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    Lava Jato

    João Santana e Mônica Moura dizem ter recebido caixa 2 em campanhas do PT

    JOSÉ MARQUES
    DE CURITIBA

    18/04/2017 19h17 - Atualizado às 20h55

    Heuler Andrey -23.fev.2016/Folhapress
    CURITIBA,PR, BRASIL, 23.02.2016 - CHEGADA DE JOAO SANTANA NO PR: Monica Moura, esposa de Joao Santana preso na 23 fase da Operacao Lava-Jato denominada de Acaraje chega no IML em Curitiba-PR para realizar exame do corpo de delito. Foto: Heuler Andrey/FolhaPress PODER ***Exclusivo*** - Mônica Moura
    A marqueteira Mônica Moura, presa na Operação Lava Jato

    Os marqueteiros João Santana e Mônica Moura afirmaram em depoimento ao juiz Sergio Moro nesta terça-feira (18) que receberam recursos de caixa dois da Odebrecht nas campanhas de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva.

    "A relação da minha empresa com o grupo Odebrecht foi aberta durante a campanha de reeleição do presidente Lula. Na época, o ministro Antônio Palocci -que não era mais ministro– fez esse contato e uma parte do pagamento dessa campanha foi feita através da Odebrecht", afirmou Santana.

    Mônica Moura, mulher de Santana e responsável pela parte financeira da empresa de publicidade dos dois, a Pólis Propaganda, não detalhou quanto foi pago em caixa dois em todos os casos, mas disse que "em todas as campanhas sempre trabalhamos com caixa dois, recursos não contabilizados".

    Segundo ela, foram pagos cerca de R$ 10 milhões em conta no exterior pela campanha presidencial de Dilma em 2011 e também outros valores, que a marqueteira não soube precisar, em dinheiro.

    "Não acredito que exista um marqueteiro no Brasil fazendo campanha com caixa um. Todos [trabalham] com caixa dois. Era uma exigência dos partidos", afirmou.

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    A Odebrecht, de acordo com ela, também fez pagamento de R$ 18 milhões para as campanhas das senadoras Marta Suplicy (então PT, hoje PMDB) à Prefeitura de São Paulo e Gleisi Hoffmann (PT) à Prefeitura de Curitiba, em 2008.

    Em 2012, Santana e Moura disseram ter recebido dinheiro da empreiteira pelas campanhas à prefeitura de Fernando Haddad (PT) em São Paulo e do deputado Patrus Ananias (PT), em Belo Horizonte.]

    "Posso lhe dizer com segurança que todos eles [os candidatos] sabiam dos valores exatos e de quanto estavam nos pagando e de quanto era o pagamento", afirmou Mônica Moura.

    De acordo com a marqueteira, o ex-ministro Antônio Palocci era quem negociava no PT os recursos não contabilizados entre 2006 e 2012. Depois, quem assumiu o posto foi o ex-tesoureiro da legenda, João Vaccari Neto.

    A Pólis ainda recebeu dinheiro em caixa dois da Odebrecht em campanhas no exterior, segundo os dois. Uma delas é a do ex-presidente de El Salvador, Mauricio Funes, em 2009.

    A campanha, segundo ambos, foi feita a pedido de Lula para que um candidato de esquerda ganhasse no país e o PT assegurou que os custos seriam pagos pela Odebrecht.

    Eles ainda disseram que a empreiteira pagou caixa dois na campanha de Hugo Chávez, na Venezuela, em 2012.

    João Santana e Mônica Moura depuseram durante cerca de duas horas em ação contra Palocci, na sede da Justiça Federal em Curitiba. Saíram por volta das 18h, sob protesto de grupos de pessoas acampadas em frente ao prédio.

    O casal já fechou um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, homologado no último dia 4 pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

    Eles foram presos em fevereiro de 2016, na 23ª fase da Operação Lava Jato, suspeitos de receber da Odebrecht e do lobista Zwi Skornicki dinheiro desviado da Petrobras.

    Apesar da defesa de ambos ter solicitado que o depoimento a Moro ficasse sob sigilo, o juiz decidiu que eles deveriam ficar públicos.

    CÚMPLICE

    No final de sua fala, João Santana afirmou que errou e "construiu um equívoco" para si próprio ao perceber que "estava sendo cúmplice de um sistema eleitoral negativo e corrupto" quando recebia caixa dois.

    Segundo ele, os financiadores de campanha diziam que não pagariam os serviços dos marqueteiros se não fossem usados recursos não contabilizados.

    "Não estou aqui dizendo demagogicamente que sou vítima e que não tenho culpa disso. Eu fui agente disso", afirmou.

    "Acho que é um momento dos próprios marqueteiros abrirem os olhos sobre isso e da política também."

    OUTRO LADO

    Luiz Flávio Borges D'Urso, advogado de Vaccari, afirmou que "trata-se de informação que não é verdadeira, destituída de prova que pudesse confirmá-la".

    A senadora Gleisi Hoffmann afirmou, em nota, que todos os valores de doações constam das prestações de contas aprovadas pelo TRE. "Reitero que não solicitei contribuição para as minhas campanhas aos executivos da Odebrecht e nem que solicitei que pagassem contas da campanha citada."

    O deputado Patrus Ananias afirmou que é contra o financiamento empresarial a partidos e a campanhas eleitorais. Em nota, diz ainda que "a arrecadação e a gestão financeira da campanha de 2012 estiveram sob inteira responsabilidade das instâncias partidárias".

    O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) afirmou, por meio de nota, que "todos os recursos recebidos na campanha de 2012 foram devidamente contabilizados e informados ao TRE". Ele diz ainda que "Mônica Moura jamais cobrou da campanha qualquer valor que não estivesse no contrato".

    "Cabe esclarecer que a Odebrecht na gestão Haddad teve todos os seus interesses contrariados, sobretudo aqueles relacionados a construção do túnel da avenida Roberto Marinho e da Arena Corinthians."

    Procurada pela Folha, a ex-presidente Dilma afirmou que não irá comentar.

    A senadora Marta Suplicy afirmou em nota que nunca pediu ou autorizou "qualquer pessoa a solicitar doação para as minhas campanhas fora do que determina a legislação eleitoral. Jamais tive qualquer relação com a empresa Odebrecht. A esse respeito, aliás, Benedito Junior, ex-presidente da Odebrecht, diz textualmente: 'Marta Suplicy nunca chegou a beneficiar a Odebrecht.' "

    Os demais mencionados por Mônica Moura não responderam à reportagem até a publicação.

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