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    Lava Jato

    Setor de propina da Odebrecht tinha sistemas secretos e 4 níveis de contas

    FLÁVIO FERREIRA
    PAULO GAMA
    DE SÃO PAULO

    15/04/2017 02h00

    Pedro Ladeira-6.mar.2017/Folhapress
    Hilberto Mascarenhas chega ao TSE, em Brasília; ex-executivo da Odebrecht será ouvido na ação que investiga a chapa Dilma-Temer
    Hilberto Mascarenhas, que chefiou o setor de propinas da Odebrecht, chega ao TSE para depor

    Sistemas de controle financeiro e de comunicação secretos, quatro níveis de contas e até uma estratégia para evitar bebedeiras de carregadores de dinheiro fizeram parte dos nove anos de funcionamento do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht.

    Essa divisão da empresa especializada no pagamento de propinas, repasses de caixa dois e remuneração camuflada de seus executivos foi criada em 2006 para organizar o crescente fluxo de dinheiro sujo na companhia.

    Encarregado de montar o setor, o executivo Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho disse em sua delação que logo percebeu a necessidade de ter um sistema de registros exclusivo para a área.

    "Quando começou a circular dinheiro demais, fiquei preocupado. Então fomos analisando o sistema da tesouraria oficial, conhecido como o "MyWebDay", e dizendo o que a gente precisava adaptar", afirmou.

    Esse exame levou ao desenvolvimento da versão "B" do "MyWebDay", cujos dados foram armazenados em um servidor em Angola, país onde a Odebrecht tem obras.

    Como o sistema de informática sempre caía e um funcionário da área de tecnologia no país africano chegou a bisbilhotar o "MyWebDay B", a empresa decidiu levar os registros para onde não houvesse operações da companhia.

    Um data center na cidade de Genebra, na Suíça, então, foi escolhido para armazenar as informações.

    Para as comunicações entre os membros do setor e operadores financeiros, foi usado um sistema de e-mails paralelo, o "Drousys", instalado no mesmo local na Suíça.

    O fluxo do dinheiro também contou com um método de ocultação. Segundo o delator Luiz Eduardo Soares, o setor tinha quatro camadas de contas correntes.

    As contas de nível um ficavam em nome de empresas do grupo no exterior, que pagavam companhias subcontratadas pela Odebrecht.

    Essas subcontratadas, por sua vez, abasteciam as chamadas contas de nível dois, abertas por Soares em nome de terceiros no exterior. Em seguida, em uma terceira etapa, os recurso eram transferidos para contas de mesmo perfil, apenas para acrescentar uma camada à operação.

    As contas de nível quatro tinham como titulares os operadores financeiros de confiança da empresa, e daí os recursos seguiam para os destinatários finais.

    Soares diz que, a partir de 2009, o volume de operações cresceu de maneira "vertiginosa" e "o dinheiro ia direto do nível dois para o quatro".

    O setor também tinha uma estratégia para evitar a eventual embriaguez de transportadores de valores.

    "Tinha uma tentativa nossa de não pagar nada nem segunda e nem sexta. Essa era uma exigência dos operadores. Eles achavam que segunda muita gente faltava porque tinha tomado cachaça no fim de semana, e sexta o cara já estava na cachaça também", explicou Hilberto.

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