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    Apoio a candidaturas governistas no Congresso abre guerra interna no PT

    CATIA SEABRA
    DE SÃO PAULO
    DÉBORA ÁLVARES
    DE BRASÍLIA

    12/01/2017 02h00

    Renato Costa - 7.mar.2016/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 07/03/2016, O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) Discursa na tribuna do Plenario do senado e disse que a democracia brasileira está em risco, ao condenar a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para depoimento na Polícia Federal, na sexta passada (4). (Foto: Renato Costa/Folhapress, PODER)
    O senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que rechaça acordos com governistas no Congresso

    A disputa pelo comando da Câmara e do Senado aprofundou a crise interna do PT.

    Com a anuência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as principais lideranças defendem a composição com candidatos de partidos da base do governo Temer, como Rodrigo Maia (DEM) ou Jovair Arantes (PTB) na Câmara e Eunício Oliveira (PMDB) no Senado.

    O líder do partido na Câmara, Carlos Zarattini (SP), abriu diálogo com os governistas sob o argumento de que a prioridade é que o PT tenha hoje um espaço nas Mesas Diretoras compatível com o tamanho de sua bancada.

    Segunda maior bancada da Câmara, com 57 deputados, o PT quer a segunda secretaria, responsável por serviços administrativos e encaminhamento de requerimentos de informação a ministros.

    Para petistas, não será possível ter o cargo com o lançamento de uma candidatura de oposição, como a do pedetista André Figueiredo (CE).

    "Não adianta um candidato de oposição fazer um discurso bonito no dia de votação e acabar ali. Nossa prioridade é ver respeitada a regra que garante ao PT a segunda vaga na mesa. Quem é contra isso não entendeu a questão", diz Zarattini.

    O líder do PT manifestou sua posição na terça (10) ao participar do lançamento da candidatura do governista Jovair. Sua presença provocou a reação.

    Secretário de Formação do PT, Carlos Árabe lembra que Jovair foi relator do voto do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. "É indigno e imoral o líder do PT botar o pé no ato desse candidato golpista", criticou.

    No Senado, em desacordo aberto com o líder da bancada, Humberto Costa (PE), Lindbergh Farias (RJ) critica o apoio à candidatura de Eunício à presidência da Casa. O PT tem dez senadores.

    "É fazer aliança com golpista, que foi relator da PEC 55 [teto de gastos], que vai comandar o processo de desmonte da Constituição e de ataque ao direito dos trabalhadores", acusou.

    Dois dos maiores defensores de Dilma à época do impeachment, Lindbergh e Gleisi Hoffmann (PR) rechaçam a costura com governistas.

    "Em situação de normalidade democrática não haveria problema em fazer composição na Mesa Diretora", completa Lindbergh, que chama as negociações feitas nas duas Casas de "divórcio com a militância" do partido.

    Gleisi diz que há ainda uma extensa pauta de medidas do governo Temer que serão votadas no Senado.

    "Ainda teremos a reforma da Previdência e a trabalhista, um dos atentados a um dos direitos mais antigos dos trabalhadores", destacou.

    FORA DA MESA

    A posição de cada partido pode ser determinante para seu futuro no Congresso nos dois anos seguintes à eleição.

    Ao apoiar o falecido Luiz Henrique (PMDB-SC), que concorreu contra Renan Calheiros (PMDB-AL) em 2015, o PSB, por exemplo, ficou sem espaço na Mesa Diretora, apesar dos critérios de proporcionalidade usados nessa composição.

    Essa também é uma preocupação do PT. Líderes do partido citam a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para o comando da Câmara em 2014. Cunha –hoje cassado e, em seguida, preso –venceu à época Arlindo Chinaglia (PT-SP).

    Com a vitória, o peemedebista limou os petistas de cargos-chave da Casa.

    No Senado, Eunício tem prometido ao PT a primeira secretaria, um cargo que funciona como uma espécie de prefeitura da Casa, sem visibilidade política externa, mas com alto poder de gerenciamento orçamentário interno.

    DECISÃO DO PARTIDO

    O comando do PT decidiu delegar ao Diretório Nacional –instância máxima do partido– a decisão acerca da sucessão para os comandos da Câmara e Senado.

    Essa é, segundo petistas, a primeira vez que o debate chega formalmente ao diretório do PT, até porque o partido costuma lançar candidatos à presidência das Casas.

    Embora já esteja na pauta oficial da reunião, que ocorrerá na sexta (20), petistas tentarão selar um acordo até lá. A bancada petista se reunirá dois dias antes para discutir sua posição.

    No dia 19 (quinta-feira), a Executiva Nacional do PT também tentará dirimir conflitos e evitar que o impasse seja levado a voto.

    Apesar desses esforços, a polêmica já chegou às redes sociais. O secretário de Comunicação do partido, Alberto Cantalice, publicou uma crítica aos petistas dispostos a negociar com candidatos governistas em troca de uma lugar nas Mesas Diretoras da Câmara e do Senado.

    "Os golpistas que usurparam o poder estão desmontando as políticas públicas. Conciliar com eles é trair a tradição das esquerdas", escreveu.

    O ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato do PDT à Presidência, também se manifestou, chamando de "traidores" aqueles que pretendem compor com governistas em detrimento da candidatura do pedetista André Figueiredo, também do Ceará.

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