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    'Tuitaços' e jovens evangelizadores impulsionam Bolsonaro nas redes

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    22/04/2017 02h00

    Ricardo Borges/Folhapress
    Rio de Janeiro, Rj, BRASIL. 10/03/2017; Retrato do deputado Jair Bolsonaro em clube de subtenentes e sargentos do exército na cidade do Rio de Janeiro. ( Foto: Ricardo Borges/Folhapress)
    Retrato do deputado Jair Bolsonaro em clube de subtenentes e sargentos do exército, no Rio

    "Digamos que as eleições fossem hoje. A gente sabe que Bolsonaro não teria espaço", prevê o universitário Raul Holderf, de 19 anos. "Não é de partido grande, não tem coligação, não tem tempo de rádio e TV. Nosso prazer é inverter isso, saber que o que acreditamos está ganhando voz."

    A um ano do calendário eleitoral, apoiadores de Jair Bolsonaro (PSC-RJ) já estão enfileirados para a disputa nas redes sociais. Com organização militar e vocação evangelizadora, organizam "tuitaços" (postagens em massa no Twitter) para promover o deputado federal –sobretudo quando o clima não o favorece.

    Em 7 de março, o Supremo Tribunal Federal manteve a ação contra o parlamentar por incitação ao estupro ao ofender a deputada Maria do Rosário. A tag #BolsonaroReidoMundo circulou por três dias —ficou 16 horas no topo no dia 8.

    De acordo com a ferramenta Trendinalia, Bolsonaro esteve 23 vezes nos trending topics do Brasil desde 1º de fevereiro. Nenhum dos cotados à Presidência chega a esse patamar, sobretudo com uma base organizada.

    Segundo Fabio Malini, coordenador do laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), as redes no Brasil, sobretudo o Twitter, se dividem em três grandes grupos.

    Bolsonaro é protagonista da extrema direita. Há o "grupo do Ministério Público", diz Malini, que defende as "Dez Medidas contra a Corrupção" e a Lava Jato, "com participação forte de procuradores como o [Deltan] Dallagnol". E a esquerda, em torno de Lula.

    Bolsonaro chegou a 9% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha, em dezembro.

    SEGURANÇA

    Raul Holderf comanda um dos principais grupos pró-Bolsonaro na rede, o @conexaopoIitica, com "viés cristão, conservador, de direita".

    O jovem é o criador do perfil, que administra com amigos de quatro Estados e tem 3.500 seguidores. Em cinco dias, publicaram 314 tuítes, retuitados 2.900 vezes e "curtidos" por 5.900 usuários.

    Malini, da Ufes, monitora Bolsonaro e outros políticos nas redes desde 2013. Coletou esses dados durante uma semana de fevereiro, a pedido da Folha: total de 54 mil tuítes.

    O quarteto do Conexão Política está na casa dos 20 anos. Por WhatsApp, planejam os tuitaços com uma semana de antecedência. Na véspera, publicam o horário e a "hashtag".

    Estudante de letras, Holderf mora em Abreu e Lima (PE) e conheceu Bolsonaro quando precisou fazer um trabalho de escola, em 2011, sobre políticos do Sudeste.

    O jovem é evangélico. Se identifica com as ideias sobre a segurança, como a defesa de que brasileiros possam andar armados, uma bandeira do ex-militar. "A casa onde eu moro foi assaltada cinco vezes no último ano", diz.

    São razões parecidas com a de seu colega Henrique Speck, 20, de Marechal Rondon (PR): "Vi uma declaração dele na TV, achei legal e fui buscar mais. Era sobre penas mais pesadas para bandidos. Hoje, os cidadãos de bem são reféns."

    Um dos usuários pró-Bolsonaro mais ativos atende por @SorataStandz. Misturando #SomosTodosBolsonaro com imagens de desenhos japoneses pornô, consegue fazer seis postagens em um só minuto.

    O ritmo sugere que o perfil seja um robô –como a maioria da rede em torno do deputado, estimam especialistas em marketing político digital.

    Indícios: o usuário é monotemático e publica em padrões sobreumanos. Segundo o Twitter, também "um grande número de respostas ou menções duplicadas" e "várias atualizações não relacionadas" a um tema.

    "Robôs criam a sensação de que todo mundo está falando uma coisa. É o que os políticos estão buscando", diz Fabrício Benvenuto, professor do curso de Ciências da Computação da UFMG.

    É impossível saber quem controla os autômatos. Podem ser "indivíduos, organizações e mesmo governos", diz Emilio Ferrara, pesquisador da Universidade da Califórnia –ele constatou que 1 em 5 postagens política nas eleições americanas vinha de robôs.

    Bolsonaro diz não ter relação com os tuitaços, mas os aprova. "A leitura que faço é a satisfação do dever cumprido", diz. Seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) cuida do Twitter –ele mesmo só trabalha "com o Facebook, apenas".

    Editoria de Arte/Folhapress
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