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    Lava Jato

    Cunha diz que reunião com Odebrecht foi 'agendada diretamente' com Temer

    PAULO GAMA
    DE SÃO PAULO

    17/04/2017 16h52

    Ueslei Marcelino/Reuters
    Brazil's Vice President Michel Temer (L) is seen near President of the Chamber of Deputies Eduardo Cunha during the Brazilian Democratic Movement Party (PMDB) national convention in Brasilia, Brazil, March 12, 2016. REUTERS/Ueslei Marcelino ORG XMIT: BSB01
    O vice Michel Temer (esq.) e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha

    Em nota escrita do complexo penal onde está preso, em Curitiba, o ex-deputado Eduardo Cunha rebateu o teor de entrevista do presidente Michel Temer, no sábado (15), à TV Bandeirantes.

    Na nota, Cunha questiona dois pontos principais: no primeiro, sustenta que o encontro de 2010 – em que delatores da Odebrecht dizem ter negociado propina para o PMDB em reunião de que ele e Temer participaram – foi "agendado diretamente com" o presidente.

    No segundo, afirma que a decisão de abrir o processo de impeachment de Dilma Rousseff, em dezembro de 2015, foi discutida com o então vice dois dias antes de oficializada.

    O texto foi distribuído a interlocutores próximos.

    Temer confirma a existência da reunião, realizada em seu escritório político em São Paulo, mas nega que nela tenham sido discutidos valores ou acertos escusos. Também negou, em entrevista à Band, no sábado, ter sido ele o responsável por agendar a reunião.

    Entenda a Lava Jato

    "[Em 2010], o Eduardo Cunha diz: 'Há uma pessoa que quer colaborar, mas quer pegar na sua mão, quer cumprimentá-lo'. E ajustamos um dia em que eu estava em São Paulo. Eu até confesso que cheguei um pouco atrasado à reunião", disse Temer.

    Na nota, Cunha diz que "o presidente se equivocou nos detalhes".

    "A referida reunião não foi por mim marcada. O fato é que estava em São Paulo, juntamente com Henrique Alves e almoçamos os três juntos no restaurante Senzala, ao lado do escritório político dele, após outra reunião e fomos convidados a participar dessa reunião já agendada diretamente com ele."

    Cunha diz, no entanto, que na reunião "não se tratou de valor nem [se fez] referência a qualquer contrato daquela empresa".

    "A conversa girou sobre a possibilidade de possível doação e não corresponde a verdade o depoimento do executivo", escreveu o peemedebista.

    Os delatores da Odebrecht sustentam ter recebido, nesse encontro, a chancela de Temer para o pagamento de US$ 40 milhões em propina a integrantes do PMDB

    IMPEACHMENT

    Na mesma nota, Cunha afirma que sua decisão pela abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff foi previamente submetida ao então vice.

    Segundo Cunha, o parecer foi "debatido e considerado por ele correto do ponto de vista jurídico".

    "O verdadeiro diálogo ocorrido sobre o impeachment com o então vice-presidente, às 14 horas da segunda-feira, 30 de novembro de 2015, na varanda do Palácio do Jaburu, 48 horas antes da aceitação da abertura do processo de impeachment foi submeter a ele o parecer que aceitava o impeachment", escreve.

    "O parecer, preparado por advogados de confiança mútua, foi debatido e considerado por ele correto do ponto de vista jurídico", diz o deputado.

    Na mesa entrevista à Band, no sábado, Temer havia dito que Cunha o procurara para dizer que, como o PT havia prometido votar a seu favor no processo de cassação que tramitava no Conselho de Ética, o então deputado decidira engavetar os pedidos.

    Depois, no entanto, quando o PT anunciou posição favorável a sua cassação – seguiu Temer – Cunha voltou a procurá-lo para dizer que o acordo tinha ruído e que o processo seria aberto naquela tarde.

    CONDENAÇÃO

    Em março, Cunha foi condenado a 15 anos e quatro meses de prisão pelo juiz Sergio Moro pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão fraudulenta de divisas.

    Ele é acusado de receber propina de US$ 1,5 milhão em um negócio da Petrobras em Benin, na África. Além do recebimento do dinheiro, Cunha também foi condenado por ter ocultado os valores entre 2011 e 2014, enquanto era deputado, segundo o juizsa é a primeira condenação de Cunha na Lava Jato.

    Ele também é réu em outras duas ações, por suposto recebimento de propina em contratos de aquisição de navios-sonda pela Petrobras junto a um estaleiro sul-coreano e também em um desdobramento da operação, que prendeu Lucio Funaro, apontado como operador financeiro do ex-deputado.

    Cunha ainda é investigado em ao menos outros cinco inquéritos.

    Na decisão em que o condenou, Moro criticou o envio de questionamentos por Cunha para o presidente Michel Temer, arrolado inicialmente como testemunha de defesa no caso.

    O juiz afirma que Cunha, já em seu período na cadeia, provavelmente tentou provocar "alguma espécie de intervenção indevida" de Temer em seu favor na Justiça ao encaminhar perguntas a ele na ação penal, em novembro passado.

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    Reprodução de nota escrita por Eduardo Cunha na prisão, em Curitiba
    Reprodução de nota escrita por Eduardo Cunha na prisão, em Curitiba
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