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    Lava Jato

    Ex-governador tucano recebeu propina de R$ 3 mi, segundo delação

    BELA MEGALE
    LETÍCIA CASADO
    DE BRASÍLIA

    26/03/2017 02h00

    Divulgação
    2012 ex-governador de Alagoas Teotonio Vilela Filho Foto: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O ex-governador de Alagoas e presidente do PSDB, Teotônio Vilela Filho, em 2012

    O ex-governador de Alagoas e presidente do PSDB no Estado, Teotônio Vilela Filho, que despontou como uma das principais lideranças tucanas no Nordeste, teria recebido R$ 2,8 milhões em propina durante seu mandato, segundo delatores da Odebrecht na Operação Lava Jato.

    Vilela Filho comandou o Estado por dois mandatos consecutivos, de 2007 a 2014.

    O repasse, segundo os delatores, foi feito por causa da atuação de Vilela Filho em favor da empreiteira nas obras do Canal do Sertão Alagoano, maior projeto de infraestrutura hídrica do Estado.

    O ex-governador cobrou da Odebrecht 2,25% de propina de contratos da obra, disseram à PGR (Procuradoria-Geral da República) executivos e ex-executivos da empreiteira que firmaram delação.

    O dinheiro foi repassado a Vilela Filho e a outros dois agentes públicos ligados à Secretaria de Infraestrutura do Estado, segundo os depoimentos.

    Um dos delatores que trataram do assunto foi João Pacífico, ex-diretor do grupo no Nordeste. Como contrapartida, as licitações das obras do lote 4 foram direcionadas à Odebrecht, disse. Os delatores também afirmaram que o lote 3 foi direcionado à OAS.

    A negociação e os pagamentos foram feitos enquanto o tucano ainda governava o Estado, afirmam as delações. O dinheiro teria sido pago pela área de operações estruturadas da Odebrecht, apontada como o departamento responsável por pagamentos ilícitos do grupo.

    Além de Teotônio Vilela Filho, outros políticos se beneficiaram das obras do canal, segundo os delatores. A lista incluiria o senador Fernando Bezerra (PSB-PE), que na época da negociação era ministro da Integração Nacional (2011-2013) do governo da ex-presidente Dilma Rousseff.

    De acordo com a Odebrecht, os recursos para as obras sairiam da pasta de Bezerra e, por isso, foi acordado com ele o aporte de cerca de R$ 1 milhão para sua campanha ao Senado em 2014.

    O dinheiro também teria sido repassado por meio de caixa dois, pago como reconhecimento pela atuação de Bezerra a favor da Odebrecht nas obras do canal.

    Os relatos dos delatores envolvendo Bezerra integram investigação que corre no STF (Supremo Tribunal Federal).

    Na última terça-feira (21), as delações embasaram uma nova fase da Lava Jato contra pessoas ligadas aos senadores Valdir Raupp (PMDB-RO), Renan Calheiros (PMDB-AL) e Humberto Costa (PT-PE). Nenhum parlamentar foi alvo diretamente.

    A Odebrecht é uma das empreiteiras envolvidas na construção do canal, cujas obras foram iniciadas em 2002, mas ganharam força a partir de 2007.

    Projetado para ter 250 km de extensão e abastecer cerca de 1 milhão de pessoas no semiárido ao custo de R$ 1,5 bilhão, o canal está em construção há mais de dez anos e ainda não chegou à metade do projeto inicial. Hoje tem 107 quilômetros finalizados e atende 160 mil pessoas.

    Já foram gastos mais de R$ 2 bilhões na construção até o lote 4. Além da Odebrecht e da OAS, a Queiroz Galvão participou da obra. Todas são alvos da Lava Jato.

    OUTRO LADO

    Procurado pela reportagem, o ex-governador Teotônio Vilela Filho disse, por meio de sua assessoria, que desconhece as informações apuradas pela Folha e reafirma que nunca negociou favores ou autorizou quem quer que seja a negociá-los em seu nome.

    A defesa de Fernando Bezerra Coelho, ex-ministro da Integração Nacional, afirmou que desconhece qualquer menção ao senador na operação realizada na terça (21). Disse ainda que Bezerra está à disposição das autoridades para esclarecimentos.

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