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Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana, deixa PF em Curitiba (PR) em agosto de 2016 |
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Poder
Friday, 22-Nov-2024 12:27:52 -03Campanha de Lula teve dinheiro pago em caixas de sapato, diz delatora
CAMILA MATTOSO
BELA MEGALE
RUBENS VALENTE
LETÍCIA CASADO
DE BRASÍLIA11/05/2017 15h55
A mulher do marqueteiro João Santana, Mônica Moura, contou em seu acordo de delação premiada que recebeu cerca de R$ 5 milhões em espécie em caixas de sapato e de roupas em uma loja de chá do Shopping Iguatemi, em São Paulo.
Os pagamentos, segundo ela, eram referentes aos serviços prestados por Santana à campanha de reeleição do ex-presidente Lula, em 2006, e se estenderam pelo ano eleitoral e também por 2007. O teor da delação foi tornado público nesta quinta (11) pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal).
As entregas, segundo a delatora, foram operacionalizadas pelo ex-ministro Antonio Palocci e feitas por Juscelino Dourado, ex-chefe de gabinete do petista.
Mônica contou que os repasses ocorriam na casa de chá Tee Gschwendner, no Shopping Iguatemi e que viajava para São Paulo especialmente para pegar o montante.
"Dourado entregava sacolas com valores em dinheiro acondicionados em caixas de roupas, de sapatos, etc. Foram pagos desta maneira, de forma parcelada, cerca de R$ 5 milhões", diz o anexo que contém o relato de Mônica.
O dinheiro fazia parte dos cerca de R$ 10 milhões pagos por fora a Santana. Os outros R$ 5 milhões repassados de maneira ilícita, segundo Mônica, foram pagos pela Odebrecht na conta da offshore Shellbill também entre 2006 e 2007.
A mulher de Santana contou que, ao todo, foram pagos aproximadamente R$ 24 milhões ao casal, incluindo a parte que foi declarada.
FLAT PARA RECEBER DINHEIRO
Já na campanha de Marta Suplicy, na época filiada ao PT, para a prefeitura de São Paulo em 2008, Mônica contou que alugou um flat em Pinheiros, na capital paulista, somente para receber dinheiro em espécie.
"Saliente-se que o flat foi alugado apenas para receber os valores pagos de forma não oficial, diante da expressiva quantia paga em dinheiro. O aluguel durou três meses", diz o anexo da delação de Mônica.
Também houve entregas em dinheiro em locais públicos, segundo Mônica.
Ela relata que a campanha de Marta custou em torno de R$ 18 milhões, sendo que R$ 7,6 milhões foram pegos oficialmente.
OUTRO LADO
Procurada, a defesa de Lula disse desconhecer as declarações de Mônica Moura e que, " como foram prestadas em uma delação, elas nada provam".
"Delações são negociações que o Ministério Público Federal faz com pessoas que confessam a pratica de crimes e desejam sair da prisão ou obter outros benefícios", diz a nota enviada pelo advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin Martins.
Ele afirmou que a imprensa tem denunciado que a Força-Tarefa da Lava Jato passou a exigir referências a Lula como condição para aceitar delações. "O assunto foi oficialmente levado ao Procurador-Geral da República para que seja investigado com isenção, mas até o momento desconhecemos qualquer providência nesse sentido."
Procurada, Marta disse estar "indignada".
"É uma mentira deslavada", respondeu a senadora, em nota enviada à imprensa. "[É] certamente motivada para envolver o maior número de pessoas com um único objetivo: ter o que barganhar para obter impunidade nos crimes em que são acusados. Jamais participei ou tive conhecimento de negociações ilegais. Minha conduta sempre foi e está baseada nos princípios éticos que norteiam toda a minha vida."
Advogado de Palocci, José Roberto Batocchio disse que a declaração de João Santana tem de ser recebida com "extrema reserva" porque é "fruto de uma compulsão psicológica".
"As pessoas têm sido encarceradas e submetidas a pressão psicológica de tal forma que para obter a liberdade tenham de fazer essas declarações."
Batocchio disse também que que seria "temerário fazer um pronunciamento assertivo" sem conhecer em minúcias o conteúdo da declaração.
"Não se conhece com precisão o exato teor dessa suposta delação. Independentemente disso, é certo que nessas 'delações à la carte' o cardápio que se apresenta para se oferecer liberdade é sempre o nome do ex-presidente e daquele que foi o principal ministro da economia do nosso país. É o preço que está sendo cobrado pela liberdade impune."
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