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    Lava Jato

    Mônica cria 'versão contraditória' para não ficar presa, diz Cardozo

    MARINA DIAS
    DE BRASÍLIA

    12/05/2017 23h46

    Alan Marques - 3.ago.2016/ Folhapress
    BRASÍLIA, DF, BRASIL, 03.08.2016. A comissão especial do Impeachment presidida pelo senador Raimundo Lira e relatada pelo senador Antônio Anastasia tem sessão para debater o relatório que pede o afatamento da presidente Dilma Rousseff do cargo.Advogado José Eduardo Cardozo participa da sessão. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODERR
    O ex-ministro José Eduardo Cardozo, que advogou para Dilma

    O ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo nega que tenha avisado a então presidente Dilma Rousseff com antecedência sobre a prisão dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura e que afirma que não tinha informações privilegiadas sobre a Lava Jato.

    Em entrevista à Folha nesta sexta-feira (12), Cardozo diz que a versão de Mônica, que diz ter sido avisada sobre o andamento das investigações por Dilma via e-mail cifrado, é "descabida, ridícula e contraditória".
    Segundo o ex-ministro, a mulher de João Santana "está desesperada" para tentar reduzir sua pena e para que "recursos fiquem em posse dela".

    *

    Folha - Mônica Moura disse que era avisada sobre o andamento da Lava Jato pela então presidente Dilma Rousseff, que recebia informações privilegiadas sobre a operação do sr. Isso é verdade?
    José Eduardo Cardozo - O ministro da Justiça é cientificado de uma operação no momento da deflagração, ou seja, na hora em que vai ser consumada a operação. Tirando a hipótese de outra providência que tem que ser tomada pelo ministro, funciona sempre assim para a proteção do sigilo e das autoridades. Essa é a regra. Quando o ministro é avisado, ele comunica a presidente da República.

    Que dia o sr. comunicou que a Dilma que João Santana e Mônica Moura seriam presos?
    No dia em que eles foram presos, em 22 de fevereiro [a prisão foi decretada em 22 de fevereiro de 2016, mas ambos foram presos no dia seguinte pois estavam fora do país]. De manhã cedo, não sei dizer o horário, o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, me avisou, como sempre faz em todas as operações.

    E, depois, o senhor avisou Dilma?
    Imediatamente avisei Dilma. Deve ter sido por telefone, pelo que me recordo.

    Qual foi a reação da então presidente?
    A presidente, em todas as operações, ouvia e dizia: "quando tiver acesso à decisão judicial, analise e venha falar comigo".

    O sr. nunca passou informações privilegiadas sobre a Lava Jato para Dilma?
    Só se pode passar o que se tem. Eu não tinha informações privilegiadas. A PF e o Ministério Público nunca me passaram nada com antecedência.

    O sr. sabia que Dilma e Mônica mantinham um e-mail para se comunicarem sobre a Lava Jato?
    Não só nunca soube disso, como acho absolutamente incompatível com a postura que a presidente Dilma Rousseff tinha em relação a essas questões. Quando eu avisava a presidente sobre operações, no dia da deflagração, ela não avisava ninguém, nem outros ministros.

    Mônica diz que João Santana foi avisado por telefone por Dilma sobre o mandado de prisão contra eles, que havia sido visto em cima de uma mesa.
    Isso chega a ser risível. A Mônica descreve um sistema sofisticado de e-mail, que não era nem transmitido, era salvo como rascunho, para não haver interceptação. Mesmo com essa margem de segurança, o e-mail era cifrado. Se tudo isso foi utilizado, como se explica que a presidente fale por telefone para dizer que foi visto uma mandado de prisão em cima da mesa? É incompatível, é ridículo. Você já imaginou um mandato em cima de uma mesa? Isso é altamente sigiloso.

    Mas esse raciocínio parte do pressuposto que o e-mail existe, ao contrário do que o sr. disse inicialmente.
    Parto do pressuposto que a versão dela é contraditória. Versão descabida, contraditória e ridícula.

    Ela precisa provar o que diz para ter a delação confirmada e apresentou prints dos e-mails.
    Os prints não significam absolutamente nada. Ela diz que copiou um e-mail para o word e registrou uma ata em cartório. O outro print é de uma mensagem que ela mesma escreveu. Entendo que ela está desesperada para tentar reduzir pena e ser livre e para que recursos fiquem em posse dela.

    Dilma já pediu que o sr. repassasse a ela informações privilegiadas sobre a Lava Jato?
    Nunca me pediu nenhum informação sigilosa. Essa era a grande crítica que eu sofria na imprensa: o descontrole da PF. Eu sempre lia que "o Cardozo era o último a saber".

    O sr. não soube com antecedência da prisão de João Santana e Mônica Moura?
    Desde que a Folha publicou uma matéria sobre a Lava Jato estar se aproximando de João Santana e o advogado dele pediu acesso ao inquérito, o que foi negado pelo juiz Sergio Moro, havia especulação de que ele seria preso. Todos os jornalistas passaram a me perguntar. Era voz corrente. Qual a lógica de se mandar uma mensagem cifrada para alertar de uma prisão?

    Mônica está inventando?
    As pessoas desesperadas criam situações. Como vai se provar que isso aconteceu? Nunca. É a palavra de um contra o outro. A não ser pela contradição. Mais uma delação em que uma pessoa, possivelmente em desespero, cria hipóteses para ter algo de novo e negociar a delação. É grotesco.

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