• Poder

    Saturday, 27-Apr-2024 14:21:32 -03

    Cidade de Pernambuco abriga esqueletos da transposição

    FABIO VICTOR
    EDUARDO KNAPP
    ENVIADOS ESPECIAIS A SALGUEIRO (PE)

    21/03/2017 02h06

    Eduardo Knapp/Folhapress
    Salgueiro, PE, BRASIL, 13-03-2017: ***Especial transposicao do rio Sao Francisco***. Urubus sobrevoam obra parada do canal de transposicao do rio Sao Francisco do eixo norte na cidade de Salgueiro PE. Esse trecho da obra eh de responsabilidade da construtora Mendes Junior, envolvida nas investigacoes da Lava Jato (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, PODER).
    Urubus sobrevoam obra parada de canal de transposição do São Francisco, em Salgueiro (PE)

    Localizada no coração do semiárido nordestino, a pernambucana Salgueiro foi há até pouco tempo um oásis no sertão, ilha de prosperidade na região mais pobre do país.

    Atraídos por duas grandes obras de infraestrutura e milhares de empregos, a transposição do rio São Francisco e a ferrovia Transnordestina, trabalhadores de todo o Nordeste chegaram a Salgueiro.

    Hoje ambas estão paradas, com a maior parte dos canteiros abandonada e trechos já prontos se deteriorando sem proteção contra sol e chuva.

    A cidade de 60 mil habitantes integra o braço inicial do eixo norte da transposição, que era de responsabilidade da empreiteira Mendes Júnior, considerada inidônea por irregularidades investigadas na Lava Jato e que abandonou a obra. O Ministério da Integração aguarda o desfecho de uma nova licitação para retomar as obras no trecho.

    A posição estratégica –equidistante das principais capitais nordestinas e no cruzamento das BRs 232 e 116– foi determinante para que Salgueiro também abrigasse o principal canteiro da Transnordestina. Iniciada em 2006, na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, a ferrovia tem projetados 1.753 km, dos quais só 600 km estão concluídos.

    Concebida para interligar os portos de Pecém (CE) e Suape (PE) a regiões produtoras de grãos e minério no Piauí, a Transnordestina tem as obras paralisadas desde pelo menos o ano passado –há trechos parados há anos.

    Embora esteja a cargo de uma empresa privada, a TLSA (Transnordestina Logística), subsidiária da CSN (Companha Siderúrgica Nacional), a obra sempre dependeu de aportes do governo federal.

    Em janeiro passado, o TCU determinou a suspensão de repasses governamentais, apontando "alto risco de não conclusão" da ferrovia.

    Em nota, a TLSA se disse "totalmente empenhada no planejamento da retomada das obras de construção da ferrovia assim que possível".

    Salgueiro-PE

    MOMENTO CRÍTICO

    O ex-prefeito Marcones Libório (PSB), que administrou Salgueiro por dois mandatos (2009 a 2016) e presenciou o auge e a decadência da cidade, diz que a derrocada coincidiu com a crise econômica do país. "Se a região não tivesse se beneficiado com o período das obras, que atraiu outros investimentos no comércio e construção civil, estaria pior", afirma Libório.

    Assim como moradores ouvidos pela reportagem, o político relata aumento no desemprego e na criminalidade e o agravante da seca, que já dura cinco anos. "Calcula-se que 80% do rebanho bovino do sertão central tenha sido extinto. Ou morreu pela fome ou os animais foram descartados porque seus donos não tinham como manter. O momento é crítico", diz.

    Operador de trator, Everaldo Barros de Oliveira, 39, trabalhou dois anos (2015 e 2016) pela Mendes Júnior nas obras da transposição. Recebia, com horas extras, R$ 2.500 por mês. Com a paralisação, foi dispensado e virou frentista num posto, onde ganha hoje R$ 1.200, menos da metade. "Estamos esperando que [a obra] volte, mas ninguém sabe quando."

    Transposição do rio São Francisco

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024