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    Duda Mendonça fecha acordo de delação com a Polícia Federal

    CAMILA MATTOSO
    DE BRASÍLIA

    05/04/2017 20h37

    O marqueteiro Duda Mendonça fechou acordo de delação premiada com a Polícia Federal.

    O acordo agora depende de homologação do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal).

    Duda é citado nas delações da Odebrecht como destinatário de recursos de caixa dois de campanha eleitoral.

    Na terça (4), Fachin havia homologado o acordo de delação de outro marqueteiro político, João Santana, com a Procuradoria-Geral da República. Santana também aparece nos depoimentos de executivos da Odebrecht em pagamentos de caixa dois.

    Duda trabalhou na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e Santana na reeleição do petista em 2006 e nas vitórias de Dilma Rousseff em 2010 e 2014.

    A Folha revelou no ano passado que Duda procurou o Ministério Público Federal para informar que recebeu da Odebrecht, por meio de caixa dois, parte dos pagamentos de trabalhos realizados na campanha de Paulo Skaf (PMDB), ao governo de São Paulo, em 2014.

    O acordo de delação premiada, porém, foi fechado com a PF em Brasília, segundo a Folha apurou. Nos bastidores, há uma disputa entre polícia e procuradores por fechar acordos de colaboração. O procurador-geral, Rodrigo Janot, entrou até com ação no Supremo Tribunal Federal para discutir o assunto e impedir que a PF faça as colaborações. O processo está em andamento e não teve ainda discussão do mérito.

    Segundo apuração da Folha, em relação a Duda Mendonça, a equipe de Janot disse que não tinha interesse nas informações do publicitário, que não ajudariam as investigações a avançar nas lacunas ainda não preenchidas.

    Procurados pela reportagem, a PF e os advogados de Duda não se manifestaram.

    A confissão do recebimento de recursos não declarados à Justiça Eleitoral fazia parte de uma tentativa de delação premiada que o marqueteiro negociava com os procuradores.

    Duda solicitou à Odebrecht, segundo um ex-executivo da empresa, um apartamento como parte de seu pagamento por ter atuado na campanha de Skaf.

    Em depoimento à Justiça Eleitoral, Hilberto Mascarenhas, que era o responsável pelo departamento de operações estruturadas da Odebrecht no início de 2015, disse que negou a solicitação.

    "Ele veio me solicitar que eu compasse para ele um apartamento em Salvador, num prédio novo que está lançando lá, que custava R$ 6,5 milhões, R$ 7 milhões. Disse: 'Compra um apartamento pra mim e nós estamos quites'", relatou o ex-executivo em depoimento na ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

    "Como é que eu compro oficial um apartamento, boto no ativo da empresa, depois transfiro para o Duda Mendonça? Pelos seus belos olhos? Não existe, Duda, esqueça", enfatizou Hilberto, que na época comandava a área responsável por pagamentos ilícitos da empresa.

    Duda pediu, então, que comprasse cavalos. "Olha Duda, não teremos fruto nessa reunião. Interrompa, vá embora, mande seu filho voltar aqui amanhã com outro tipo de mente, raciocínio, porque o que você vai receber é bufunfa, ou aqui ou em conta no exterior", explicou Hilberto.

    "Aqui não tem negócio de nota falsa, não tem nada disso, é pagamento em dinheiro, tchau e 'bença' e acabou a conversa", finalizou.

    Posteriormente, o repasse foi combinado entre o filho do Duda e Fernando Migliaccio, que era funcionário de Hilberto.

    Segundo o delator, esse montante fazia parte de uma doação combinada para a campanha de Paulo Skaf e que ficou em aberto após o pleito terminar.

    Hilberto disse que, ao todo, foram acertados R$ 10 milhões para a campanha do peemedebista e que R$ 6 milhões deles foram pagos à Mendonça.

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