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    Lava Jato

    'Vocês conhecem a Odebrecht?', perguntou Palocci a Santana

    CAROLINA LINHARES
    DE BELO HORIZONTE

    12/05/2017 17h47

    O marqueteiro João Santana afirmou em sua delação premiada que o ex-ministro Antônio Palocci lhe disse, em 2006, que o pagamento de caixa dois pela Odebrecht era seguro, mas deveria ser feito em contas no exterior.

    Naquele ano, ser procurado para fazer a campanha de reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Santana afirmou que "era importante que não se repetisse o mesmo erro [do mensalão]", segundo seu relato.

    Ainda no primeiro turno, Santana diz que voltou "a frisar que fosse importante ser sem caixa dois a campanha. [...] Palocci insinuou um pouco as dificuldades, mas não de forma conclusiva".

    Em agosto ou setembro, segundo Santana, há uma "conversa decisiva" em que Palocci lhe diz que "a coisa realmente está pegando". "Os financiadores não querem fazer oficialmente, tem toda essa dificuldade do mensalão, há chance de ganhar no primeiro turno", argumentou Palocci de acordo com o delator.

    "Mas tem uma forma muito segura de vocês receberam o caixa dois. Vocês conhecem a Odebrecht?", perguntou Palocci a Santana, conforme o relato do marqueteiro. "E aí é que começa o acordo de caixa dois envolvendo a Odebrecht."

    Santana afirma ainda que Palocci lhe perguntou se ele tinha como receber o pagamento no exterior. E o marqueteiro respondeu que tinha conta na Suíça.

    Depois da conversa com o ex-ministro, Santana disse que se reuniu com o então presidente da Odebrecht, Pedro Novis, na presença de Palocci e de sua mulher, Mônica Moura, para formalizar o acerto.

    O marqueteiro diz que não sabe ao certo quanto cobrou pela campanha, mas que seria algo em torno de R$ 36 milhões. Mônica era quem gerenciava a contabilidade do casal.

    A DELAÇÃO DO CASAL - Acusações de João Santana e Mônica Moura ao Ministério Público Federal

    ATRASOS

    Santana afirma ainda que os pagamentos eram lentos e as dívidas se acumulavam. Ele diz que chegou a dar um "alerta vermelho" para Lula.

    "Teve dois momentos em que eu fiz pressão direta no presidente, mas não com detalhes. Dizendo 'olha está atrasado e nós não temos condições de continuar assim'."

    Santana afirma que, nessas ocasiões, Lula manifestou surpresa e disse que ia falar com Palocci. Depois disso, os pagamentos começaram a fluir, mas o marqueteiro diz não saber especificar se via caixa um ou caixa dois.

    Até aquele momento, Santana disse que havia entendido que a Odebrecht era um pagador exclusivo de campanha, "uma forma de contribuição de campanha". "Não imaginava jamais ser a estrutura que se revelou hoje", afirmou.

    Em 2008, ao ser chamado para as campanhas municipais de Marta Suplicy, então petista, e Gleisi Hoffmann (PT), Santana afirma entender que havia uma espécie de conta-corrente entre o PT e a Odebrecht —e que as dívidas com ele entravam nesse bolo. O marqueteiro afirmou que Lula e Dilma tinham conhecimento da conta.

    "As dívidas foram se acumulando e comecei ter medo do que iria acontecer muitos anos depois. Que ia chegar um ponto em que eu ia receber um tremendo de um cano. E foi o que terminou acontecendo em 2015 e 2016."

    Rodolfo Buhrer/Reuters
    O ex-ministro Antonio Palocci
    O ex-ministro Antonio Palocci

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