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    Lava Jato

    Lula repete gravata verde-amarela para ativar memória da 'bonança'

    PEDRO DINIZ
    COLUNISTA DA FOLHA

    10/05/2017 15h06

    Bruno Santos/Folhapress
    CURITIBA, PR, BRASIL, 10-05-2017: O ex-presidente Lula caminha com manifestantes até o prédio da Justiça federal, onde ele irá fazer seu depoimento. (Foto: Bruno Santos/ Folhapress) *** FSP-FOTO *** EXCLUSIVO FOLHA***
    Lula caminha com manifestantes até o prédio da Justiça Federal, para depoimento

    O uniforme dos manifestantes contrários ao governo de Dilma Rousseff (PT) era a camisa da seleção, uma forma de comunicar ao país que os atos transcendiam questões partidárias.

    A tática é a mesma do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que chegou a Curitiba na manhã desta quarta-feira (10) trajado com uma gravata listrada verde-amarela sobre fundo preto.

    Prestes a dar seu depoimento ao juiz Sérgio Moro, responsável por conduzir as investigações da Lava Jato, Lula aboliu o vermelho partidário de suas roupas de palanque e repetiu a gravata que usou em dois momentos marcantes da campanha do Rio para sediar a Olimpíada de 2016.

    A primeira foi em 2008, na abertura dos Jogos de Pequim, na China, e a outra em 2009, na votação que elegeu a capital fluminense como sede da Olimpíada, em Copenhague (Dinamarca). O traje que na época serviu como ferramenta publicitária, hoje é traço imagético do período de aparente bonança.

    Além de ativar a memória da conquista comemorada pelos brasileiros em um momento pré-crise, o truque de estilo também remete ao discurso de união por um "bem maior", a mesma estratégia visual adotada pela direita nas manifestações a favor do impeachment.

    Lula, ou quem quer que esteja por trás dos seus conjuntos, usou a tática da gravata afetiva em outros dois momentos recentes e cruciais do ponto de vista político.

    O primeiro foi em março de 2016, numa coletiva a jornalistas estrangeiros na qual criticou o "espetáculo" que acredita ter se tornado a Operação Lava Jato, comparando-a ao programa "Big Brother". Um ano depois, em março deste ano, voltou a usar o acessório na 10ª Vara Federal em Brasília, no depoimento de defesa do processo que o acusava de obstrução da Lava Jato.

    Fica claro, assim, o propósito de usar a gravata em momentos de comoção, quando já é esperado que o petista relembre seus feitos na Presidência e inflame o discurso de perseguição política. A imagem da bandeira brasileira presa ao pescoço só dá força à retórica.

    Na corrida eleitoral, que já começou para Lula, o acessório também tem conotação panfletária porque esteticamente remete a um faixa presidencial.

    A incógnita, porém, é se o item foi plantado por um assessor de estilo ou se é escolha inconsciente de alguém que, mesmo distante do Planalto, nunca se desprendeu realmente dele.

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