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    Alvos da Lava Jato participam de posse de Moraes no STF

    LETICIA CASADO
    GUSTAVO URIBE
    BRUNO BOGHOSSIAN
    DE BRASÍLIA
    BERNARDO MELLO FRANCO
    COLUNISTA DA FOLHA

    22/03/2017 17h24 - Atualizado às 20h14

    Pedro Ladeira/Folhapress
    Alexandre de Moraes toma posse nesta quarta como ministro do STF, em Brasília; jurista ocupará a cadeira deixada por Teori Zavascki
    Moraes na posse, nesta quarta, como ministro do STF, em Brasília

    Ao menos dez políticos citados pelos delatores da Odebrecht na Operação Lava Jato participaram da cerimônia de posse do ministro Alexandre de Moraes no STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quarta-feira (22).

    Foram ao Supremo homenagear Moraes os presidentes de Senado e Câmara – Eunicio Oliveira (PMDB-CE) e Rodrigo Maia (DEM-RJ), respectivamente - além de três ministros de Estado – Bruno Araújo (Cidades), Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Eliseu Padilha (Casa Civil), além de três governadores - Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ), Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e Beto Richa (PSDB-PR) - e dois senadores tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG).

    Eles estão na lista dos 83 pedidos de inquéritos protocolados pela PGR (Procuradoria-Geral da República) junto ao STF na semana passada com base nas delações de 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht.

    O ex-presidente José Sarney (PMDB), também alvo de inquérito na Lava Jato, também foi prestigiar o novo ministro do Supremo.

    Outro presente no evento foi o presidente Michel Temer, que nomeou Moraes, então seu ministro da Justiça, para ocupar a vaga aberta com a morte do ministro Teori Zavascki, em 19 de janeiro.

    Nos bastidores, o principal assunto da posse foi a crise entre a PGR e o ministro Gilmar Mendes, do STF.

    Na terça (21), Mendes criticou a PGR e a Polícia Federal por terem supostamente vazado informações das operações Lava Jato e Carne Fraca.

    No dia seguinte, pela manhã, antes da posse de Moraes, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, rebateu. Sem citar Gilmar Mendes, Janot disse que procura se distanciar "dos banquetes palacianos, fugindo dos círculos de comensais que cortejam desavergonhadamente o poder político".

    Eles estiveram juntos no plenário, durante a cerimônia, e em espaço reservado antes de a posse começar, mas não há relatos de que tenham ficado frente a frente ou se cumprimentado durante esse tempo a portas fechadas.

    Janot chegou ao evento por volta de 15h10, e Mendes, pouco antes de 16h.

    Quando o ministro entrou na sala reservada, o espaço já estava cheio e Janot ficou do outro lado do salão, perto da saída para o plenário..

    VAZAMENTOS

    Políticos presentes à posse de Moraes - alguns investigados pela Lava Jato - se recusaram a comentar abertamente o embate entre Mendes e Janot, mas disseram acreditar na possibilidade de anulação de provas em decorrência de vazamentos, algo descartado por ministros do Supremo nos bastidores.

    Deputados, senadores e governadores dizem defender os trabalhos da operação, mas também afirmam ser necessária uma investigação sobre a divulgação das delações mantidas sob sigilo.

    Os políticos querem que a Justiça determine se houve excessos, irregularidades e falhas dos órgãos de investigação - em especial o Ministério Público Federal. Nesse caso, acreditam ser possível que delações ou provas sejam consideradas nulas.

    O ministro Aloysio Nunes acusou a PGR de promover um "vazamento coordenado" de informações da Lava Jato.

    "O Ministério Público tem que ser guardião da lei. Houve um vazamento totalmente fora da lei", afirmou. "As informações vazaram antes chegar gabinete do ministro Fachin. Isso é intolerável."

    O chanceler também criticou Rodrigo Janot por reagir às declarações do ministro Gilmar Mendes.

    "Como um procurador fala uma coisa dessa de um ministro do Supremo? É de lascar", disse.

    Mas ministros de tribunais superiores ouvidos pela reportagem dizem que Mendes, como juiz, poderia ter sido mais contido e evitado o embate com o procurador.

    Alexandre de Moraes não quis comentar sobre a presença de citados na Operação Lava Jato e disse que para a cerimônia são convidados integrantes dos três Poderes nas três esferas de governo.

    "Para a posse, são convidados membros de todos os poderes e de todas as esferas de governo, além de amigos, advogados e e juízes. Eu quero aproveitar para agradecer a presença de todos", disse.

    Ele defendeu que Judiciário, Executivo e Legislativo se unam na formulação de um pacto pela segurança pública no país e disse que pretende auxiliar a corte em temas como a defesa dos direitos fundamentais, o equilíbrio entre os três Poderes e o combate à corrupção e à criminalidade.

    "Eu sempre repeti que a segurança pública não é só uma questão da polícia, mas da sociedade e do Judiciário. O STF tem uma função importante. Não só em jurisprudência e interpretação, mas também estipular um pacto republicano em relação a determinados temas, como da segurança pública", disse.

    CONFUSÃO

    Após o fim da sessão, Aloysio Nunes se exaltou com um segurança que controlava a saída do plenário do STF.

    Aos gritos, ele apontou o dedo para o rosto do funcionário e o chamou de "mal educado" e "grosseiro". Depois perguntou seu nome e avisou: "O senhor vai receber notícias".

    Outros ministros que estavam na mesma fila, como Eliseu Padilha (Casa Civil) e Mendonça Filho (Educação), esperaram pacientemente que a saída fosse liberada.

    Pelo protocolo do STF, os convidados só podem sair do plenário depois dos ministros e ex-ministros da corte e das autoridades que compunham a mesa.

    Procurado pela Folha, o ministro explicou que o segurança havia desrespeitado o ministro da Defesa, Raul Jungmann. Segundo ele, Jungmann estava atrasado para uma reunião e pediu mais de uma vez ao segurança para deixar o local, o que não foi autorizado.

    Ele, então, passou por baixo da cerca, o que levou o segurança, segundo o tucano, a chamá-lo de "mal-educado". "Eu disse a ele, então, que mal educado era ele e informei que faria uma reclamação formal", relatou.

    Depois do incidente, a presidente Carmén Lúcia telefonou para o chanceler e disse para ele relativizar o ocorrido e não pensar mal a respeito da Suprema Corte, o que levou o tucano a decidir a não levar adiante a reclamação.

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