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    análise

    Aposentadoria de único porta-aviões mostra limites dos militares

    IGOR GIELOW
    DE SÃO PAULO

    13/03/2017 02h00

    Antônio Gaudério - 17.fev.2001/Folhapress
    RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 17-02-2001: O porta-aviões São Paulo, antes chamado Foch, chega à baía de Guanabara no Rio de Janeiro (RJ). O porta-aviões, que foi comprado do governo francês por US$ 12 milhões, foi recebido em alto mar por uma escolta da Marinha. O ministro da Defesa, Geraldo Quintão, chegou ao navio de helicóptero. Cinco aviões do tipo Skyhawk e cinco embarcações da esquadra da Marinha, entre elas o porta-aviões Minas Gerais, fizeram parte da cerimônia que comemorou a incorporação do São Paulo à frota. (Foto: Antônio Gaudério/Folhapress. Digital)
    O porta-aviões São Paulo, na chegada à baía de Guanabara, em 2001

    A aposentadoria do único porta-aviões do Hemisfério Sul, o brasileiro São Paulo, é um exemplo das ambições e dos limites dos planejadores militares do país.

    Comprado em 2000 da França a preço simbólico de US$ 12 milhões (pouco menos de R$ 24 milhões no câmbio da época), o navio já tinha 37 anos de uso.

    Segundo a Marinha, 17 anos depois o São Paulo consumiu R$ 287 milhões em operação e reparos. Incêndios a bordo deixaram quatro mortos e diversos feridos. O navio ficou cinco anos parado por ter chegado com seu eixo empenado, e mal saiu do estaleiro nesta década.

    A Força defende a energia despendida. "Esse investimento permitiu que o navio cumprisse bem sua missão, possibilitando à Marinha adquirir a capacitação para operar aeronaves de alta performance embarcadas, realizando 566 lançamentos e ganchos [pousos] de aeronaves", disse o Centro de Comunicação Social da Marinha.

    Até 2000, aeronaves navais eram operadas pela FAB no antigo Minas Gerais, garantindo aos pilotos embarcados o nada elogioso apelido de "praga azul", referência à cor de seus uniformes.

    Comprado em 1956, o Minas já era problemático, tendo recebido um pouso apenas nove anos depois. A partir do São Paulo, a Marinha passou a pilotar seus aviões, adquirindo uma frota de caças de segunda mão.

    Apenas seis países, Brasil incluído, operam porta-aviões capazes de lançar e receber aparelhos de asa fixa, além de helicópteros. Os EUA são líderes incontestes, com dez supernavios nucleares e nove modelos menores.

    Com eles, o país pode projetar poder e agressão a vários pontos do mundo, apoiados por uma esquadra. O Brasil precisava disso?

    A resposta é ambígua. O Brasil nunca teve a pretensão de fazer tal projeção. Seu objetivo era o de se capacitar para esse tipo de operação, o que condiz com a tradição de buscar o máximo de autossuficiência em tecnologias militares. E havia, dissimulada, a questão do status.

    Mas o custo da operação, que demandaria investimentos de até R$ 1 bilhão para manter o barco no mar, e a inviabilidade de construir um novo modelo, algo na casa dos R$ 3 bilhões, forçaram a opção racional pelo descomissionamento do navio.

    A Força aposta tudo em outra arma ofensiva, o submarino nuclear, e uma frota de modelos convencionais mais adequados para a defesa da costa e das áreas do pré-sal.

    Para críticos, o modelo nuclear é uma obsessão análoga à que manteve um porta-aviões tentando navegar.

    O domínio da tecnologia, sustenta o argumento favorável ao investimento, é uma garantia contra eventuais ameaças hoje inexistentes. "Elas surgem", diz o ministro Raul Jungmann (Defesa).

    Sem porta-aviões, segue o programa de modernização dos caças navais Skyhawk, que nunca estiveram aptos a combate, ao custo aproximado de R$ 430 milhões. A frota de 12 unidades é baseada em São Pedro da Aldeia (RJ).

    O porta-aviões já está no Rio, e, em junho, começará o processo de três anos para realocar seus 1.920 tripulantes e sistemas de bordo reaproveitáveis. Depois deverá virar sucata.

    E O RESTO DO MUNDO? - Orçamentos militares em 2015

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