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    Lava Jato

    Alckmin vê cunhado citado em delação da Odebrecht como aliado fiel

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    PAULO GAMA
    DE SÃO PAULO

    13/04/2017 02h00

    Quatro dias antes de ter seu nome divulgado nas delações da Odebrecht, sob acusação de receber "pessoalmente" parte dos R$ 10,7 milhões que a empreiteira teria dado a seu cunhado Geraldo Alckmin, Adhemar César Ribeiro foi marcado no Facebook. Era a foto de uma mulher sorridente jogando papéis para o alto.

    "Não há mau humor e estresse que resistam à magia da sexta no final do expediente!", dizia a legenda de um anúncio da Youw, recém-aberta empresa de sua família, com escritórios compartilhados na paulistana av. Brigadeiro Faria Lima.

    A semana começou pouco mágica para Adhemar, um dos 11 irmãos da primeira-dama paulista, Lu Alckmin, que nas redes sociais exalta ter nascido "numa família numerosa e unida". Em dezembro, a Folha adiantou que o cunhado do governador compartilhou um escritório seu para a entrega de recursos, segundo os termos da delação agora tornada pública.

    Bruno Poletti/Folhapress
    SAO PAULO, SP, 21.03.2017: Geraldo Alckmin e Lu Alckmin - Jantar em homenagem a Joao Doria, na casa de Lucilia Diniz. (Foto: Bruno Poletti/Folhapress, FSP-MONICA BERGAMO) ***EXCLUSIVO FOLHA***
    Geraldo e Lu Alckmin em jantar em homenagem a João Doria

    Ele é braço-direito do governador há mais de uma década. Em 2006, com sua ajuda, o comando da campanha presidencial do tucano montou um gabinete para o comitê financeiro. Após a derrota para Lula (PT), por um período o tucano usou o espaço de uma das empresas do cunhado, na avenida Nove de Julho.

    A reportagem conversou com três aliados de Alckmin que tiveram contato com Adhemar em campanhas prévias. O trio descreve a relação dos cunhados como "íntima" e "discreta". Em 2010, quando o tucano concorreu ao governo de SP, "só tratava dessas coisas [dinheiro] com o Adhemar", diz um correligionário.

    O cunhado é visto como um "um aliado fiel", que só faria algo com autorização expressa do marido da irmã.

    Não é a primeira vez que Adhemar é associado a um esquema de corrupção. Ele sequer é o único irmão de dona Lu com imbróglios legais.

    Em 2011, a coluna "Painel" publicou a nota "Os Cunhados": "Entre as encrencas a envolver os irmãos da primeira-dama, a que mais aborreceu Alckmin foi a protagonizada por Adhemar. Ao contrário de Paulo Ribeiro, investigado na máfia da merenda em Pindamonhangaba e de quem o governador nunca foi próximo, Adhemar sempre desfrutou da confiança do tucano".

    Naquele ano, a Corregedoria-Geral da Prefeitura de São Paulo reabriu investigação já arquivada na gestão Marta Suplicy (PT). Alvo: Wall Street, empresa da qual ele era procurador, e sua esposa e filhos, sócios. Suspeita: falsificação de papéis que teria fraudado o município em R$ 4 milhões.

    Na época, Adhemar reclamou de perseguição por ter ajudado seu cunhado a arrecadar dinheiro na eleição de 2008. O racha entre Gilberto Kassab, que acabou virando prefeito, e Alckmin (terceiro lugar) monopolizava o noticiário. Adhemar também se queixou de ter um prédio lacrado pela Prefeitura de Kassab.

    Outro endereço de Adhemar virou notícia em 2016. Aos 75 anos, o empresário foi alvo de uma quadrilha especializada em invasões de casas de luxo. Segundo o Boletim de Ocorrência, ele dormia em sua mansão no Morumbi quando bandidos encapuzados arrombaram a porta de seu quarto.

    "Ao sentar na cama, o sr. Adhemar foi agredido com um soco no peito, e ao levantar, com um soco no estômago. Colocaram uma arma em sua cabeça." Levaram-lhe dois cofres com joias, relógios, dinheiro e um revólver calibre 38.

    É nesta casa que ele mora com a esposa, Maria Paula Abreu, filha de Paulo Abreu (1912-1991) -senador nos anos 1950 que dá nome ao edifício do Banco das Nações, que fundou em São Paulo.

    Adhemar é o atual presidente-executivo do Grupo Nações, segundo o site da companhia, que atua em investimentos imobiliários (Wall Street Empreendimentos), estacionamento (Ceasa Park), agropecuária, construção, seguros e aeronáutica.

    É nesta casa que ele esperava uma visita do governador na noite de terça, após a divulgação das delações, como contou, por telefone, um de seus empregados. A Folha questionou a assessoria de imprensa do tucano sobre o encontro (sem resposta) e sobre eventuais participações de seu cunhado em campanhas.

    Adhemar "nunca teve papel" nelas."Foi, sim, um apoiador, como centenas de outros. É empresário, com vida bem sucedida no mundo dos negócios, e nunca manteve nenhuma relação com o governo do Estado de São Paulo durante os mandatos do governador", diz a equipe de Alckmin.

    O empresário foi procurado em casa e no escritório várias vezes ao longo de quarta. Não respondeu nenhum recado.

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