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    Lava Jato

    Cunha abriu editora de livros dois dias antes de ser preso

    RANIER BRAGON
    CAMILA MATTOSO
    DE BRASÍLIA

    07/05/2017 02h00

    Associated Press
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    O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, preso na Lava Jato

    Dois dias antes de ser preso, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) criou a "Eduardo Cunha Atividades Intelectuais", uma empresa cuja atividade principal é a "edição de livros", com capital de R$ 90 mil.
    Logo após ter seu mandato cassado, em setembro do ano passado, ele passou a conversar com editoras para negociar a publicação de um livro cuja promessa era "abalar a República".

    Ao assinar contrato com uma editora, o autor recebe normalmente 10% do valor arrecado com a venda de exemplares, além de uma entrada fixa. Já em uma produção própria, o escritor é responsável pelos custos, mas fica com o eventual lucro.

    A expectativa de Cunha –correligionário de Michel Temer e figura decisiva no impeachment de Dilma Rousseff– e de aliados era que o livro se tornasse best-seller.

    Segundo o registro da Receita Federal, a empresa está sediada no endereço do escritório do político no centro do Rio de Janeiro, no edifício De Paoli, 32º andar. De acordo com delatores da Odebrecht, o local serviu para o acerto de pagamento de propina de US$ 40 milhões ao PMDB, por um contrato internacional da Petrobras, em 2010.

    O combinado foi, depois, "abençoado" por Temer, à época candidato a vice na chapa de Dilma, ainda de acordo com a versão dos ex-executivos da empreiteira.

    Cunha foi preso no dia 19 de outubro do ano passado em Brasília, por decisão do juiz Sérgio Moro, que o condenou em março a mais de 15 anos de prisão –ele está atualmente recluso no Complexo Médico Penal do Paraná.

    A empresa criada pelo ex-deputado é do tipo Eireli (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada), uma categoria que permite a separação entre o patrimônio empresarial e privado. Segundo a Sebrae, caso o negócio contraia dívidas, apenas o patrimônio social da empresa será utilizado para quitá-las, exceto em casos de fraude.

    Aliados do ex-deputado procurados pela Folha disseram que não foram informados da nova empreitada.

    Dois dias antes de ser preso, mesma data que sua nova empresa foi registrada, o peemedebista se encontrou com o dono da editora Matrix, Paulo Tadeu, no aeroporto de Congonhas, para negociar termos de um contrato para a publicação do livro. Segundo o editor, havia poucos detalhes a serem resolvidos naquele momento.

    Cunha falou com pelo menos mais duas editoras.

    O proprietário da Matrix disse que o político nunca falou sobre a existência da Eduardo Cunha Atividades Intelectuais e que não acredita que ele publicaria um livro em uma editora própria. "Eu acho que ele não faria isso. Não teria sentido."

    O empresário afirmou, porém, que se surpreendeu com a "riqueza" de detalhes e conhecimento que Cunha tinha sobre o mercado editorial.

    Pedro Ivo, advogado de Cunha, diz que a empresa foi aberta para "administrar a publicação do livro".

    Segundo ele, "não haveria, então, qualquer impedimento no fato de a citada empresa negociar os direitos de venda do livro com editoras".

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