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    Temer ignora proposta de gravar reuniões em gabinete presidencial

    GUSTAVO URIBE
    DANIEL CARVALHO
    DE BRASÍLIA

    20/04/2017 02h00

    Alan Marques/Folhapress
    O ex-ministro Geddel Vieira Lima, o presidente Michel Temer e o ex-ministro Marcelo Calero
    O ex-ministro Geddel Vieira Lima, o presidente Michel Temer e o ex-ministro Marcelo Calero

    O presidente Michel Temer não adotou medida de transparência proposta publicamente por ele mesmo de gravar as audiências promovidas no gabinete presidencial.

    A ideia foi sugerida em novembro durante discurso presidencial, como resposta à crise protagonizada pelos ex-ministros Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e Marcelo Calero (Cultura), que pediram demissão do governo federal dias antes.

    Segundo a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto, o presidente não está gravando as audiências porque o tema ainda está em análise no GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência e, por isso, ele não tomou uma decisão.

    Calero deixou o governo após acusar, em entrevista à Folha, Geddel de pressioná-lo a produzir parecer técnico para viabilizar empreendimento no qual o chefe da Secretaria de Governo tinha apartamento na Bahia. Geddel negou as acusações, mas a crise levou à sua demissão uma semana depois.

    Para provar a pressão, Calero gravou conversas com Geddel, com o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e com o próprio presidente, que chamou a iniciativa de "agressiva" e "clandestina".

    "Acho de uma indignidade absoluta alguém meter um gravador no bolso para gravar outrem, não é? Até dizem que isso já tem sido admitido, mas eu pessoalmente, não", disse Temer à época.

    Em entrevista dois dias depois da saída de Geddel, o presidente afirmou que considerava pedir ao GSI que gravasse as audiências no gabinete presidencial.

    "Estou pensando em pedir ao GSI que grave –e aí, publicamente, não é clandestinamente– as audiências do presidente. Para que todos possam dizer o que possam dizer, e que eu possa dizer aquilo que devo dizer."

    'LIMONADA'

    Na época, ele ressaltou que ainda avaliava a hipótese, mas que a ideia era arquivar as conversas por "20 ou 30 anos", realizando uma "depuração dos costumes" e fazendo de um limão uma "limonada institucional".

    "Eu, talvez, aproveitando essa gravação clandestina, ilógica, agressiva, desarrazoada, talvez deste limão nós façamos uma limonada institucional, fazendo com que as audiências públicas do presidente da República sejam todas gravadas", afirmou.

    No telefonema gravado por Calero, cujo áudio ele entregou à Polícia Federal, Temer disse ter sido "inconveniente" com o então ministro ao insistir para que ele permanecesse no cargo após o contratempo com Geddel.

    "Quero pedir minha demissão e quero que o senhor aceite, por gentileza, porque eu não me vejo mais com condições e espaço de estar no governo", afirmou Calero.

    "Se é sua decisão, tem que respeitar. Ontem, acho que até fui um pouco inconveniente, né? Insistindo muito para você para você permanecer. Confesso que não vejo razão pra isso, mas você terá as suas razões", respondeu Temer.

    Em dezembro, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse não ver indícios suficientes para pedir abertura de inquérito para investigar Temer e Padilha. As suspeitas contra Geddel foram remetidas para a Procuradoria da República no Distrito Federal.

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