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    Lava Jato

    Wagner afirma que 'alguém' do seu governo negociou com Odebrecht

    JOÃO PEDRO PITOMBO
    DE SALVADOR

    10/05/2017 17h00

    O ex-governador da Bahia Jaques Wagner (PT) afirmou em entrevista a uma rádio baiana que "alguém" do seu governo tentou acertar propina com Odebrecht na construção da Via Expressa, maior obra executada em sua gestão que acabou sendo tocada pela OAS.

    Segundo Wagner, ele soube por Cláudio Melo, ex-diretor de relações institucionais da empreiteira, que "alguém [do seu governo] tentou dar uma acertada" e "ia receber uma bola [propina]" pela obra. Mas que teria desautorizado a negociação.

    "Pergunta à Odebrecht e a Cláudio Melo por que ele não pegou a obra da Via Expressa. Ele não pegou porque alguém do meu governo, que não me interessa falar, parece que já tinha vendido a ele a obra na contrapartida de alguma grana. E eu digo [disse]: 'se você pagou adiantado, pagou mal pago, porque aqui vai ter licitação'", afirmou Wagner ao programa Se Liga Bocão, da Itapoan FM.

    Orçada em R$ 480 milhões e custeada com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a Via Expressa é uma avenida que liga o porto de Salvador com a BR-324, principal saída rodoviária de Salvador.

    Pedro Ladeira - 29.dez.2015/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 29-12-2015, 12h00: O ministro chefe da casa civil Jaques Wagner durante entrevista exclusiva em seu gabinete, no Palácio do Planalto. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER) ***ESPECIAL*** ***EXCLUSIVO***
    O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, em seu gabinete

    A obra foi iniciada em 2008 após a licitação ter sido vencida pela empreiteira OAS, com deságio de 18%, e inaugurada em novembro de 2013.

    Perguntado pelos jornalistas sobre quem seria a pessoa havia negociado propina com a Odebrecht, Wagner não quis dar o nome e se limitou a afirmar que a pessoa não faz parte da atual gestão do governo da Bahia, comandado por seu aliado Rui Costa (PT).

    Também questionado sobre se havia o demitido ou punido, Wagner afirmou que "não teve nenhuma corrupção feita" porque o funcionário "não recebeu" propina da Odebrecht.

    "Ele não aprontou porque eu não deixava. Eu sempre cortei as asas", afirmou Wagner, que atualmente ocupa o cargo de secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia.

    O projeto da Via Expressa, que havia sido preparado pela gestão anterior, inicialmente esteve sob a alçada da secretaria de Infraestrutura, gerida por Antônio Batista Neves (PMDB), aliado do então ministro Geddel Vieira Lima (PMDB).

    Contudo, em decreto assinado por Jaques Wagner em maio de 2008, o projeto transferido para a Secretaria de Desenvolvimento Urbano, na época comandada pelo hoje deputado federal Afonso Florence (PT).

    No decreto, ficou definido que a licitação da obra seria feita pela estatal Conder (Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia), então comandada por Maria Del Carmen (PT), hoje deputada estadual.

    À Conder, cabeira "contratar as obras, serviços e bens necessários, assim como realizar projetos e demais atos para implantação da via".

    A Folha apurou que a transferência do projeto de uma secretaria comandada pelo PMDB para outra comandada pelo PT foi motivo de rusgas entre Wagner e Geddel, que acabariam rompendo em 2009.

    Na época, o então secretário Batista Neves afirmou em entrevista à imprensa baiana considerar "um erro" deixar ser executada pela Conder, que não teria "tradição" em obras de grande complexidade.

    OUTRO LADO

    O ex-secretário de Desenvolvimento Urbano, Afonso Florence, disse desconhecer qualquer irregularidade envolvendo a obra, mas lembrou que esta inicialmente estava sob a alçada da secretaria de Infraestrutura, comandada por Batista Neves (PMDB).

    O ex-secretário de Infraestrutura, Batista Neves, disse que atuou apenas no planejamento orçamentário e que a responsável pela obra foi a Secretaria de Desenvolvimento Urbano, então ocupada por Florence.

    A ex-presidente da Conder, deputada Maria Del Carmen, afirma que a Via Expressa foi licitada e todo o processo aconteceu de acordo com a lei. Também diz que nunca soube de nenhum pedido de propina relacionado à obra.

    A Folha entrou em contato com a assessoria de imprensa de Jaques Wagner e mandou questionamentos sobre quem seria o funcionário que teria negociado propina e por quais motivos ele não adotou medidas administrativas ou legais para apurar o caso. Não houve resposta até o fechamento da matéria.

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