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    Delatores de Cabral e Eike cumprem prisão domiciliar em Portugal

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    02/02/2017 17h21

    Sérgio Cabral e Eike Batista são quase vizinhos no complexo penitenciário de Bangu, no Rio. O ex-governador está na unidade número oito e o empresário, na de número nove.

    Enquanto isso, os irmãos delatores que expuseram ao Ministério Público Federal (MPF) o esquema do político e do ex-bilionário estão a um oceano de distância, cumprindo prisão domiciliar em Portugal.

    Quando depuseram ao procuradores da Operação Calicute, Renato e Marcelo Chebar concordaram em cumprir uma pena de, no máximo, cinco anos. O crime: operar a ocultação de dinheiro ilícito do ex-governador, em ao menos nove países, desde 2002.

    Divulgação - 5.dez.2011/Governo do RJ
    Sergio Cabral e Adriana Ancelmo em lancamento de livro do empresario Eike Batista, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, em 5 dezembro de 2011
    Sergio Cabral, Adriana Ancelmo e Eike Batista: os três estão presos em Bangu

    Nos primeiros seis meses, os dois escolheram se mudar para Portugal, onde são monitorados por autoridades lusitanas.

    Lá, devem manter uma linha de telefone e um endereço de e-mail, em que possam ser acionados para responder a eventuais intimações e se colocar à disposição de qualquer autoridade brasileira em, no mínimo, 72 horas.

    Depois desse semestre inicial, os Chebar podem prestar serviços comunitários por mais seis meses, dispensados de tornozeleira eletrônica. E então seguem para regime aberto, sem qualquer limitação.

    O procurador José Augusto Vagos, um dos responsáveis pela investigação, diz que o depoimento dos dois irmãos foi fundamental para revelar o caminho da fortuna de Cabral pelo exterior que a força-tarefa "sequer desconfiava que existia".

    Astrólogo, Renato Chebar foi o primeiro a conhecer Cabral, em 2002. Em depoimento, ele contou que no carnaval daquele ano o peemedebista, então deputado estadual, o procurou pois precisava depositar uma pequena quantia de dólares no exterior. Estava preocupado com o escândalo do propinoduto —ainda que não estivesse envolvido com ele.

    Em 2003, quando chegou ao Senado, ele pediu que Chebar escondesse US$ 2 milhões em contas no nome do operador nos EUA. Os valores cresceram junto com a carreira política de Cabral: em 2007, ano em que se tornou governador, as cifras foram a US$ 6 milhões.

    Afinal, foram US$ 100 milhões mantidos no exterior pelos irmãos operadores ao longo desses anos —com propinas de Eike inclusive. Parte da propina do empresário foi disfarçada com a falsa compra de minas de ouro no Uruguais, intermediada pelos Chebar. Parte dessa fortuna incluía 29 diamantes, avaliados em cerca de US$ 2,1 milhões. A pedra mais valiosa é uma de 4,05 quilates, com o terceiro maior grau de pureza atribuída às joias.

    Agora reluzentes ao poder público, os crimes financeiros de Cabral custaram aos operadores quase R$ 20 milhões em multas, já depositados.

    Os Chebar devolveram, cada um, R$ 9,95 milhões aos cofres públicos. A denúncia à força-tarefa, segundo o procurador Vagos, permitiu que a força-tarefa repatriasse "em tempo recorde" outros R$ 270 milhões.

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