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    Posseiro teme voltar a local da chacina no Mato Grosso

    FABIANO MAISONNAVE
    ENVIADO ESPECIAL A TAQUARUÇU DO NORTE (MT)

    30/04/2017 02h00 - Atualizado às 11h49

    Adriano Vizoni/Folhapress
    Casa de uma das vítimas da chacina que matou nove pessoas no interior do Mato Grosso
    Casa de uma das vítimas da chacina que matou nove pessoas no interior do Mato Grosso

    O local da chacina, em disputa entre posseiros e grileiros, é separada da agrovila pelo igarapé Pardo. Em dias secos, como o que a Folha esteve, é possível cruzá-lo a pé com a água na cintura. Mas basta uma chuva mais forte para deixá-lo intransponível.

    No dia seguinte à visita da reportagem, uma tempestade derrubou árvores sobre a estrada de 10 km entre a vila e o rio, que os posseiros percorrem em motos remendadas. Os peritos da Polícia Civil, de barco, levaram 3h para alcançar o mesmo ponto onde a Folha precisou de 1h.

    O rio que demarca o conflito também salvou vidas. Moradores relatam que, por causa do nível alto do Pardo, 11 posseiros desistiram de atravessá-lo. Segundo os moradores, os assassinos não pouparam ninguém que encontraram na área disputada.

    Nenhum morador permaneceu no palco da chacina. Nos locais onde foram achados os corpos, roupas ensanguentadas ainda exalavam forte cheiro.

    Um dos que escaparam foi o posseiro Abenis Pedro de Luna, 59. Com 101 hectares na área em disputa, ele costuma passar a maior parte do tempo ali, mas no dia do massacre estava na terra de um amigo.

    "Agradeço muito o Tonho aqui, porque senão hoje eu estava frito", diz Luna, que desde outubro de 2014 passou a morar na agrovila, depois que encapuzados incendiaram todos os barracos da linha (estrada) 15, que atravessa a área em litígio. Foi ao longo da via que ocorreram os assassinatos.

    Luna é um dos mais antigos de Taquaruçu do Norte. Chegou em 2011, depois de trabalhar anos em serrarias, o que lhe decepou um dedo e o impede de fechar uma das mãos. Filho de agricultores, separado e pai, disse que essa é a sua primeira terra, onde planta em cerca de 3 hectares –o restante é floresta.

    Um dos poucos posseiros ainda no local, disse que não sabe o que fará. "Quem vai lá agora? Eu não tenho coragem."

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