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    Garotinho reestreia em rádio com críticas a PMDB e prêmios

    GABRIELA SÁ PESSOA
    ENVIADA ESPECIAL AO RIO

    09/04/2017 02h00

    Ricardo Borges - 07.abr.2017/Folhapress
    Rio de Janeiro,RJ, BRASIL; 07/04/2017 Foto do ex-Governador do Rio, Anthonny Garotinho durante a apresentacao do seu programa, Fala Garotinho, na Rádio Tupi; (Foto: Ricardo Borges/Folhapress)
    Anthony Garotinho durante transmissão de seu programa de rádio, 'Fala Garotinho'

    Quando o telefone tocar, não diga alô. "Diga Faaala, Garotinho", anuncia no rádio a voz empostada do ex-governador do Rio, Anthony Garotinho (PR). O ouvinte da Super Rádio Tupi que tiver a resposta na ponta da língua ganha R$ 100 para recarregar o celular.

    Desde 13 de março, Garotinho assumiu a faixa das 9h às 10h na emissora. A Tupi teve, em média, 213,379 mil ouvintes nesse horário de novembro a janeiro –ou 1,96% da audiência medida pelo Ibope.

    "Olá, bom dia", diz, alongando a última vogal. Notas que lembram a trilha de um filme de suspense, com o tique-taque acelerado de um relógio, criam um fundo sonoro de tensão.

    É a deixa para os comentários sobre o noticiário, que abrem o "Fala Garotinho". Na sexta (7), giraram entre a crise financeira do Rio, críticas ao governo do PMDB e a reforma da Previdência, alguns dos alvos preferidos da atração. Antes da parte mais leve e premiada do programa, uma mensagem religiosa, para elevar o espírito do ouvinte.

    O radialista, porém, pega mais leve do que no afiado blogdogarotinho.com.br.

    "Tenho que dosar [a crítica a políticos] para separar o Garotinho radialista do Garotinho político. Senão, daqui a pouco estou perdendo meus clientes", conta, sorridente, referindo-se a anunciantes que pretende cultivar na Tupi. São marcas de produto de beleza e três supermercados.

    A produção já negocia com telefônicas o patrocínio do sorteio que distribui R$ 100 para quem atender o celular dizendo "fala, Garotinho" –a equipe recebe, em média 1.200 ligações por dia com inscrições para o quadro. E tem "permuta" com um salão de cabeleireiros que oferece um dia completo de beleza às ouvintes do ex-governador.

    RETORNO

    O retorno do político à emissora onde apresentou um programa de mesmo formato de 1993 a 2002 tem mesmo suas razões financeiras.

    A primeira é da própria rádio, fundada por Assis Chateaubriand e controlada por herdeiros dos Diários Associados. A Tupi enfrenta uma crise financeira e, em janeiro, funcionários entraram em greve pelo pagamento de seis meses de salários atrasados.

    Segundo o Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro, ainda há funcionários paralisados –alguns, como o locutor Haroldo de Andrade Júnior, antigo titular das 9h às 12h, saíram da emissora.

    O buraco na grade e nas finanças levou a direção da rádio a convidar Garotinho, conhecido por atrair anunciantes. "Não acho que vá alterar [minha popularidade] a presença no programa. Estou fazendo rádio porque preciso. Tenho que pagar minhas contas, né?", diz o novo locutor.

    Não vê problema em assumir o posto com colegas ainda sem receber? "A gente está voltando justamente para tentar ajudar", diz Garotinho. "Sei que com os anunciantes que vou levar, meus colegas vão receber também."

    O ex-governador não é contratado da rádio. Tem uma "parceria", segundo Edson Perrota, diretor comercial da Tupi: seu pagamento é um percentual sobre a publicidade que conseguir levar à emissora. Quanto? "Estou te contando o milagre, agora você quer saber quem é o santo?", diz um humorado Perrota.

    A Folha apurou que Garotinho recebe 36% de cada contrato publicitário –a expectativa é chegar a R$ 1 milhão por mês. O valor cobre a produção do programa, com equipe própria de Garotinho, e alguns dos brindes que a atração distribui.

    Como os R$ 50 para trocar por combustível ao primeiro taxista com a placa do dia que estacionar, durante o programa, no 120 da rua Fonseca Teles, em São Cristóvão.

    Na quarta (5), era quem carregasse o final de número 34. Quis a sorte que fosse o sr. Fernando, 74, um português com ponto em frente à rádio. Foi recebido por Garotinho no estúdio e saiu com uma onça num envelope amarelo.

    O formato popularesco é o mesmo do programa original de Garotinho, dos anos 1990, antes de se lançar na política. O retorno aos gabinetes, porém, ainda é incerto.

    "Não estou considerando 2018, francamente falando. Vou esperar o quadro evoluir. Vamos dizer assim: se tiver uma conjuntura nacional, não só estadual, que me empolgue, que me empolgue, posso até ser candidato."

    Especula-se que ele tentará uma vaga no Senado. Seu partido tem o vice de Marcelo Crivella (PRB), Fernando Mac Dowell. O prefeito, porém, evitou expor a ligação com Garotinho na campanha.

    Seu grupo político saiu derrotado do pleito em Campos dos Goytacazes, berço político do ex-governador, governado até 2016 por sua mulher, Rosinha. "Discutível, né?", diz sobre o resultado, que acredita ter sido fraudado.

    Garotinho foi preso em novembro de 2016, suspeito de aumentar o número de beneficiados pelo programa Cheque Cidadão (R$ 200) em Campos com fins eleitorais.

    O episódio ficou marcado pelas cenas de sua transferência, em uma ambulância, da UTI para a penitenciária. O ex-governador diz que, por decisão judicial, está proibido de falar sobre o ocorrido.

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