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    Comunidade vítima de chacina no MT sofre violência há 13 anos, diz igreja

    MARCELO TOLEDO
    DE RIBEIRÃO PRETO

    23/04/2017 15h44

    Divulgação
    Familiares de vítimas de chacina aguardam dentificação dos corpos em Colniza (MT)
    Familiares de vítimas de chacina aguardam dentificação dos corpos em Colniza (MT)

    As famílias que moram na gleba Taquaruçu do Norte, na área rural de Colniza (MT), sofrem violência desde 2004. É o que afirma a Prelazia de São Félix do Araguaia (MT), que publicou comunicado sobre a chacina que resultou em nove mortes na cidade, na última quarta-feira (19).

    No comunicado, os religiosos expressam "dor, indignação e solidariedade" com as vítimas do ataque. "As famílias de agricultores da gleba Taquaruçu vêm sofrendo violência desde o ano de 2004 [...] Em 2007, ao menos dez trabalhadores foram vítimas de tortura e cárcere privado e, neste mesmo ano, três agricultores foram assassinados", diz trecho.

    A chacina ocorreu no fim da tarde de quarta, segundo perícia. Todos os corpos, identificados neste sábado (22), estavam em estado de decomposição, de acordo com a Polícia Civil. Das nove vítimas, duas foram mortas com o uso de facão; as outras sete, com tiros de arma calibre 12.

    Ainda conforme a polícia, os nove homens foram amarrados e torturados antes de serem mortos.

    O comunicado ainda afirma que a violência dos últimos anos aponta para uma "perspectiva desoladora no campo": "Diversos políticos expõem abertamente seus discursos de ódio e incitação à violência contra as comunidades que lutam pelos seus direitos. Vivemos um clima de 'terra sem lei', uma verdadeira guerra civil em nosso país",

    Ainda de acordo com a prelazia, a região de Colniza abriga outros conflitos graves, como o da fazenda Magali (desde 2000), e o da gleba Terra Roxa (desde 2004).

    "Clamamos justiça e que os autores desses crimes sejam processados e punidos. A consequente impunidade no campo, fruto da omissão dos órgãos públicos, perpetua a violência", afirma a prelazia em outro trecho.

    VÍTIMAS

    Corpos das vítimas da chacina já foram liberados e estão sendo enterrados no decorrer deste domingo (23). Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública, foram identificados Izaul Brito dos Santos, 50, Ezequias Santos de Oliveira, 26, Samuel Antônio da Cunha, 23, Francisco Chaves da Silva, 56, Aldo Aparecido Carlini, 50, Edson Alves Antunes, 32, Valmir Rangeu do Nascimento, 55, e Sebastião Ferreira de Souza, 57 – era pastor da igreja Assembleia de Deus.

    A nona vítima ainda aguarda a chegada de prontuário civil do Instituto de Identificação de Maceió (AL).

    Colniza fica a 1.065 quilômetros de Cuiabá. Taquaruçu do Norte, por sua vez, fica a 250 quilômetros da zona urbana, percorridos em estrada de terra -parte desse trecho em mata fechada e com pontos quase intransitáveis, devido a atoleiros. Depois, ainda é preciso percorrer 15 quilômetros de barco ou 18 quilômetros a pé. Até mesmo o contato telefônico é muito restrito, conforme a polícia.

    Não há, segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública, pistas dos criminosos nem dos supostos mandantes da chacina. A hipótese de que conflitos agrários sejam a motivação é a principal levantada por familiares dos mortos.

    Uma equipe da DHPP (Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa), formada por um delegado, três investigadores e um escrivão, irá para a região de Colniza apurar o caso.

    Ao todo, segundo o Estado, 32 profissionais participam da investigação da chacina.

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