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    De mudança, bisneto de princesa Isabel leiloa itens da família imperial

    LUIZA FRANCO
    DO RIO

    19/04/2017 02h00

    O bisneto da princesa Isabel quer se livrar de tralha. Só que tralha, no caso dele, são itens como o cardápio do baile da Ilha Fiscal, a derradeira festa da monarquia antes da Proclamação da República; uma coroa do seu bisavô, o conde d'Eu; e louças da dinastia Qing (1644-1911).

    De mudança do Palácio Grão-Pará, em Petrópolis (RJ), para um apartamento em Itaipava, dom Pedro de Alcântara Carlos João Lourenço Miguel Rafael Gabriel Gonzaga de Bourbon de Orléans e Bragança, o último integrante da família imperial a viver no palácio, decidiu leiloar objetos que herdou de seus antepassados.

    O leilão da coleção, batizada de "Pequenos Guardados", será nas próximas quarta (19) e quinta-feira (20), num antiquário em Copacabana, no Rio. Interessados também podem dar lances pela internet.

    São 395 lotes, que devem render, juntos, entre R$ 800 mil e R$ 1,2 milhão, estima um marchand. Os objetos e valores vão de uma saladeira em pedra-sabão com formato de pato, de lance mínimo de R$ 10 (já custava R$ 250 nesta terça), a serviços de jantar da Casa Imperial Brasileira, com lances mínimos de R$ 40 mil (ainda sem lances).

    Uma "tesoura de toilette" –o prosaico cortador de unha– usada por dom Pedro Gastão, neto de Isabel, saía por R$ 190 nesta terça.

    No meio disso há uma coroa que o conde d'Eu ganhou por atuação na Guerra do Marrocos (1859-1860); cardápio, xícaras e pires do baile da Ilha Fiscal; uma espécie de chicote de montaria que pertenceu a Isabel; litografias que retratam cenas do Brasil imperial, castiçais e garrafas.

    Peças importantes da coleção da família ficaram de fora, como os daguerreótipos dos Orléans e Bragança, pois são frequentemente emprestados para exposições.

    O perfil do potencial comprador dos objetos, dizem os marchands, vai de comerciantes de feiras de antiquários a grandes colecionadores.

    Um deles, Guto Pinto, 37, quer levar para casa objetos de prata, pelo valor e resistência, e "um objeto mais pessoal, mais íntimo", por "fetiche histórico" –não revela quais são por estratégia.

    "Ter esses objetos é uma forma de preservar nossa memória. Além disso, são investimentos seguros, terão valor sempre. É que nem camisa de futebol: a do Zico vai sempre valer mais que a do Zé da esquina. Não estamos falando de qualquer condezinho", diz.

    Não é a primeira vez que dom Pedro Carlos se desfaz de objetos da família. Em 2006, vendeu por R$ 500 mil ao Museu Imperial a pena de ouro que a princesa Isabel usou para assinar a Lei Áurea, que aboliu a escravidão em 1888.

    A reportagem procurou dom Pedro Carlos, mas os marchands envolvidos no leilão disseram que ele não quer dar entrevistas. "É um biólogo, um homem discreto", comenta o avaliador de obras de arte Miguel Felipe João.

    A casa que o descendente da princesa deixa para trás, o Palácio Grão-Pará, construído no século 19, foi moradia de pessoas que serviram a família imperial e a casa dos próprios, quando voltaram do exílio. Não está claro o que será feito dela na ausência de dom Pedro Carlos. Em 2015, seu quintal foi transformado em estacionamento.

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