Apesar da acusação de ter recebido recursos da Odebrecht em troca da aprovação uma medida provisória, o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) deve ser eleito com tranquilidade no próximo dia 1º para comandar o Senado. Com apoio de partidos do governo e da oposição, o senador diz a aliados não ter mais dúvidas sobre a vitória.
Eunício é citado em delações premiadas da Lava Jato, acusado de receber R$ 2,1 milhões da Odebrecht em troca da aprovação de uma medida provisória. Ele ainda não responde a inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) e obteve uma certidão de "nada consta" da corte.
Em conversas reservadas, o senador avaliava que apenas a Lava Jato poderia atrapalhar sua candidatura. O provável atraso no andamento da operação, por causa da morte do ministro Teori Zavascki, diminui o risco de divulgação de informações que poderiam prejudicar sua eleição, segundo aliados.
Pedro Ladeira - 26.out.2016/Folhapress | ||
Renan Calheiros (PMDB-AL, esq.), afastado do comando do Senado, e Eunício Oliveira (PMDB-CE) |
Mesmo depois das incertezas que o Senado viveu no fim do ano passado com a ordem de afastamento contra Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência da Casa pelo STF, os colegas de Eunício não parecem temer que as acusações contra ele desencadeiem situação semelhante.
"Na minha opinião, pelo critério da proporcionalidade, a indicação é do PMDB e, como tal, em princípio, o nome que for apresentado pelo PMDB terá o nosso apoio", afirma o líder do PT, senador Humberto Costa (PE). Dividido, o partido deve reunir maioria em torno de Eunício.
Ronaldo Caiado (GO), líder do DEM, afirma que vai seguir a decisão do partido e votar com o PMDB. Contudo, vê com ressalvas uma candidatura que pode "comprometer" o funcionamento da Casa. "Ao se ver a Presidência tendo que se ocupar de problemas de ordem pessoal, não se deixa de ser comprometedor ao Poder, porque você faz com que outros Poderes possam ameaçar ou intervir em ações que são nossas", afirma.
São poucos os que têm usado as acusações contra Eunício para atacar o senador. Seu colega de partido Roberto Requião (PR), por exemplo, criticou as negociações para a nova Mesa Diretora, que deve ser formada por vários partidos citados na operação.
A nova Mesa que vem sendo negociada tem o PSDB na primeira vice-presidência, que deverá ficar com Tasso Jereissati (CE), e o peemedebista Valdir Raupp (RO) na segunda vice-presidência.
O PT, atualmente alocado na primeira-vice, passa a ter a primeira-secretaria, com José Pimentel (CE). PSB, DEM e PTB também terão espaço.
Eunício deverá ser candidato único à eleição. Até o momento, só uma candidatura se contrapõe a dele, a de José Medeiros (PSD-MT), vista apenas como uma tentativa de conseguir "mídia". "Todos sabemos que ele deve retirar a candidatura no último momento", diz Caiado.
PERFIL
O perfil conciliador e a discrição são fatores que deram a Eunício apoio até do PT. Um dos argumentos da sigla é que o senador não fez discursos favoráveis ao impeachment de Dilma Rousseff, apesar de ter votado pelo afastamento.
Embora seja do mesmo partido dos antecessores Renan Calheiros e José Sarney (PMDB-AP), há quem o classifique como "mais moderno e contemporâneo" no trato. Entre eles, o presidente do DEM, José Agripino (RN). "Ele veio se preparando para isso".
Durante os últimos anos, contudo, Eunício enfrentou divergências no PMDB. Está de olho na Presidência do Senado desde que se elegeu, em 2011. Quis concorrer em 2015, quando a vaga já estava destinada a Renan em sua quarta passagem pelo cargo.
Em vez de se opor, aproveitou para se aproximar do núcleo do Senado. Presidiu a Comissão de Constituição e Justiça, pela qual passam todos os projetos que tramitam na Casa, e virou líder do PMDB.
Na reta final para definição de quem seria o candidato do PMDB, precisou lidar com o apoio de Renan ao colega Romero Jucá (RR). As denúncias contra Jucá e sua queda do Ministério do Planejamento logo no primeiro mês do governo Temer, porém, fortaleceram Eunício.