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    ANÁLISE

    Chanceler há; falta uma política

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    02/03/2017 17h11

    Alan Marques - 11.mai.2016/Folhapress
    Senador Aloysio Nunes Ferreira, novo líder do governo na Casa
    Senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), escolhido por Temer para o comando do Itamaraty

    Nome, o Itamaraty já tem. Falta, agora, o principal que é uma política externa.

    Desde que Celso Amorim deixou o Ministério de Relações Exteriores, há um buraco enorme nessa área. Pode-se gostar ou não das políticas que Amorim adotou em seus oito anos de reinado, considerado o mais longo mandato na história do Itamaraty.

    Só não se pode dizer que não havia uma política.

    Com Dilma Rousseff, começou o vazio. Primeiro porque ela nunca ligou muito para a área externa, exceto, marginalmente, por assuntos econômicos e comerciais internacionais.

    Mesmo assim, o Brasil foi muito mais ativo no G20, o clubão das maiores economias do planeta, com Lula do que com Dilma.

    Segundo, porque, centralizadora como é, Dilma jamais permitiu que seu chanceler, fosse qual fosse, tivesse o voo mais ou menos livre que Lula consentiu a Amorim.

    Com Michel Temer e José Serra, ou não houve tempo ou não houve apetite para delinear uma política externa digna desse nome. A única iniciativa foi o isolamento da Venezuela, o que qualquer governo minimamente sensato faria, tamanhos são o autoritarismo e o fracasso do governo de Nicolás Maduro.

    Sobre Aloysio, não sei muito o que dizer, em termos de política externa. Conheço-o há uns 30 anos pelo menos, mas só uma vez conversamos sobre o mundo: foi em uma visita que ele fez a Madri, quando eu era correspondente na Espanha, em 1992.

    Não sei –e ninguém sabe– que política ele propõe para enfrentar a era Trump, que é profundamente subversiva, sem dar conotação positiva ou negativa à palavra. É só uma constatação.

    O que fazer com a Venezuela? Tampouco se sabe.

    Na área diplomática-comercial, o Brasil apostou sempre todas as fichas no multilateralismo encarnado na Organização Mundial do Comércio.

    Agora que Trump ameaça a própria OMC, continua sendo uma aposta válida ou é preciso diversificar as fichas?

    Que Serra não tivesse começado a definir essas questões, já é problemático, embora se compreenda (sua preocupação era a política interna, conforme ficava claro ao se acompanhar sua agenda oficial).

    Mas não dá mais para o Brasil, ainda o mais importante país latino-americano, ficar tão fora do mapa que o presidente dos EUA nem sequer se dá ao trabalho de telefonar para seu colega brasileiro, mesmo passados 40 dias da posse.

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