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    ANÁLISE

    'Lista de Janot' amplia o impacto e o alcance da versão de 2015

    IGOR GIELOW
    DE SÃO PAULO

    14/03/2017 17h50

    Pedro Ladeira/Folhapress
    O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em reunião do Conselho Superior do Ministério Público, na sede da PGR, em Brasília
    O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em reunião do Conselho Superior do Ministério Público

    A versão 2.0 da "lista de Janot", talvez o evento apocalíptico mais antecipado da história republicana, despenca sobre o cenário político com uma expectativa de impacto e alcance superiores aos registrados em sua primeira encarnação.

    Se do ponto de vista jurídico o resultado poderá ser decepcionante, politicamente as revelações que surgirem nos inquéritos que forem aceitos terão efeito duradouro sobre os afetados.

    Não que tenha sido trivial anteriormente. Em 6 de março de 2015, mal se respirava em Brasília. Políticos, jornalistas, autoridades e outros comensais do banquete diário do poder não continham a ansiedade sobre quais revelações surgiriam.

    A Operação Lava Jato faria um ano em poucos dias, e ainda havia dúvidas sobre o alcance institucional dos fatos que vinham sendo investigados a partir de Curitiba.

    Recém-reeleita, Dilma colecionava problemas, mas a palavra impeachment não saía nem da boca do mais esperançoso oposicionista.
    Dois anos depois, a nova listagem do procurador-geral chega carregada de outro sentido. A Lava Jato, de forma benéfica e deletéria, incrustou-se no panorama político de forma irremediável.

    O assalto à Petrobras e a outros setores está esmiuçado, figurões do antigo regime estão na cadeia. Eduardo Cunha está preso, Antonio Palocci também.

    O debate sobre a relação empresas-políticos está a pleno vapor, assim como as maquinações dos interessados para bolar uma forma de escapulir da Justiça alterando a lei sobre o caixa dois.

    Com os detalhes da delação da Odebrecht associados à nova leva de inquéritos, contudo, o sentimento entre os principais atores é de risco de implosão do sistema.

    Os primeiros nomes citados na noite de terça (14) já eram conhecidos de vazamentos anteriores, com uma exceção ou outra, e como já se antecipava a enxurrada atinge o coração do governo Temer e de sua base de apoio.

    Em 2015, para ficar na comparação, o desconhecido PP aparecia como sigla mais afetada -ainda que também Palocci e a campanha de Dilma, que caiu por outros motivos, mas também pela percepção da radioatividade do esquema sobre o PT.

    A divulgação agora foi diversa. Em 2015, tuítes anunciavam freneticamente cada novo nome, já que o então relator Teori Zavascki optou pela queda total do sigilo dos casos. Em 2017, não há detalhes e citados são conhecidos extraoficialmente.

    A lista anterior pouco resultou juridicamente até aqui, embora tenha aberto o escopo da Lava Jato. A morosidade usualmente associada aos tribunais superiores e à PGR garantiu que apenas 5 dos 50 investigados naquele primeiro arrazoado virassem réus, e nenhum foi julgado.

    O mesmo pode ser esperado agora. Mas a Lava Jato tornou-se régua e esquadro no debate público, o que naturalmente carrega injustiças.
    Assim que os detalhes do que está sendo investigado vierem à tona, exceto que carreguem alguma sensação de "notícia velha" e o fastio público acabe correspondente, é previsível um frenesi de julgamentos extrajudiciais virtuais e sumários.

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