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    Papa cita crise ao recusar convite de Temer para visitar Brasil

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE SÃO PAULO

    18/04/2017 17h56

    O papa Francisco citou a crise nacional ao declinar um convite de Michel Temer para visitar o Brasil.

    Na carta ao presidente, o líder da Igreja Católica diz que são sobretudo "os mais pobres" que pagam "o preço mais amargo" por "soluções fáceis e superficiais para crises", sem explicitar quais seriam estas.

    A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) já criticou abertamente a reforma da Previdência defendida por Temer. "Os direitos sociais no Brasil foram conquistados com intensa participação democrática; qualquer ameaça a eles merece imediato repúdio", disse a instituição católica em nota de março enviada a parlamentares.

    Divulgação
    O sagrado manto palestrino chegou às mãos do Papa Francisco nesta quarta-feira (12). Em viagem à Itália para a disputa da Scopigno Cup, a delegação Sub-17 do Palmeiras participou da tradicional audiência de Páscoa realizada pelo Pontífice na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Uma camisa personalizada do Verdão, com uma imagem do Papa à frente e o número 33 nas costas, foi entregue pelo clube e recebida com alegria pelo Chefe da Igreja Católica (DIVULGACAO) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Papa Francisco segura camisa do Palmeiras em viagem à Itália

    No apelo, a CNBB evocou Francisco para atacar a reforma previdenciária. "Fazemos nossas as palavras do papa: 'A vossa difícil tarefa é contribuir a fim de que não faltem as subvenções indispensáveis para a subsistência dos trabalhadores desempregados e das suas famílias. [...] Não falte o direito à aposentadoria, e sublinho: o direito –a aposentadoria é um direito!– porque disto é que se trata."

    Em sua mensagem ao governo brasileiro, o pontífice afirma que a instabilidade no país "não é de simples solução, uma vez que tem raízes sócio-político-econômicas, e não corresponde à Igreja nem ao papa dar uma receita concreta para resolver algo tão complexo". Trechos do texto foram adiantados pelo site "G1".

    Continua o papa: "Porém, não posso deixar de pensar em tantas pessoas, sobretudo nos mais pobres, que muitas vezes se veem completamente abandonados e costumam ser aqueles que pagam o preço mais amargo e dilacerante de algumas soluções fáceis e superficiais para crises que vão muito além da esfera meramente financeira".

    Segundo o Planalto, Temer ainda era vice-presidente de Dilma Rousseff quando a presidente fez o primeiro convite a Francisco.

    Era 2013, e o Rio abrigava a Jornada Mundial da Juventude, evento católico que reuniu 3,5 milhões de pessoas.

    O papa veio e, em sua despedida do Rio, Temer discursou: "Vossa Santidade disse que Deus é brasileiro. Pois eu digo que nesta semana a sua presença fez do Brasil um paraíso permanente. [...] Com toda informalidade, mas com todo respeito, eu quero dizer-lhe: boa viagem, papa Francisco! Volte logo!".

    Na sua hora de dizer adeus em Aparecida (SP), o papa prometeu: teria volta. "Peço um favor. Com jeitinho. Rezem por mim. Eu preciso. Que Deus os abençoe. E até 2017, quando voltarei."

    A ocasião: o aniversário de 300 anos de Nossa Senhora Aparecida –o encontro da imagem da santa por pescadores ocorreu em 1717, no rio Paraíba do Sul.

    No fim de 2016, com o impeachment de Dilma já selado, o novo presidente brasileiro reiterou formalmente o convite "numa longa correspondência em que falava do novo momento brasileiro", segundo a assessoria de imprensa do Planalto.

    Nesta semana, chegou a negativa, justificada com problemas de agenda.

    Questionada pela Folha, a assessoria do presidente disse, por telefone, que a recusa já fora informada em 2013, embora na data o papa tivesse anunciado publicamente sua intenção de retornar em 2017.

    Num segundo contato, por e-mail, o Planalto afirmou que, com sua carta, "o papa lembrou o que já tinha sido divulgado pela CNBB em outubro de 2016". Enviou o link para uma entrevista que o vice-presidente da entidade católica, dom Murilo Krieger, arcebispo de Salvador (BA), deu à redação em Roma da Canção Nova, comunidade católica.

    Dom Murilo disse então que Francisco "não poderia ir à Aparecida em 2017, porque indo a Aparecida teria que ir a Argentina, Chile e Uruguai, e não haveria condições", por já ter compromissos com o bispado.

    Em nota oficial, o Vaticano disse que "a missiva não foi publicada por ter caráter privado". O papa, continua o texto, encoraja o mandatário brasileiro a "trabalhar pelos mais pobres".

    "Ademais, como o próprio presidente Temer em sua carta fazia referência a seu compromisso no combate aos problemas sociais do país, o papa ressalta tal aspecto e encoraja a trabalhar pela promoção dos mais pobres", diz o comunicado do departamento de imprensa da Santa Sé.

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