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Caio Magri, presidente do Instituto Ethos, durante o Fórum Conformidade nos Negócios |
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Poder
Monday, 23-Dec-2024 13:30:47 -03Espero que Temer contribua para eleições antecipadas, diz Caio Magri
RAQUEL LANDIM
DE SÃO PAULO13/04/2017 02h00
Caio Magri, diretor presidente do Instituto Ethos, diz que a crise política chegou a um ponto tão agudo, que vai exigir um "passo ousado" da sociedade brasileira.
Ele defende a instalação de uma constituinte exclusiva para a reforma política e a antecipação das eleições previstas para 2018.
"Espero do presidente Temer a grandeza de avaliar a possibilidade efetiva de contribuir para que as eleições sejam antecipadas e democráticas", disse à Folha.
Magri, que dirige uma organização não governamental formada por mais de 500 empresas, reconhece a responsabilidade do setor privado na crise. "Se temos um setor político venal, existe também um setor privado estruturado para competir apenas nessas condições".
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Folha - O ministro Edson Fachin (STF) autorizou a abertura de inquéritos contra 98 políticos. O sistema político foi colocado em xeque?
Caio Magri - O sistema político está em xeque há muito tempo, mas agora chegamos num ponto agudo, porque a crise atinge todas as gerações políticas do período democrático pós-ditadura. Não existe uma geração nova capaz de superar o que está aí.
Isso vai exigir que a sociedade tenha serenidade e cobre que o processo vá até o fim. Os excessos da Operação Lava Jato devem ser corrigidos, mas sem haver impunidade.
Precisamos dar um passo ousado. Especialistas já propuseram a convocação de uma constituinte exclusiva. Seria fundamental para reorganizar o sistema político e aperfeiçoar a prevenção e combate a corrupção.
O senhor vê risco de uma ruptura institucional no Brasil?
Por enquanto, não acredito, porque temos maturidade política. Ainda temos uma sociedade muito dividida com o "fla-flu" dos últimos anos, mas a maioria da população não quer uma ditadura ou um golpe militar.
Temos que pactuar essa saída. Estamos chegando num momento de desfecho.
Como seria esse pacto?
Primeiro, um pacto pela manutenção dos princípios e garantias de um Estado democrático de direito. Segundo, uma saída política para reformar as principais questões do sistema eleitoral e político. Por fim, novas eleições.
Mas é possível juridicamente antecipar as eleições de 2018?
Vale uma consulta mais aprofundada sobre isso. O problema é que o prazo eleitoral pode caducar em função da crise. Se isso ocorrer, pode haver um desgaste muito profundo na relação entre a classe política e a sociedade.
Neste caso, poderia, sim, ter risco de ruptura, com as pessoas acreditando que a situação só se resolveria pela força. Espero do presidente Temer a grandeza de avaliar a possibilidade efetiva de contribuir para eleições antecipadas e democráticas.
Se nada for feito, qual é o risco do surgimento de "salvadores da pátria" em 2018?
Se não tivermos uma saída política e jurídica sem permitir a impunidade, vamos agravar essa repulsa à política que pode levar a uma aventura.
O discurso será de que todos os partidos não prestam e que o candidato vai botar ordem e fazer uma boa gestão. Seja com uma postura ideológica, como o deputado Jair Bolsonaro, ou de forma tecnocrática, que é o estilo do prefeito de São Paulo, João Doria.
O STF probiu que as empresas financiem campanhas. Qual é a sua opinião sobre isso?
O financiamento empresarial de campanha é o ovo da serpente da corrupção no Brasil, porque se estruturou no toma lá, dá cá.
O que leva uma empresa a bancar R$ 150 milhões numa campanha eleitoral como algumas empreiteiras fizeram em 2010 e a JBS em 2014? O que leva a esse "investimento"? O financiamento eleitoral nunca foi desinteressado.
Não podemos retroceder nessa questão, mas, por outro lado, temos que corrigir a distorção das últimas eleições em que praticamente só os candidatos que tinham dinheiro próprio se elegeram.
A ideia é limitar a contribuição das pessoas e estimular a militância dos partidos a conseguir recursos para eleger seus representantes.
Os políticos estão tentando diferenciar o caixa 2 da corrupção. O que senhor acha disso?
É impossível. O doador não tem a origem do dinheiro: se foi propina, suborno ou uma operação fiscal. Por que a doação para um partido político é corrupção e para outro é caixa 2 vindo da mesma empresa? Criminalizar o caixa 2 é importante porque ele tem sido utilizado para lavar dinheiro, pelo crime organizado e pela corrupção.
Se existe o corrupto, existe o corruptor. Qual é a responsabilidade do setor privado nessa crise?
É enorme. Se temos um setor político venal, existe também um setor privado estruturado para competir apenas nessas condições.
E não adianta entrar na discussão do ovo e da galinha, porque existe a oferta de oportunidade por parte dos políticos e a pressão do setor privado para que essas ofertas aconteçam.
O setor privado tem a responsabilidade de contribuir para a solução, criando uma nova relação com o setor público com transparência nas relações.
Os inquéritos foram abertos com base na delação de uma empresa, a Odebrecht. Outras empresas e setores também podem estar envolvidos em corrupção?
Sem dúvida. Existem outras empresas se preparando para fazer delações. A diferença é que essas delações precisam trazer fatos novos.
Temos que reabrir, por exemplo, as contas da Copa e da Olimpíada. Vão aparecer outros setores, não só infraestrutura, mas também serviços.
A área de saúde também precisa de atenção. Tem vários outros setores que precisam ser abertos e investigados.
Espero que as empresas que querem se sustentar nesse processo rapidamente se apresentem e façam suas delações.
Em 2015, a lista do procurador Rodrigo Janot gerou comoção,mas poucos resultados. Isso pode acontecer novamente?
A tolerância da sociedade agora é bem diferente. Isso não deve ser medido pelas manifestações, mas pela imprensa, pela pressão externa e pela necessidade de um ambiente econômico confiável para o país voltar a crescer.
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