seus clientes e que os trabalhos incluem desenvolvimento de sites, hotsites, blogs e banners de mídia digital. O sindicato do transporte não respondeu.

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