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    Chefe do 'setor de propina' da Odebrecht era próximo de artistas e políticos

    JOÃO PEDRO PITOMBO
    DE SALVADOR

    03/05/2017 02h00

    Pedro Ladeira-6.mar.2017/Folhapress
    Hilberto Mascarenhas chega ao TSE, em Brasília; ex-executivo da Odebrecht será ouvido na ação que investiga a chapa Dilma-Temer
    Hilberto Mascarenhas chega ao TSE para ser ouvido na ação que investiga a chapa Dilma-Temer

    Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho ou, simplesmente, Bel Silva. O mesmo homem que até há pouco tempo circulava sorridente pela alta sociedade baiana agora cumpre prisão domiciliar e coleciona desafetos.

    Figura central no sistema organizado para o pagamento de propinas e caixa dois da Odebrecht, Hilberto deu um dos depoimentos mais contundentes entre os 77 executivos da empresa que firmaram delação premiada.
    Como chefe do departamento de operações estruturadas, setor montado para operar pagamentos ilícitos, diz ter pago R$ 10,5 bilhões a políticos e empresários entre 2006 e 2014.

    Ao mesmo tempo em que operava pagamentos para todo o país a partir da sede da empresa em Salvador, era uma das figuras públicas mais conhecidas do grupo Odebrecht, com trânsito entre políticos, empresários e artistas.

    Com jeito expansivo e conversa fácil, tem personalidade oposta à do seu então chefe, Marcelo Odebrecht.

    Frequentava festas, jantares e camarotes de Carnaval. E ficou próximo de personalidades como o cantor Bell Marques (ex-Chiclete com Banana), o empresário e ex-senador ACM Júnior e o publicitário Nizan Guanaes. Este último compôs uma música em parceria com um dos filhos de Hilberto, cantor de axé.

    O que acontece após a 'lista de Fachin'?

    Nas férias, costumava viajar para Miami ou visitar uma ilha particular da família na Baía de Todos-os-Santos. Seu principal refúgio era uma fazenda na beira da represa do rio Paraguaçu, Recôncavo Baiano, onde tem uma criação de caprinos e costumava receber amigos.

    CENTROAVANTE

    As relações de Hilberto com a elite política e empresarial da Bahia vêm desde antes de trabalhar na Odebrecht. Quando jovem, ele frequentou o Clube Bahiano de Tênis, onde costumava jogar futebol com outros filhos de famílias ricas de Salvador.

    "Ele era bom jogador, um centroavante habilidoso", lembra o senador Otto Alencar (PSD), que diz não ter proximidade com o executivo desde a juventude.

    Entrou na Odebrecht como estagiário em meados dos anos 1970, mesma época em que o pai, Hilberto Silva, ocupou as presidências do Banco do Nordeste e do Baneb (Banco do Estado da Bahia).

    Em quase cinco décadas na empresa, se tornou um dos principais homens de confiança dos Odebrecht. Ocupou cargos de destaque na holding e fez parte do conselho da Braskem, braço petroquímico do grupo baiano.

    Ao mesmo tempo em que atuou como executivo do grupo, foi sócio da família Odebrecht no restaurante Baby Beef –churrascaria que durante anos foi reduto de almoços do então senador Antônio Carlos Magalhães, morto em 2007, com seus liderados políticos.

    Em 2006, foi designado por Marcelo Odebrecht para assumir o setor de operações estruturadas e comandar o esquema de distribuição de recursos ilegais da empresa.

    Ficou no cargo até o início de 2015, quando, com o recrudescimento da Lava Jato, teve que se aposentar. Acabou sendo preso em março de 2016.

    Depois de três meses na prisão, foi autorizado a cumprir prisão domiciliar por seu histórico de problemas de saúde. Em 2009, havia sido operado para retirar um tumor no cérebro e, três anos depois, voltou à sala de cirurgia para eliminar um hematoma no crânio.

    'ATÉ EM CABARÉ'

    Convertido em delator, Hilberto disse ter havido repasses a políticos "até em cabaré", expôs falhas de fiscalização no sistema bancário e criticou Marcelo Odebrecht, depois de contar que jogou um laptop no mar de Miami para destruir provas.

    "O Marcelo [Odebrecht] vivia enchendo o saco da gente para não ter nada guardado no nosso. Quando ele foi preso, no dele tinha tudo", afirmou.

    Políticos citados nos depoimentos de Hilberto apontam contradições no depoimento e afirmam que ele age por desespero.

    "Ele se contradiz. Mas não vou ficar condenando esses caras. Eles querem se livrar da prisão. Ele está doente também", disse Jaques Wagner (PT) em entrevista após Hilberto afirmar que mandou entregar recursos de caixa dois na casa da mãe do ex-governador baiano.

    Até o final deste ano, Hilberto deve mudar-se para a mesma rua onde mora Jaques Wagner: comprou um apartamento avaliado em R$ 7 milhões num edifício de luxo que está em fase final de construção em Salvador.

    Será vizinho do publicitário João Santana, delatado por ele, que também comprou um apartamento no mesmo prédio.

    Mas não será tão cedo que encontrará o ex-publicitário petista no elevador: ambos estarão cumprindo prisão domiciliar.

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