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    Lava Jato

    Delator astrólogo expôs esquema de Cabral e Eike, devoto das estrelas

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    28/01/2017 02h00

    Leo Pinheiro/Valor
    Escorpiano com ascendente em capricórnio, Eike é devoto da astrologia, entre outros esoterismos
    Escorpiano com ascendente em capricórnio, Eike é devoto da astrologia, entre outros esoterismos

    As cifras movimentadas por Sérgio Cabral no exterior eram tamanhas (US$ 100 milhões) que a força-tarefa da Operação Eficiência, deflagrada na quarta (26), escolheu descrevê-las assim: "Indubitavelmente astronômicas!".

    A culpa talvez fosse mesmo das estrelas, pois a história veio à tona após uma delação do astrólogo e economista Renato Chebar e de seu irmão, Marcelo.

    Por mais de uma década, os dois ocultaram no exterior a suposta propina recebida pelo ex-governador, incluindo os US$ 16,5 milhões pagos por Eike Batista.

    Escorpiano com ascendente em capricórnio (como contou à Folha em 2009), Eike é devoto assumido da astrologia, entre outros esoterismos.

    Em entrevista ao "Wall Street Journal", em 2013, atribuiu sua derrocada nos negócios às péssimas condições astrais. E, nos últimos quatro anos, o céu do empresário anda fechado, propício à perda de patrimônio, afirma Marcia Mattos, ex-presidente do Sindicato dos Astrólogos do Rio.

    O que Eike não podia prever é que seu pedido de prisão fosse consequência do testemunho de um astrólogo, Chebar, que foi vice-presidente do sindicato na gestão Mattos.

    Em acordo voluntário de delação premiada, Renato Chebar desmentiu a versão de Eike, de que o R$ 1 milhão que o empresário depositou ao escritório de advocacia de Adriana Ancelmo, mulher de Cabral, eram relativos a um serviço de consultoria.

    O astrólogo, pisciano, foi além: detalhou como teria ajudado a disfarçar a propina do empresário na falsa compra de uma mina de ouro.

    Chebar relatou ao Ministério Público Federal jamais ter estado com Eike e disse que falava apenas com seu sócio Flávio Godinho, preso na quarta-feira.

    Não leu o mapa astral do empresário, tampouco o faria caso fossem mais próximos, já que, contam amigos, reservava o conhecimento sobre os signos para tomar decisões pessoais.

    Chebar não agendava consultas. Um endereço de e-mail atribuído a ele o identifica como "astrologiafinanceira@...". A reportagem escreveu, mas não obteve resposta.

    CONSTELAÇÃO

    As finanças de Cabral, de acordo com o Ministério Público, dependiam das conexões dos irmãos Chebar, que orquestraram uma constelação de operações para receber propina em nome do ex-governador.

    Chebar relatou ter conhecido Cabral no fim dos anos 1990, quando o político o procurava para comprar pequenas quantias de dólar para viajar ao exterior.

    Em 2003, segundo o relato dos irmãos, o pedido foi outro: esconder US$ 2 milhões em contas do operador nos EUA. Em 2007, o valor teria chegado a US$ 6 milhões.

    Ainda de acordo com os irmãos, o dinheiro era entregue mensalmente e em espécie, por Sérgio de Castro, doleiro de Cabral. O político aparecia em reuniões de três a quatro vezes por ano, para prestar contas.

    Em 2007, os pagamentos passaram a ser acertados em conversas no aplicativo de mensagens Pidgin. Os documentos com as transações nunca eram salvos em computadores, mas em pen drives protegidos por criptografia, em uma pasta oculta.

    Uma vez usados, os dispositivos eram destruídos. A última planilha com pagamentos data de 10 de junho de 2015. Com o sol em gêmeos.

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