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    Lava Jato

    'Cobrei Dilma várias vezes', diz mulher de marqueteiro sobre dívida de caixa 2

    LETÍCIA CASADO
    CAMILA MATTOSO
    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    12/05/2017 16h45 - Atualizado às 17h50

    A mulher do marqueteiro João Santana, Mônica Moura, afirmou, em vídeo da delação premiada à Justiça, que cobrou diversas vezes pessoalmente a então presidente Dilma Rousseff sobre o pagamento de R$ 25 milhões em caixa dois, mas ela pedia "paciência".

    Oficialmente, não havia dívida na campanha presidencial de 2014 de Dilma com Mônica e Santana, mas pelo acerto que, segundo Mônica, foi feito com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, um total de R$ 35 milhões seriam pagos em caixa dois. Desse total, a Odebrecht pagou em espécie R$ 10 milhões ao longo de 2014, em diversas entregas em São Paulo, mas ficaram faltando R$ 25 milhões.

    De acordo com a delatora, toda a campanha custaria R$ 105 milhões, dos quais R$ 70 milhões seriam em declaração registrada na Justiça Eleitoral. O valor foi acertado com Guido Mantega, indicado por Dilma, segundo Mônica, como o responsável para tratar do assunto na campanha de 2014.

    Mônica achava que o pagamento da dívida de R$ 25 milhões seria feito por remessas no exterior para a conta da firma offshore do casal Santana, a Shellbill Finance, como a Odebrecht já havia feito em outras campanhas eleitorais.

    Porém, com o avanço das investigações da Operação Lava Jato, os representantes da Odebrecht que cuidavam do tema da campanha presidencial, Fernando Migliaccio e Humberto Mascarenhas, passaram a dizer que não havia autorização para terminar os pagamentos.

    Diante do impasse, Mônica disse ter procurado a presidente Dilma em diversas ocasiões no Palácio do Alvorada, em Brasília. Os encontros ocorriam algumas vezes a pedido da presidente, outras vezes por iniciativa de Mônica.

    Paulo Lisboa - 01.ago.2016/Folhapress
    BRASIL,CURITIBA, PR, 01.08.2016 - 16:40h - LAVA JATO - O marqueteiro João Santana e a esposa Mônica Moura,presos na operação lava jato deixam sede da Policia Federal em Curitiba (PR) na tarde desta segunda-feira (01) após decisão do juiz federal Sérgio Moro. (Foto: Paulo Lisboa/Folhapress)
    A mulher do marqueteiro João Santana Monica Moura deixa unidade da PF em Curitiba

    "Eu procurei a Dilma. Eu estive várias vezes com a Dilma em 2015 por conta desse atraso. Eu ligava para Hilberto, ligava para Fernando. [...] 'Não, não está liberado ainda. Não tem autorização ainda. Deixa baixar a poeira'. Depois dei como perdido esse que seria o lucro dessa campanha", disse Mônica.

    Segundo a mulher de Santana, Dilma procurava acalmá-la diante das cobranças. "Ela me pedia paciência. Eles iam resolver. 'Você só tem que ter paciência, espera que eles vão resolver'", disse Mônica. Ela disse que nunca recebeu os R$ 25 milhões restantes.

    Apesar da dívida, o relacionamento de Dilma com o marqueteiro João Santana continuou bom, segundo Mônica. Eles não brigaram e Dilma, segundo Mônica, tinha grande confiança pelo marqueteiro, ao contrário do que teria com a maioria dos seus auxiliares.

    "O João ficou muito próximo da Dima e muito próximo do Lula depois das campanhas todas que fizemos juntos. Depois de 2010, que foi uma grande vitória, foi uma vitória expressiva e importante, eleger o 'poste Dilma', como todos diziam, a Dilma se apegou muito ao João", disse Mônica.

    "A Dilma não confia em ninguém. Ela tem um problema grave que ela não confia na capacidade de ninguém. Ela acha que todo mundo é burro, todo mundo é incapaz. Com o João, ao contrário, ela tinha uma confiança nele, na inteligência dele, na capacidade dele de pensar, então ela recorria sempre a ele, como ajuda mesmo", acrescentou a delatora.

    OUTRO LADO

    A ex-presidente Dilma Rousseff afirmou que os marqueteiros João Santana e Mônica Moura, que a acusaram de ter conhecimento do caixa dois da Odebrecht, "prestaram falso testemunho e faltaram com a verdade em seus depoimentos, provavelmente pressionados pelas ameaças dos investigadores".

    Em nota de sua assessoria de imprensa, a petista disse que "apesar de tudo, a presidente eleita acredita na Justiça e sabe que a verdade virá à tona e será restabelecida".

    A DELAÇÃO DO CASAL - Acusações de João Santana e Mônica Moura ao Ministério Público Federal

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