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    Morte na Lava Jato

    ANÁLISE

    Morte de Teori atrasará delação da Odebrecht e joga a Lava Jato num enigma

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    19/01/2017 18h55

    A morte do ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato, no Supremo, traz uma consequência óbvia para a operação e outra que é um enigma.

    O efeito óbvio é o atraso na homologação da delação de 77 executivos da Odebrecht, consideradas as mais explosivas de toda a investigação por mencionar políticos como o presidente Michel Temer e o ex-presidente Lula. O enigma refere-se ao futuro da Lava Jato no Supremo, que apura supostos crimes de parlamentares. Será que agora o PMDB, PSDB e PT conseguirão enterrar a investigação?

    O risco de a Lava Jato ser manipulada ou subjugada com a morte do ministro não é desprezível. A vaga de Teori no Supremo e talvez o cargo de relator da Lava Jato serão ocupados por um ministro a ser indicado por Temer.

    Você acha que o presidente vai indicar um ministro que construirá o patíbulo para julgá-lo sob acusação de ter pedido R$ 10 milhões a Marcelo Odebrecht em 2014, segundo a delação de Claudio Melo?

    Outra hipótese nada desprezível é que a presidente do Supremo, a ministra Cármen Lúcia, indique outro relator. O regulamento do Supremo, no artigo 68, abre essa brecha. A presidente Cármen Lúcia pode redistribuir o caso por meio de sorteio. Outra interpretação aponta que o revisor do caso, Celso de Mello, poderia tornar-se relator.

    Considerado um dos juízes mais preparados do Supremo, tanto técnica quanto politicamente, Teori sabia que estava diante da tarefa mais importante de sua carreira. Foi por isso que colocou os integrantes do seu gabinete para trabalhar durante o recesso jurídico, que vai de 20 de dezembro a 20 de janeiro.

    A reação inicial dos analistas do STF foi positiva aos relatos das delações, segundo a Folha apurou. Os auxiliares de Teori ficaram impressionados com o detalhismo das narrativas, com os indícios e as provas apresentadas, as quais atingem um espectro político que vai de Temer ao ex-presidente Lula, passando por um grande arco que inclui o ministro das Relações Exteriores, José Serra, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin –todos dizem ser inocentes ou que só receberam recursos de caixa dois.

    Talvez seja impossível que o novo ministro venha a interferir num trabalho que durou nove meses, como é o caso da delação da Odebrecht. Mas há o risco de que um ministro que não seja imparcial como Teori imprima um nova ritmo às investigações dos políticos, com o resultado de sempre: a ação prescreve e o político escapa ileso. Seria o pior fim que a Lava Jato poderia ter: punir os empreiteiros e deixar os políticos, que mandavam no jogo, escapar.

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