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    Presidenciável, Bolsonaro usa cota parlamentar em pré-campanha

    THAIS BILENKY
    DE SÃO PAULO

    24/04/2017 02h00

    Eraldo Peres - 19.abr.2017/Associated Press
    O deputado Jair Bolsonaro em cerimônia no colégio militar de Brasília
    O deputado Jair Bolsonaro em cerimônia no colégio militar de Brasília

    O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) tem usado sua cota parlamentar para custear viagens pelo país em que se apresenta como pré-candidato à Presidência em 2018.

    A cota reembolsa viagens e outras despesas do mandato. Nas regras de uso, a Câmara diz que "não serão permitidos gastos de caráter eleitoral".

    O conteúdo das falas de Bolsonaro, contudo, é explicitamente voltado à disputa de 2018, em que aparece com 9%, segundo mostrou o Datafolha em dezembro.

    Nos últimos cinco meses, ao menos seis viagens em que o deputado tratou publicamente de sua intenção de concorrer ao Planalto foram custeadas pela Câmara. Somam R$ 22 mil.

    Mesmo em cidades onde ele não deu palestras, um roteiro se repetiu: chegada no aeroporto recepcionado por uma claque aos gritos de "mito" e "Bolsonaro presidente".

    O deputado nega estar em campanha e atribui as viagens à participação na Comissão de Segurança Pública da Câmara –onde é suplente.

    AS VIAGENS DE BOLSONARO - Deputado usa a cota parlamentar para promover sua pré-campanha pelo país; valores em R$

    Em novembro, a Câmara gastou R$ 2.500 para Bolsonaro ir ao Recife, onde deu palestra na Associação Pernambucana dos Cabos e Soldados. Foi apresentado como "futuro presidente do Brasil, o nosso mito". Na ocasião, Bolsonaro disse que "vamos ganhar em 2018, porque somos a maioria no Brasil, homens de bem".

    Dias depois, ele viajou a Boa Vista (RR) por R$ 4.500, acompanhado de um assessor, cujas passagens, de R$ 4.000, também foram pagas com a cota parlamentar.

    Lá, deu entrevistas e uma palestra promovida pelos sindicatos dos policiais civis e o dos federais de Roraima. No aeroporto, falou da necessidade de controlar a entrada de venezuelanos no Estado.

    "Não estou em campanha, mas estou me preparando para, se o momento exigir, não ser mais um capitão, mas um soldado a serviço de vocês."

    Em dezembro, ele pôs na conta da Casa R$ 1.385 para ir a São Paulo dar uma entrevista ao programa "Pânico no Rádio", em que disse que "a minha ascensão é no vácuo político que está aparecendo". Era o encerramento da "semana dos presidenciáveis" do programa.

    Em janeiro, foi à formatura de soldados da PM em Belo Horizonte. As passagens de ida e volta saíram da cota parlamentar por R$ 715.

    No aeroporto, afirmou que "o Brasil tem jeito", só "precisa de um capitão". "Por coincidência eu sou capitão."

    Em fevereiro, Bolsonaro foi a Campina Grande e João Pessoa (PB). As passagens custaram R$ 1.700. O gabinete arcou também com a viagem de um acompanhante, de R$ 1.900.

    Em março, o deputado foi a São Paulo para encontrar um professor da Universidade Mackenzie especialista em grafeno, material constituído de carbono que faz parte de sua "plataforma" de inovação. As passagens custaram R$ 4.600, e a diária de hotel, R$ 280, pagos com a cota.

    OUTRO LADO

    Em nota, o chefe de gabinete de Jair Bolsonaro, Jorge Francisco, negou que o deputado esteja em campanha ou pré-campanha eleitoral "seja para qual cargo for".

    Ele disse que as despesas ressarcidas pela Câmara "foram realizadas em consonância com os preceitos legais e regimentais", "o que reforça a tese de que tais 'denúncias' somente têm o condão de tentar incluir o nome do deputado em atos supostamente escusos, diante da enxurrada de notícias de corrupção envolvendo outros políticos".

    "O que ocorre é que, por ser integrante da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, o deputado dispensa muita atenção aos assuntos relacionados", declarou.

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