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    Racista é a Procuradoria, 'que nunca sentiu cheiro de povo', diz Bolsonaro

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE SÃO PAULO

    11/04/2017 15h05

    O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) disse que quem o acusa de racismo "não sabe o que é Brasil, nunca sentiu o cheiro do povo", e que ele, ao contrária da esquerda, leva "com seriedade a questão indígena e a quilombola [descendentes de escravos]".

    Bolsonaro entrou na mira do Ministério Público Federal sob acusação de discriminação racial. Em comunicado na segunda (10), a Procuradoria afirma que "o julgamento ofensivo, preconceituoso e discriminatório do réu a respeito das populações negras e quilombolas é incontestável".

    Uma semana antes, disse o deputado em palestra no clube Hebraica do Rio: "Fui num quilombo, e o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas [medida comumente usada para pesar gado]. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles". A plateia reagiu com risos.

    Ricardo Borges/Folhapress
    Rio de Janeiro, Rj, BRASIL. 10/03/2017; Retrato do deputado Jair Bolsonaro em clube de subtenentes e sargentos do exército na cidade do Rio de Janeiro. ( Foto: Ricardo Borges/Folhapress)
    O deputado Jair Bolsonaro em clube de subtenentes e sargentos do exército no Rio

    À Folha o militar da reserva afirmou que sua fala sobre o peso foi "irônica" e sobre "uma pessoa específica", não o grupo todo. Não quis explicar a parte do "nem para procriador ele serve mais".

    "Que se exploda o que está no vídeo", respondeu quando questionado sobre o que exatamente quis dizer com aquelas palavras. "Se continuar batendo nesta tecla, vou desligar o telefone."

    Não desligou. Afirmou que os quilombolas com quem conversa "querem independência, e não serem tutelados pelo Estado. O governo, em vez de dar autonomia para o quilombola evoluir, trata-o como um ser humano em zoológico. O tratamento dispensado a eles, isso é ser racista."

    Em breve ele receberá o apoio de vários quilombolas, disse, sem especificar nomes. "Estão ligando para mim." O quilombo que visitou fica em Eldorado Paulista (SP), região familiar ao deputado.

    Em 2011, Bolsonaro contou à Folha sobre por que se decidiu por uma carreira nas Forças Armadas. "Conheci o Exército porque Lamarca [militar desertor antiditadura] passou pela minha cidade, atirou em oito policiais militares e feriu um civil. Ele se refugiou lá perto de Eldorado Paulista."

    Para Bolsonaro, pré-candidato à Presidência, os procuradores "estão perdidos dizendo que sou racista. O que querem com isso, me tirar de combate em 2018?". Haveria uma obsessão por ele. "Eu falo 'uuuuuu', e me processam." Disse antes no Hebraica: "Me esculacham tanto e mesmo assim eu continuo subindo nas pesquisas".

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